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sábado, 26 de novembro de 2011

Comil se beneficia com licitações e com Campione

Participação da empresa subiu nos principais segmentos, destaque para a produção de rodoviários

Créditos: Adamo Bazani/Ônibus Brasil

Quando as famílias Corradi e Mascarello compraram por meio de leilão em 1985 a fábrica da Incasel, antiga encarroçadora de Erechim, no Grande do Sul, fizeram um negócio do risco. Suas instalações estavam desatualizadas e a produção praticamente parada. Os modelos de destaque eram o Minuano e o Cisne, que mais tinham vendido em suas épocas.

O risco valeu a pena. Pelo menos é o que demonstram os números da Fabus – Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus, que reúne as principais encarroçadoras. Em todo o ano de 1986, os Corradi e Mascarello fizeram 166 ônibus. Só no acumulado de janeiro a setembro de 2011, de acordo com a Fabus, a Comil produziu 2911 ônibus, o que representa uma fatia de 11,35% do mercado geral, que registrou um acumulado de 25.632 ônibus.

Deste total, a Comil respondeu até agora por 1 mil 126 urbanos, o que equivale a 7,72% dos 14 mil 578 urbanos feitos de janeiro a setembro. Destaque para a produção de rodoviários, no entanto: não em volume de veículos, mas em participação de mercado. São 850 Comil novos de janeiro a setembro rodando entre os 5 mil 531 rodoviários entregues pela indústria neste ano até setembro. A participação neste segmento é de 15,32%.

Os números revelam crescimento em relação ao ano passado, principalmente no ramo de rodoviários.
Em comparação ao período de janeiro a setembro de 2010, a indústria produziu 23 mil 549 ônibus, dos quais 2 mil 324 foram Comil, o que representa 9,86% dos ônibus produzidos no ano passado. Um crescimento geral da Comil, que hoje responde por 11,35% do mercado.

ÔNIBUS Incasel Cisne. Quando as famílias Corradi e Mascarello compraram, por leilão, as instalações e os equipamentos da Incasel, em 1985, assumiram um risco. A empresa vinha de uma situação complicada e o mercado de ônibus sofria oscilações. O primeiro ano da Comil representou a produção de 166 ônibus. Hoje os Mascarello possuem encarroçadora própria A Comil, dos 166 ônibus em um ano se transformou numa das responsáveis por considerável fatia do mercado. E o objetivo da empresa é crescer mais, inclusive almejando uma planta no Sudeste. Créditos: Ônibus Brasil


Por segmento, a encarroçadora que em 1987 construiu um outro parque fabril, mas também em Erechin, cresceu se forem comparados os períodos de janeiro a setembro de 2010 e de 2011. No ano passado, nestes meses foram feitos 13.774 urbanos, sendo que 1023 Comil, representando 7,42% do segmento. Já em 2011, no mesmo período a indústria fez 14 mil 578 ônibus para as cidades e com 1126 Comil, a encarroçadora de Erechim representou 7,72%. Em comparação aos dois anos, a participação no setor de urbanos ficou praticamente estável.

Mas em relação aos rodoviários, a participação aumentou: 13,71% de rodoviários para a Comil de janeiro a setembro de 2010 contra 15,36% no mesmo intervalo de tempo em 2011. Em números reais significa que dos 4 mil 643 ônibus de estrada feitos no período de 2010, 637 foram Comil.. No ano de 2011, dos 5 mil 531 rodoviários feitos pela indústria brasileira, 850 são Comil que rodam pelas estradas.

O momento é positivo para todas as encarroçadoras de ônibus, inclusive para a família Corradi. A família Mascarello saiu da sociedade da Comil em 2001 e mantém sua própria marca, que também registra crescimento.


Os motivos são os mais diversos que resultam de uma somatória de fatores positivos para a indústria de ônibus, dentre os quais se destacam:

- ANTECIPAÇÃO DA RENOVAÇÃO DAS FROTAS: A partir de janeiro de 2012 começam a vigorar as novas normas de redução de emissão de poluentes, na fase P 7 do Proconve _ Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores_ do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), baseadas nas normas adotadas pela Euro V na Europa. Os veículos a diesel para cumprirem as determinações serão dotados de maior tecnologia e vão custar entre 8% e 15% mais caros. Para se livrar deste aumento, muitos empresários preferiram antecipar as compras. Além disso, alguns modelos de ônibus vão precisar, para reduzir os poluentes, de um fluido que é injetado no sistema de escape do ônibus. O fluido, ARLA 32, Agente Redutor Líquido Automotivo, com 32% de uréia industrializada, terá um tanque especial no veículo que deve ser abastecido em média a cada cinco abastecimentos de diesel. Os produtores de motores e chassis e motores afirmam que pelas novas tecnologias, o consumo do diesel vai ser menor, o que vai acabar compensando o gasto a mais com o ARLA. Mas empresário de ônibus é receoso e prefere não arriscar, por isso antecipou as compras, o que tem agitado o mercado.

- APROXIMAÇÃO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS: Não é de hoje que a imagem de um administrador público está intimamente ligada com a qualidade dos transportes, mesmo que estes serviços sejam operados na maioria das vezes por empresas particulares. Essa aproximação de qualidade de transporte e imagem de poder público é maior ainda em eleições municipais, já que são as prefeituras as responsáveis pela concessão e gerenciamento da maioria dos serviços urbanos brasileiros. A noção de transporte metropolitano, entre cidades, e sua expansão, ainda são tímidas. Assim, sempre que as eleições se aproximam, é tendência os municípios estimularem ou obrigarem a renovação das frotas de ônibus urbanos. Perto de eleições também costumam ser realizadas mais licitações locais, o que contribui para o movimento de compra de ônibus.

