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sábado, 22 de dezembro de 2012

Menos gente usa ônibus e trânsito e poluição pioram

Menos gente usa ônibus e trânsito e poluição pioram. Transporte coletivo não recebe a prioridade e os investimentos que necessita e frota de carro particular aumenta.

Créditos: Guto de Castro/Acervo

A falta de investimentos sérios e de prioridade nos transportes coletivos tem cada vez mais refletido negativamente na vida das pessoas. Pesquisa da NTU – Associação Nacional dos Transportes Urbanos, realizada em nove capitais, mostra que o número passageiros de ônibus tem caído de forma expressiva enquanto que no mesmo período a frota de carros de passeio tem subido.

Os resultados são: trânsito mais complicado pelo excessivo número de veículos nas ruas, espaço urbano mal utilizado, índices de poluição em elevação, o que compromete a saúde pública, muito estresse nas ruas e nas avenidas e aumento dos custos das passagens de ônibus que, presos em congestionamentos, realizam menos viagens, sendo necessários mais veículos para atender a mesma demanda. É mais diesel, mais peças, mais ônibus sendo desgastados.

De acordo com os dados da NTU, em abril de 1995, a média de passageiros transportados era de 2,59 por quilômetro. Em novembro de 2011, esse número caiu 37% indo para 1,63 passageiros por quilômetro.
No mesmo período, entre 1995 e 2011, a frota de carros de passeio subiu 88%. Em 1995, foram licenciados 1407073 carros e em 2011, 2647245.

Desde os anos de 1950, para incentivar a instalação da indústria automobilística no País, foi criada no brasileiro uma forte cultura de admiração ao carro de passeio, que passou a ser sonho e símbolo de status.
Assim, o brasileiro cultiva o desejo de ter um veículo particular. Mas isso não seria tão problemático se os transportes coletivos tivessem recebido os investimentos e a prioridade necessários no espaço urbano. Assim, esse sonho do carro de passeio que era uma tática comercial passou a ser uma estratégia política, nada inteligente, mas imediatista com foco apenas no voto.

Da metade dos anos de 1990 para cá ficou mais fácil comprar carros, com veículos mais baratos e incentivos tributários, enquanto se tornou mais difícil andar de ônibus. Se o brasileiro já tem um desejo de ter o seu carro como símbolo de status e encontra um transporte coletivo que não atende suas necessidades de deslocamento, é natural o aumento dos veículos individuais.

A mesma pesquisa da NTU mostra que o principal item levado em consideração pelos brasileiros nas capitais é o tempo de deslocamento. Sendo assim, o ônibus só voltaria a se tornar atraente se ganhasse em velocidade. E para o ônibus ter velocidade e conforto ele não pode ficar preso no mesmo congestionamento dos carros. Afinal, entre ficar parado num congestionamento sozinho, dentro do carro, com ar condicionado e música e ficar na mesma situação em pé, num veículo lotado, é claro que as pessoas vão optar pelo transporte individual.

É consenso entre os estudiosos de transportes que os corredores de ônibus são parte da solução para a mobilidade das pessoas. Nos corredores, menos ônibus conseguem fazer mais viagens e atender a mais gente, o que diminui os custos dos sistemas, empreendem mais velocidade, o que reflete em viagens mais rápidas e, pelos corredores serem espaços exclusivos, há possibilidade de uso de veículos maiores como articulados e biarticulados e que oferecem mais conforto, como motores traseiros, ar condicionado, mais espaço interno, sistemas de informação e som.

Mas é importante deixar claro que os ônibus precisam de corredores de fato, que permitem acessibilidade nos embarques e desembarques, sistemas de pagamento de passagem antes da entrada no ônibus para diminuir o tempo de parada e pontos de ultrapassagem, para evitar longas filas e congestionamentos de ônibus perto das paradas e estações. Não adianta separar uma faixa com uma mureta ou apenas uma pintura no asfalto e chamar isso de corredor.

A prioridade aos ônibus e os investimentos em corredores não anulam e não substituem os investimentos necessários em modais metroferroviários. Pelo contrário, os aperfeiçoam, pois de nada adianta um sistema de metrô e trens moderno se não houver um serviço de ônibus que conduza de forma eficiente os passageiros até as linhas ferroviárias e no sentido oposto, leve as pessoas com qualidade do trem e metrô até suas casas.

Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes

Blog Ponto de Ônibus

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