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sábado, 21 de janeiro de 2012

Ônibus é vítima da falta de prioridade ao transporte público

Meio é o que mais transporta pessoas no País e é o que menos recebe formas de priorização e políticas públicas para aumentar sua eficiência.

Ônibus presos em congestionamento no Rio de Janeiro. Cena é comum em diversas cidades brasileiras. Para o Ipea, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, mesmo sendo o meio que transporta mais gente no País, o ônibus é vítima da falta de prioridade, o que chega a ser uma injustiça.


Imagine quem ajuda a maior parte das pessoas, atende a um grande número de gente, está presente no dia a dia de boa parte da população, mas não recebe nenhuma força, nenhum incentivo, nenhum estímulo para isso. É justamente o que ocorre com os ônibus nos transportes urbanos brasileiros. Essa forma de transporte é responsável por atender mais de 80% das pessoas que usam os meios coletivos de deslocamento, mas é o que menos recebe estrutura, estímulos e prioridade.

Por conta disso, não é melhor avaliado pela população, o que mostra que o problema não é o transporte por ônibus, mas a falta de políticas públicas, tanto de mobilidade como de diminuição de custos, para os serviços deste tipo. A avaliação é do técnico de planejamento do Ipea – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, Ernesto Galindo. O Ipea divulgou uma segunda edição da Pesquisa Sobre Mobilidade Urbana, que ouviu a opinião de 3 mil 781 pessoas em 212 cidades de todas as regiões do País.

De acordo com a pesquisa, 41% dos brasileiros reprovam os transportes públicos. A nota para os serviços de ônibus só não foi maior porque não há condições ideais de os ônibus operarem com mais velocidade, cumprirem melhor os horários e serem mais confortáveis. “O ônibus passou de raspão na avaliação dos brasileiros, com média 5,6. Não porque o povo rejeite, mas porque ele é a maior vítima da falta de prioridade ao transporte público no País”, explicou Galindo à Agência Estado.

O que a população mais reivindica em relação aos transportes públicos é maior eficiência, mais velocidade e menores custos, de acordo com a pesquisa. Mas como oferecer isso? Não há segredo e nem são necessários grandes sacrifícios e recursos, diz o técnico. Basta os gestores públicos terem um pouco mais de ousadia na hora de dar prioridade aos transportes, privilegiando os meios coletivos, que são os que atendem mais pessoas ocupando menor espaço urbano e poluindo bem menos. Para os ônibus, segundo os estudos, ações simples podem melhorar os serviços que atendem a maior parcela da população.

- PRIORIDADE NO ESPAÇO URBANO: Isso é possível por meio de corredores exclusivos, como os do tipo BRT – Bus Rapid Transit, que separam os ônibus dos demais veículos e os livra dos congestionamentos. Os BRTs oferecem acessibilidade para os passageiros, não só os portadores de deficiência, mas também para os que possuam alguma dificuldade de locomoção que não é considerada deficiência propriamente dito. Isso porque as estações de embarque e desembarque são na mesma altura do assoalho dos ônibus, dispensando os degraus no veículo ou então os ônibus podem ser de piso baixo, no mesmo nível da guia da calçada. Além disso, com pavimento melhor nos corredores, os ônibus podem ter tecnologias mais avançadas, inclusive não poluentes, e itens de conforto que seriam impossíveis se o veículo tivesse de trafegar por uma via em mau estado, como ocorrem em praticamente todas as cidades brasileiras. Pelo fato de não ficarem presos no trânsito, os ônibus ganham em velocidade, podem ser maiores e atenderem mais gente ainda. E é maior velocidade que a população pede, de acordo com a pesquisa. Isso sem contar que menos ônibus podem fazer mais viagens, o que reduz os custos e pode representar tarifas menores no futuro e mais integrações. E o ponto interessante é que a pesquisa demonstra que a população quer corredores de ônibus, como revela o trecho divulgado pela Agência Estado.

“A maioria dos entrevistados respondeu que os ônibus são caros, em geral mal conservados e impontuais. Conforme a maioria dos entrevistados, eles demoram muito no percurso porque não há corredores exclusivos e disputam espaços com todo tipo de veículo, desde caminhões a motos e carros, no trânsito engarrafado das grandes cidades”.

Quando não é possível construir uma estrutura do tipo BRT, por questões de custos ou falta de espaço nas vias, pelo menos faixas preferenciais devem ser pensadas pelo poder público.

- DEMOCRATIZAÇÃO DOS CUSTOS DOS TRANSPORTES: Os transportes públicos não beneficiam apenas os passageiros, mas toda a sociedade, inclusive quem só anda de carro. Isso porque, na medida em que o transporte público pode tirar carros da rua, ele colabora para que o trânsito não piore e para a diminuição da poluição, dois problemas que afetam a economia, a qualidade de vida e a saúde de todos. Mas na maioria dos modelos de tarifas do País, só empresas de ônibus e passageiros arcam com os transportes, uma das explicações de as passagens serem consideradas altas. Se os transportes beneficiam a todos, nada mais justo que todos colaborarem. E isso pode se dar de diversas formas: por subsídios, por receitas advindas da fiscalização de trânsito, como multas, por exemplo, ou pela redução de alguns impostos sobre as atividades de transportes. Exatamente como a compra de carros e motos ganhou estímulos tributários no País.

Aliás, a questão de incentivo tributário é um dos motivos apontados pelo técnico de planejamento do Ipea, Ernesto Galindo, pelas pessoas preferirem carros e motos, que segundo ele, são responsáveis por problemas e acidentes no trânsito, que oneram os cofres públicos, inclusive da área da saúde.

A propaganda por trás dos carros também é forte, o que faz com que o meio de transporte individual não represente apenas conforto e rapidez, mas status. Isso é visto pelo especialista como um erro de política pública. “Se todos usarem automóvel, as cidades param, como já ocorre em várias delas”, afirmou o técnico em planejamento Ernesto Galindo, responsável pela divulgação da pesquisa.

Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.

Ônibus Brasil

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