- LICITAÇÃO DA ANTT: Está prevista para ser concretizada a maior licitação de linhas de ônibus da história dos transportes. A ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres –deve regularizar a situação de 1 mil 967 linhas de ônibus rodoviárias de caráter interestadual e internacional. É um universo de mais de 6 mil ônibus para a ANTT e mais de 10 mil ônibus para a Abrati – Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros. Apesar da divergência dos números, um dos motivos para o embate entre empresas de ônibus e Governo Federal, o fato é o seguinte: a licitação vai exigir renovação de frota: a idade máxima dos ônibus, com a adequação da licitação, deve ser de 10 anos e a média de 05 anos. Hoje os ônibus rodoviários têm idade média de 14 anos e há veículos que chegam ao extremo de terem quase 40 anos de estrada. Mesmo contestando outros pontos da licitação, como a taxa de ocupação, as grandes empresas se preparam e vão às compras também. Muitas em lotes que superam 200 veículos de uma só vez.

- COPA DO MUNDO E OLIMPÍADAS: Apesar de os eventos serem realizados somente em 2014 e 2016, eles já causam reflexos na indústria. As cidades se preparam com sistemas como BRT (corredores de ônibus rápidos, modernos e confortáveis), o que começa a ser sentido pelos produtores. Além dos BRTs, os próprios sistemas convencionais terão de ser renovados para as cidades não fazerem feio durante o mês que os olhos do mundo estarão voltados para o Brasil. Não bastasse o crescimento dos sistemas de urbanos, estes eventos devem aquecer o segmento de turismo e fretamento, o que não vai demandar apenas mais ônibus, mas ônibus mais modernos.
Assim, tanto em relação aos veículos urbanos como aos rodoviários, a indústria vai fazer mais ônibus e boa parte com maior valor agregado.

Acrescentam-se a estes fatores outros que a Comil diz ser específicos: o sucesso da nova linha do modelo Campione, o crescimento do setor de fretamento em algumas regiões e o as licitações locais.
A nova linha Campione foi lançada em 2010, com design renovado e novos materiais, mais leves, que garantem uma carroceria com peso menor e que force menos o chassi e o motor, aumentando a rentabilidade e diminuindo “o peso morto” do ônibus e o consumo de combustível.

O Campione renovado agradou sim o mercado, mas um fato não pode ser negado. A paralisação da Busscar, em crise desde 2008 com dívidas que, segundo o Sindicato dos Mecânicos de Joinville, se aproximam de R$ 1 bilhão, era responsável por importante parcela do mercado. Sua saída (não se sabe se temporária ou não) representou um importante espaço para crescimento das outras encarroçadoras.
Havia empresas de ônibus que há décadas, desde quando a Busscar se chamava Nielson (nome da família controladora) eram clientes fiéis da marca.

Elas tiveram de optar para outras fabricantes. A Caio se concentra mais no setor de urbanos e a produção da linha Giro é bem tímida. A Mascarello ainda não conseguiu o mesmo destaque em rodoviários que vem conquistando em urbanos e micros. A Irizar é exclusiva de rodoviários e registrou crescimento, mas seus veículos são de alto padrão, com preço maior. A Neobus também se concentra mais em ônibus urbanos, ainda mais agora sendo responsável pelo fornecimento de ônibus de alta capacidade para os corredores exclusivos BRT, como o NeoBus Mega BRT, sendo a versão biarticulada, o maior ônibus do mundo, com 28 metros de comprimento. A grande beneficiada foi a Marcopolo, principal concorrente da Busscar. A linha G 7 tem sido uma das mais bem sucedidas do mercado. Mas seu valor também não é pequeno. Assim, frente às filas de espera para a Marcopolo e a opção de produtos de qualidade só que mais baratos fez com que vários empresários buscassem na Comil uma alternativa.

Com o crescimento das atividades voltadas para o turismo e do emprego formal, o setor de fretamento em algumas regiões começou a registrar crescimento que refletiu na venda de ônibus e na necessidade não só da renovação, mas da expansão da frota. O Campione também atende a este segmento, com versões mais simples.

Outro destaque específico da Comil tem sido sua participação nas licitações que ocorrem em várias cidades, como em Manaus, que promete 878 ônibus novos, este ano, e do lote 01 do Consórcio Sorocaba, no Interior de São Paulo. Boa parte destes urbanos são Comil, do modelo Svelto. Há tam bem é a versão midi (um ônibus maior que um micro e menor que um convencional) do Svelto usada em linhas de menor demanda.

Ainda sem adiantar em que cidade e qual o tamanho do investimento, a Comil declarou que, sem aposentar Erechim, pretende, criar mais uma planta de produção, só que no Sudeste, onde o mercado é maior e também para melhor distribuir os produtos pelo País.

O crescimento da Comil representa luta, trabalho e a importância do setor de ônibus no contexto econômico, social e na vida de cada um dos milhões de brasileiros que usa ou não transportes todos os dias, mas que direta ou indiretamente se beneficia dele. Afinal, quem está dentro do carro, deve ter a consciência de que o ônibus ao seu lado retirou no mínimo outros 40 carros que poderiam estar disputando espaço com ele nas cada vez mais congestionadas e poluídas ruas e avenidas das cidades, independentemente de seu porte.

O ônibus chega a lugares que nem os mais modernos dos propagados sistemas de transportes conseguen chegar, indo inclusive em áreas onde a maior parte das pessoas não tem acesso a outra forma de transporte. Esta relevância do ônibus no contexto de ligar as pessoas que mais precisam aos seus lugares de trabalho e aos serviços de saúde educação e laser , ninguém vai tirar.

Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.

Ônibus Brasil

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