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quarta-feira, 24 de abril de 2013

Dor e estresse ao volante

ESTUDO Motoristas de ônibus da RMR sofrem com problemas de saúde provocados por irregularidades praticadas por empresas 

Créditos: Guto de Castro/Acervo

Em meio a polêmicas sobre a falta de propostas das empresas do transporte público, que não se apresentaram para participar da licitação aberta pelo governo estadual para tentar melhorar o serviço, o Ministério Público do Trabalho (MPT) vai receber nos próximos dias o resultado de uma importante pesquisa sobre o setor.

Realizado durante um ano pelas Universidades de Pernambuco (UPE) e Federal de Pernambuco (UFPE), o estudo trata da delicada situação em que vivem os motoristas e cobradores que atuam no Grande Recife. As 18 empresas que operam na região foram analisadas e o resultado é alarmante: cada uma delas comete, no mínimo, uma irregularidade contra os funcionários. A maioria está relacionada a problemas de saúde e segurança. Estresse, dores no corpo e calor são as queixas mais citadas. O trabalho foi elaborado pelo Laboratório de Segurança e Higiene do Trabalho da UPE e pelo Laboratório de Ergonomia e Design Universal da UFPE. Os pesquisadores avaliaram todas as empresas de ônibus da Região Metropolitana do Recife (RMR). No trabalho, profissionais relatam problemas de saúde e a luta para tentar se livrar dos males.

É o caso de Daniel Nunes, motorista há 10 anos. Ele já passou por três empresas e cita a temperatura como um fator que atrapalha o profissional. "O calor leva ao estresse. Graças a Deus me controlo, respiro fundo e sigo em frente", contou. "Hoje trabalho numa empresa que circula entre Olinda e o Centro do Recife, trajeto menor do que alguns feitos em outras", disse. Outros profissionais apontam dores como as maiores dificuldades. "Já tive problemas sérios. Tomo remédio até hoje", disse o motorista Fábio Negromonte.

Na primeira etapa, foram avaliadas, por amostragem, cinco empresas. As avaliações aconteceram em cinco terminais de ônibus urbanos, nos bairros do Bongi e Totó, na Zona Oeste da capital. Além de Sítio dos Pintos, na Zona Norte, Rio Doce, em Olinda, e no município de Paulista. "Com base nas irregularidades reveladas pela pesquisa, poderemos até entrar com um processo de indenização coletiva", afirmou Leonardo Osório Mendonça, procurador do MPT.

"Todos os dados levantados pelos professores da UPE e da UFPE vão servir de base para entrarmos com novas ações na Justiça." O procurador explicou que algumas dessas empresas já estão respondendo por ignorar as leis, muitas delas trabalhistas. "Os empresários deixam de investir hoje e vão pagar um preço maior amanhã. Muitos processos contra essas empresas são provocados por irregularidades que poderiam ter sido evitadas, gastando bem menos", declarou. Como se não bastassem os problemas de saúde, muitos trabalhadores do sistema de transporte público se queixam da falta de informações sobre direitos e deveres.

O coordenador do projeto, o professor Beda Barkokebas, da Universidade de Pernambuco, diz que faltam conhecimento e consciência. "Tantos os empregadores quantos os funcionários precisam de uma reciclagem", citou. No ano passado, o MPT e as universidades envolvidas no estudo convocaram as empresas para dar consultoria, sem ônus para nenhuma das partes. "Eles precisavam apenas se comprometer a fazer as mudanças necessárias no trabalho diário", lembrou o professor. Esse acordo seria fechado na forma de um termo de ajustamento de conduta (TAC). Mas na hora da assinatura, as empresas desistiriam do compromisso junto ao Ministério Público do Trabalho. Até o próximo mês, os números finais da pesquisa vão ser entregues pela UPE e UFPE aos procuradores do MPT. 

Jornal do Commércio

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