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sábado, 1 de outubro de 2011

Compra de bens e imóveis da Busscar é meta para expansão do segmento rodoviário da Caio

Negócio é analisado pela Justiça do Trabalho de Joinville. Encarroçadora paulista que é líder no segmento de urbanos, quer destaque em ônibus rodoviários

ADAMO BAZANI – CBN



“A Caio – Induscar está iniciando uma nova caminhada, que não vai ser curta, mas vai valer a pena e vai representar ganhos gerais se tivermos o êxito que esperamos”. É com otimismo sem perder no entanto a noção da realidade e das dificuldades que podem aparecer que o diretor – industrial da Caio Induscar, Maurício Lourenço da Cunha, analisa a oferta da empresa para a compra do parque fabril (móveis, máquinas e equipamentos) e do imóvel principal da encarroçadora Busscar, de Joinville, em Santa Catarina.

Maurício atendeu ao BLOG PONTO DE ÔNIBUS na tarde desta terça-feira, dia 27 de setembro de 2011. O executivo afirmou que o momento da economia brasileira é favorável para todos os setores, inclusive de produção e operação de ônibus. A Caio Induscar, segundo ele, não quer e nem pode perder este momento. Por isso, possui significativos planos de expansão. Entre eles, de ampliar a capacidade de produção e a atuação no mercado.

“Nossas instalações em Botucatu (interior de São Paulo) estão perto do limite. Há 10s anos e meio, quando a Induscar começou a assumir a Caio, foram realizados constantes investimentos para crescer, o que vem dando certo. Há três anos, ampliamos nossa capacidade produtiva em 50%. Isso significa um aumento de 25 para 38 unidades (de carrocerias de ônibus) por dia” – disse Maurício Lourenço da Cunha ao BLOG PONTO DE ÔNIBUS.

A modernização da planta de Botucatu é responsável pela otimização da produção. Ganha-se tempo e também a possibilidade de fazer mais ônibus. O objetivo é passar de duas linhas de produção, um para rodoviário e outra para urbano, para quatro linhas de montagem: uma de rodoviários e três de urbanos.
Apesar destes ganhos, o que a Caio precisa mesmo é de mais espaço para produzir. Espaço que proporcione além de otimização, ganho real no volume de produção.

Além disso, a empresa pertencente ao Grupo Ruas, de José Ruas Vaz, um dos maiores frotistas de ônibus do País, tem mais um propósito definido: se firmar no segmento de ônibus rodoviários.
E atualmente o que atende de melhor maneira essa aspiração da Caio Inducar está em Joinville, Santa Catarina.

“Hoje, nossos planos de crescimento de volume de produção e maior participação no setor rodoviário passa exatamente por essa possibilidade de negócio: a compra do parque fabril, das instalações e o aproveitamento da mão de obra qualificada da Busscar. Claro que teremos outras saídas, se eventualmente o negócio não der certo. Mas a Busscar tem uma estrutura boa, algumas coisas obviamente precisão ser modernizadas e há a necessidade de investimentos. Não se acha hoje mão de obra qualificada para ônibus, tanto é que boa parte dos trabalhadores da Busscar foi absorvida pelas montadoras e outras encarroçadoras” – declarou o diretor industrial da Caio Induscar, Maurício Lourenço da Cunha.

Ele fez uma análise da economia como um todo. Se o ritmo de crescimento continuar nesta média, o diretor prevê a criação de empregos formais, que representam maior necessidade por transporte.
Além disso, para se consolidar, o crescimento econômico precisa de investimentos. E para a realização destes investimentos, como as obras de infraestrutura, os transportes são essenciais.
“Precisamos estar preparados para atender a esta demanda maior” – disse Maurício.

UMA NOVA LINHA DE RODOVIÁRIOS:

A Caio Induscar lidera o segmento de ônibus urbanos. De janeiro a agosto de 2011, de acordo com dados da Fabus (Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus) foram produzidas 22 mil 502 carrocerias. Deste total, 12 mil 732 (56,58% do total produzido) foram ônibus urbanos. A Induscar foi responsável por 5 mil 693 ônibus urbanos. Marcopolo e Ciferal, que são do mesmo grupo, aparecem em segundo lugar com 593 e 3834, somando 4 mil 427 unidades urbanas. O número não contabiliza micro-ônibus
Em contrapartida, enquanto a Marcopolo lidera no segmento de rodoviários, com 2807 unidades, a Caio produziu entre janeiro e agosto de 2011, 97 ônibus deste segmento, ficando atrás de todas as outras concorrentes, além da Marcopolo, Comil, Neobus, Mascarello e Irizar (que tem a planta vizinha, em Botucatu). Com a compra do parque fabril e das instalações da Busscar, o objetivo é equilibrar o mercado de rodoviários.

A linha Giro (de modelos deste segmento da Caio Induscar) deve ter uma nova geração com o negócio. Mas os ônibus serão diferentes mesmo, mais modernos, com novas tecnologias e design inovador. Não está descartada a criação de novos modelos do segmento. O negócio deve trazer novidades também para o modelo Solar, de menor porte que o Giro, indicado para serviços rodoviários de pequena e média distância e fretamento.

