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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Menores tarifas sim! Mas prioridade aos transportes não deve ser esquecida

Prioridade ao transporte público deve estar na pauta das reivindicações da sociedade. Pesquisa nos EUA revela que jovens estão usando menos carros. No Brasil, a tendência seria a mesma se o transporte coletivo recebesse prioridade nos investimentos públicos.



Os jovens hoje protestam em diversas cidades brasileiras contra o valor das tarifas de ônibus. E não há de se tirar a razão da juventude, pois para o bolso do trabalhado, as passagens são caras mesmo. MAS NÃO ADIANTA NADA REIVINDICAR POR MENOR TARIFA SE NÃO HOUVER JUNTO REIVINDICAÇÃO POR PRIORIDADE AO TRANSPORTE PÚBLICO! É a prioridade ao transporte coletivo que deixará mais baixos os custos do sistema e por conseqüência as tarifas mais próximas da realidade do trabalhador. Uma pesquisa da Universidade em Michigan mostra que pelos investimentos aos transportes, os jovens norte-americanos têm se interessado menos por carros que em décadas passadas.

Mas nos Estados Unidos, há uma rede de metrô e corredores de ônibus que satisfaz as necessidades de deslocamentos. O mais interessante é que muitos dos sistemas de ônibus norte-americanos considerados de sucesso foram inspirados em exemplos brasileiros. Casos brasileiros que não são seguidos no próprio Brasil.

NOS ESTADOS UNIDOS:
A terra do culto ao automóvel, os Estados Unidos, tem se conscientizado que somente o transporte individual torna as cidades impraticáveis e impedem o direito básico do ir e vir das pessoas com liberdade.
Afinal, esse direito é ferido pelos congestionamentos e mau uso do espaço urbano. Essa consciência tem sido despertada nas novas gerações. É o que revela uma pesquisa da Universidade de Michigan, de 2012.

De acordo com o levantamento, menos jovens estão dispostos a comprar carros. Além da recessão econômica dos últimos quatro anos, estão entre os motivos, maior consciência ambiental e a praticidade.
Pelo fato de em boa parte das grandes cidades dos Estados Unidos haver uma rede de metrô e de ônibus que atende às necessidades de deslocamento, a população, em especial a mais jovem, entende que é mais rápido, prático e barato se deslocar de transporte público.

Dados do instituto de pesquisas norte-americano CNW mostram que hoje o público de 21 a 34 anos que possui carro responde por 27% do mercado de automóveis. Em 1985, essa fatia era de 38%.  Ainda de acordo com a Universidade de Michigan, em 1983, apenas 8% dos jovens entre 21 e 34 anos não tinham carta de habilitação. Este número em 2008 saltou para 18%.

Obviamente que além da crise econômica, o aumento da população não deve ser descartado. Mas chama a atenção que o perfil de deslocamento tem mudado, mesmo entre jovens que possuem veículos próprios: 24% se deslocam de bicicleta e mais de 50% dos que têm carros optam pelo transporte coletivo no dia a dia.

O automóvel tem perdido destaque na preferência dos jovens norte-americanos. Uma pesquisa encomendada pela General Motors à MTV Scratch pediu que 3 mil jovens apontassem suas marcas preferidas. Foram selecionadas as 31 mais votadas. Em primeiro lugar aparece a Google, seguida pela Nike. Entre as 10 mais lembradas, não figura nenhuma empresa fabricante de automóvel.

E NO BRASIL ?
A postura da juventude norte-americana, que pode criar uma nova cultura naquele País, pode ser realidade no Brasil, mas ainda há muito o que ser feito. E todas as ações passam pela prioridade aos transportes coletivos nos investimentos e nas políticas públicas.

Apesar de citar a necessidade de cidades melhores e de preservar o meio ambiente, o jovem norte-americano tem deixado o carro de lado porque o transporte por ônibus e metrô atende às suas expectativas.
Várias cidades norte-americanas têm ampliado os investimentos em metrô – que já possui redes extensas – e nos corredores de ônibus, usando inclusive sistemas brasileiros, como o de Curitiba, de exemplo.
Los Angeles, considerada capital mundial do automóvel, vê no BRT – Bus Rapid Transit (corredores de ônibus) uma solução para a mobilidade urbana. Em 2005, o Metrô local apostou num corredor de ônibus na região metropolitana: o Orange Line é operado por ônibus articulados e pelo sucesso, os investimentos são no sentido de ampliar os serviços em corredores exclusivos.


Créditos: Metrô de Los Angeles/Divulgação

Numa época que, com razão, a juventude tem se queixado das altas tarifas dos transportes públicos, é importante destacar que quando o setor recebe prioridade ele não oferece apenas serviços melhores, mas mais baratos também, mesmo que após um certo prazo de sua implantação.

Ônibus que trafegam mais rapidamente em espaços exclusivos gastam menos combustível, peças, pneus. Além disso, um único veículo faz mais viagens. Ou seja, o custo final diminuiu. Basta depois o poder público fiscalizar e conceder os aumentos de acordo com a variação justa dos custos.

Um metrô que opere sem superlotação e com os equipamentos mantidos em dia, também vai ter custos menores. Assim, é justo que a juventude brasileira reivindique tarifas menores. Mas esta reivindicação não será em vão, se na pauta dos pedidos houver também a prioridade ao transporte coletivo nos investimentos e no espaço urbano.

Dá para ter um transporte coletivo de qualidade, com baixo custo, e ao mesmo tempo uma indústria automobilística forte. Ninguém precisa abolir o carro de suas vidas, mas o transporte público nas cidades é uma questão de inteligência. Ocupar menos espaços com carros para sobrar mais espaços para pessoas.

Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes

Blog Ponto de Ônibus

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