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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Fotógrafo clica mulheres nos ônibus de Buenos Aires

 Créditos: Chicas Bondi/Tumblr

Se você atende aos padrões de beleza atuais (digamos que tem 20 e poucos anos, é magra, branca, tem cabelo preferencialmente liso e se veste de acordo com as revistas de moda) e circula de ônibus por Buenos Aires, atenção: você pode estar sendo observada por um fotógrafo à paisana.  Ele vai te achar bonita, te clicar com o celular sem que você perceba e subir a foto na página dele do Facebook, chamada “Chicas Bondi” (“bondi” é “busão” em espanhol), além de divulgá-la no tumblr  e no Twitter. Mais de 22 mil pessoas que curtem a página poderão ver a foto.

“Sem pose e sem autorização” é o mote do Chicas Bondi, onde também se lê que as fotos são “um ponto de vista alternativo sobre a mulher” e que o projeto “não têm nenhuma motivação ou finalidade sexual ou comercial”.  Além disso, as imagens são publicadas “sem retoques posteriores” .O dono (ou dona? ou donos?) da ideia prefere se manter anônimo porque diz que não quer ser reconhecido nos ônibus, o que prejudicaria seu trabalho.

O Chicas Bondi entrou no ar no final do ano passado. Em pouco tempo, explodiu em seguidores e admiradores. Havia garotas no Twitter avisando que iam se arrumar mais pra andar de ônibus dali em diante e caras dizendo que avistaram quem mereciam o posto de chica bondi em uma determinada linha. A galeria Espacio Estúdio resolveu fazer uma mostra com as fotos da página e o nome “chicas bondi” virou marca registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (estará o projeto querendo virar comercial no final das contas?).

Mas, apesar do entusiamo coletivo, começaram a pipocar também críticas à legalidade da ideia.  Fotografar uma pessoa em close, mesmo que ela esteja em público, fere seu direito de imagem? Teria o fotógrafo necessariamente que pedir autorização para publicar as fotos ou ele está amparado por fazer um trabalho artístico?

No último mês, o Centro de Proteção de Dados da Defensoria Pública de Buenos Aires abriu um ofício para investigar a questão. Ao mesmo tempo, a página recebeu uma enxurrada de críticas de representantes de organizações feministas – que acusam o projeto por objetificar a mulher e, em vez de ser um ponto de vista alternativo, como quer seu criador, perpetrar o mesmo padrão de beleza proposto pela cultura de massa. A iHollaback, sobre a qual falei nesta outra coluna, postou um manifesto contra o projeto em sua página oficial.

O responsável se defende em entrevistas dizendo que está protegido por lei por fazer um projeto artístico, no qual registra cenas que vê na rua, e que além disso não deixa de tirar do ar qualquer foto que incomode as personagens – e completa afirmando que até hoje foram poucas as incomodadas. Na imprensa argentina também se discute até que ponto, na era dos celulares com câmera e das redes sociais, a ideia que temos de privacidade ainda pode ser totalmente observada. São questões a se pensar.

Terra

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