UMA NOVA EMPRESA E VALORES:

O executivo diz que ainda não foi decidido se será criada uma nova marca caso o negócio seja aprovado pelo juiz da Quarta Vara da Justiça do Trabalho, Nivaldo Stankiewcz. A Busscar tem os bens bloqueados pela justiça trabalhista a pedido do Sindicato dos Mecânicos de Joinville por conta do atraso de salários, que já chega a 18 meses e de outros direitos dos funcionários.

“Mas com certeza, será uma nova empresa, independente e que vai atender às necessidades do mercado” – contou o diretor – industrial da Caio – Induscar, Maurício Lourenço da Cunha.
O que agradou o Sindicato dos Mecânicos de Joinville, nas palavras do presidente da entidade, João Bruggmann, ao BLOG PONTO DE ÔNIBUS, foi “a transparência com que a Caio Induscar colocou suas propostas e intenções”. CONFIRA A ENTREVISTA COMPLETA NO LINK http://blogpontodeonibus.wordpress.com/2011/09/27/busscar-entrevista-proposta-de-compra-da-caio-e-bem-vista-marca-da-busscar-pode-ser-negociada-em-outro-processo/

Na sexta-feira, dia 23 de setembro de 2011, quando a Caio Induscar protocolou na Justiça o interesse de comprar o parque fabril e o imóvel de 331 mil 735.92 metros quadrados, ofereceu R$ 40 milhões para os todos estes bens. De acordo com o Sindicato dos Mecânicos de Joinville, o parque e as instalações estariam avaliados em R$ 98 milhões. Maurício, no entanto, disse que o valor oferecido pela Caio Induscar é “o que consideramos mais justo e razoável”.

O executivo disse que não sabe de que forma este valor de R$ 90 milhões foi determinado. Ele não descarta negociações, assim como o Sindicato dos Mecânicos, que admite que alguns bens, principalmente ferramentas e maquinários antigos e que nem funcionam mais e com o passar do tempo perderam preço de mercado e estão superavaliados.

A EXPERIÊNCIA DE RECUPERAÇÕES:

Maurício Lourenço da Cunha é um homem de desafios. Há pouco mais de 10 anos, ele passou por situação semelhante, mas não idêntica, na recuperação de uma encarroçadora. A Induscar foi criada por Ruas e por outros parceiros de negócios para assumir a Caio.

A Companhia Americana Industrial de Ônibus, Caio, fundada em 19 de dezembro de 1945 por José Massa, no final dos anos de 1990 enfrentava sérias dificuldades, assim como a Busscar nos dias de hoje. E foi num dia 19 de dezembro, mesmo dia da fundação, que era decretada a falência da Caio, no ano de 2000, aos exatos 55 anos de empresa. No dia 21 de janeiro de 2001, a Induscar arrendou as instalações e a marca da Caio, recuperando a empresa.

“Foram dois contratos diferentes, o da marca e o das instalações, mas assinados no mesmo dia”- relembrou Maurício ao BLOG PONTO DE ÔNIBUS. Isso impediu que se prolongassem atrasos de pagamentos e o fim de uma das marcas mais tradicionais do mercado de ônibus.

E uma sexta-feira, dia 13 de março de 2009, foi considerado um dia de sorte para o setor. Por R$ 49 milhões, a Induscar arrematava definitivamente a fábrica e os bens em Botucatu, interior de São Paulo, e a marca Caio. A situação com a Busscar é diferente e igual ao mesmo tempo, por mais contraditória que possa parecer a frase deste jornalista.

Igual porque trata-se de um possível negócio de recuperação de um parque fabril produtor de ônibus e também da dignidade de trabalhadores do setor que precisam se manter empregados e terem o reconhecimento de seus esforços garantidos. No entanto, a Busscar não entrou em falência. A família Nielson, controladora da empresa, se nega a fechar a companhia e até o momento não deu sinais concretos de se associar com outros grupos. Mas os atrasos de salários e direitos trabalhistas, assim como de compromissos com fornecedores e bancos, continuavam.

A Justiça então decretou o bloqueio de bens da empresa. Todo patrimônio que for vendido por leilão ou por venda direta vai para uma conta da Justiça do Trabalho. A marca não entra na negociação. O Sindicato dos Mecânicos de Joinville deve pedir judicialmente a indisponibilidade da marca.
Apesar das diferenças, o espírito de desafio e a garra para a recuperação são os mesmos.

E ao BLOG PONTO DE ÔNIBUS, o diretor – industrial da Caio Induscar, Maurício Lourenço da Cunha, disse que e experiência de 10 anos e meio da recuperação da Caio será essencial para uma nova fase dos funcionários e planta da Busscar e para a ampliação dos negócios da empresa de Botucatu – São Paulo.

“Temos experiência de desafio. Um dos pontos é não olhar a empresa que vai ser adquirida apenas como ela sempre foi. Mas com uma nova visão e com humildade de perguntar, de entender e trabalhar com simplicidade” – complementa Maurício Lourenço da Cunha.

A decisão do negócio cabe à Justiça que deve consultar a Busscar e o Sindicato dos Mecânicos de Joinville, mas a postura da Caio Induscar para a entidade de representação trabalhista já ficou para a história por ser a primeira proposta concreta para o fim da agonia de trabalhadores, mercado, empresas de ônibus até para os apaixonados por transportes.

Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.

Ônibus Brasil

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