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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Cidades precisam deixar de se expandir e crescer para dentro

 Créditos: Blog do Fabio Cavalcante/Acervo

As metrópoles se expandiram demais, motivadas pela velocidade do transporte rodoviário, principalmente o carro. O resultado é que, sem mobilidade, as distâncias tornaram-se maiores. A solução é deixar de expandir para crescer para dentro.

As metrópoles devem crescer para dentro, reestruturando o que existe, no lugar de se expandir. É o mais inteligente. É o mais sustentável. A imobilidade, alimentada pela opção pelo transporte rodoviário, principalmente o automóvel, exige essa mudança de estratégia de desenvolvimento. As cidades cresceram demais sem a infraestrutura devida e de costas para o transporte de massa (metrô e trem), obrigando os trabalhadores a percorrerem cada vez distâncias maiores no percurso casa-trabalho. Para reduzir o tempo de deslocamento, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que realizou estudo sobre o impacto da imobilidade na produção brasileira das 12 maiores metrópoles brasileiras, alerta que o Brasil precisa parar de seguir o modelo americano de crescimento e adotar um estilo mais europeu de viver. Ou seja, trabalhar e estudar perto do trabalho ou trabalhar próximo à residência e à escola. Simples assim.

A Região Metropolitana do Recife fez e faz exatamente o contrário. Estimula cada vez mais longos percursos. Os dois ramais do metrô existentes na cidade, que compreendem 25 quilômetros de extensão e transportam diariamente 280 mil passageiros, são cercados de moradias simples, muitas vezes invasões. O entorno das duas linhas, especialmente a Linha Centro, é tão desvalorizado que a ocupação é totalmente desordenada. Na Linha Sul do metrô, que liga o Centro do Recife ao extremo do município de Jaboatão dos Guararapes pela Zona Sul da capital, a situação é um pouco melhor devido à proximidade com a orla marítima. Mas, mesmo assim, o adensamento imobiliário de qualidade é verificado basicamente na altura do bairro de Boa Viagem. Em alguns pontos, as invasões chegam ao muro de proteção da linha metroviária.

Créditos: Pernambuco Construtora/Acervo

Quem vive perto do metrô sente na pele a baixa valorização do entorno. Os números do próprio sistema revelam esse fracasso. Dos 280 mil passageiros transportados diariamente, apenas 30% são lindeiros, ou seja, entram diretamente no sistema metroviário pelas estações. O restante, 70%, é lançado pelos ônibus, através do Sistema Estrutural Integrado (SEI). Ou seja, são pessoas que vem de longe, não residem perto do metrô. Na prática, essa ausência de passageiros lindeiros comprova que as cidades cortadas pelo sistema metroviário (Recife, Jaboatão dos Guararapes e Camaragibe) se desenvolvem ignorando o potencial do metrô.

Nos corredores de ônibus acontece o mesmo. A PE-15, o mais extenso e qualificado corredor de transporte público da RMR, tem o entorno bastante degradado, com submoradias nas suas margens. Em seu estudo, a CNI indica que a preferência pelo transporte rodoviário criou as cidades informais dos loteamentos e favelas - pessoas que preferem morar perto do trabalho, mesmo em submoradias, a enfrentar a angústia do deslocamento. “A força do transporte rodoviário, seja coletivo ou individual, liberou o urbanismo da obrigação da densidade e da continuidade. Ou seja, se formaram núcleos urbanos isolados nas periferias, com desperdício de espaço e altos custos sociais. A cidade ficou esgarçada”, argumenta o diretor de políticas e estratégia da CNI, José Augusto Fernandes.

Esse “esgarçamento” é um problema porque, quanto maior a cidade, maiores as necessidades de transporte. E, como são as cidades grandes que respondem por quase metade do PIB, elas não podem parar. “As metrópoles são o lugar do intercâmbio econômico mundial. Estamos pagando um preço alto por optar pelo transporte rodoviário, com estímulo sobretudo ao carro, sem ter investido no transporte de alto rendimento. Falta oferta de serviços e as pessoas têm que se deslocar. Houve uma expansão exagerada e a infraestrutura não acompanhou. O Brasil precisa rever essa lógica”, acrescenta Fernandes.

Relação com a moradia
No estudo, a CNI revela, ainda, que os ganhos econômicos da metropolização são maiores do que a descentralização urbana. E que é preciso parar de investir em um único tipo de transporte. É urgente integrar, criar uma rede multimodal para atender aos deslocamentos casa-trabalho, que representam mais da metade das viagens urbanas do Brasil. “Habitação e transporte público desenham majoritariamente as cidades brasileiras. Temos limitação de transporte e um déficit habitacional gigantesco. 20% das moradias do Brasil foram construídas pela própria população, sem crédito, o que contribuiu para a criação de favelas. Famílias constroem em periferias cada vez mais distantes e menos densas, sem infraestrutura e oferta de serviços. 88% dos domicílios irregulares estão nas regiões metropolitanas. É preciso sanar esse déficit”, alerta a CNI.

ABANDONO

Silvana Nunes e Edson Andrade, 45, mudaram-se para o Barro, às margens da Linha Centro do metrô, na Zona Oeste do Recife, para fugir da violência e ter um bom transporte. Não alcançaram o primeiro objetivo e chegaram ao segundo apenas parcialmente. Usam o sistema metroviário porque são teimosos e minimizam o abandono que os cerca. Mas não conseguiram se livrar da violência. O fato de estarem ao lado do metrô não lhes dá nenhuma garantia. Ir e voltar da estação mais próxima, distante pouco mais de um quilômetro, é um desafio diário. “Adoramos o metrô, mas o entorno da linha deveria, de fato, ser mais cuidado e valorizado. A verdade é que ninguém liga, nem dá valor”, afirmam.

ACESSO RUIM

Israel Neto, 57, funcionário público, vê o metrô da janela do apartamento, mas raramente utiliza o sistema. O percurso entre o condomínio em que vive até a estação mais próxima, Barro, é sujo, perigoso e totalmente acidentado. “Estou tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe. É um risco caminhar até a estação. Tudo é sujo, quebrado e abandonado. Por isso a maioria dos moradores do condomínio onde resido simplesmente ignora o metrô, embora estejamos ao lado da Linha Centro. Quando decidi morar aqui, o sistema me atraiu, mas com o tempo fui vendo que era desestimulante usá-lo. Quando decido fazer uso, sei que estou correndo riscos”, diz.

Jornal do Commercio

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