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sexta-feira, 12 de julho de 2013

População pede melhorias na malha ferroviária existente

Em época de discussões sobre transportes em trilhos, população pede melhorias na rede do Recife. Especialista avalia cuidados a serem tomados

Créditos: Jailson da Paz/Diário de Pernambuco

Transporte sobre trilhos em foco. Desde que a União informou a disponibilidade de R$50 bilhões para investimento em transportes de massa, com foco no modal ferroviário, prefeituras e governos têm tentado adequar seus projetos de mobilidade urbana para serem contemplados pela verba. Em Pernambuco, o Governo do Estado e a Prefeitura do Recife anunciaram pedidos para a capital e o interior, que juntos totalizam até R$6,4 bilhões. A construção do metrô ou monotrilho na Avenida Norte substitui o possível corredor de Bus Rapid Transit (BRT), antes previsto para a área.

A possibilidade de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) nas regiões sul e central da capital somaria cerca de 18km de malha ferroviária na cidade. Atualmente, o metrô do Recife possui apenas duas linhas, Centro e Sul, com extensão de 39,5km, enquanto o sistema de trem diesel totaliza 31,5km. Apesar de reconhecidos bens para a mobilidade, a malha apresenta problemas. Quem depende dos trens demonstra interesse na ampliação das linhas, mas também pede melhorias no sistema atual.

Todos os dias, a vendedora Juliana dos Santos utiliza o metrô para ir da estação Camaragibe até Joana Bezerra, entre as seis e as sete horas da manhã. “É muita, muita gente. Sete horas da manhã já tá tudo cheio, tudo lotado”. Apesar de Camaragibe ser a primeira estação da linha Centro 1 em direção à cidade, o vazio dos vagões ao chegar não é suficiente para proporcionar conforto aos passageiros. Segundo a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), Camaragibe apresenta o terceiro maior fluxo na entrada e saída de passageiros. Fica atrás apenas da estação Joana Bezerra e Recife. Nos horários de pico trafegam, diariamente, 26,7 mil passageiros na linha centro, 8,7 mil passageiros na linha sul e 560 no trem diesel. “Tem vezes que chega o metrô e tem tanta gente na estação que não dá pra entrar todo mundo. Aí tem que esperar o próximo metrô chegar, mas nesse tempo a estação já lotou de novo....”. conta. 

Para Juliana, a disputa pelo espaço é o grande incômodo ao utilizar o modal. “Já vi gente caindo no vagão na hora de entrar, por causa de pessoas empurrando pra tentar conseguir uma cadeira”. Apesar disso, a dificuldade encontrada nestes horários não afastam Juliana do metrô, que tem como vantagem a rapidez. “Para fazer o mesmo caminho de ônibus, preciso ir pela Avenida Caxangá, que fica muito congestionada nestes horários. Demora muito e não vale a pena”. 

Para as questões de segurança, Arthur Cabral, estudante da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), também pede melhorias. Ele utiliza VLT, metrô e ônibus diariamente para se deslocar de Marcos Freire, em Jaboatão dos Guararapes, para a Cidade Universitária, zona oeste do Recife. “Acontecem assaltos e tentativas de assaltos em trens e estações de metrô de nossa cidade. Os usuários da linha Cajueiro Seco/Curado se sentem bastante inseguros”, conta. Arthur foi vítima de um assalto a mão armada dentro de um vagão do VLT, durante o mês de junho (25). “Os quatro assaltantes embarcaram na estação Curado, como passageiros comuns. Após a saída do trem, eles renderam os dois seguranças presentes. Fizeram ameaças contra todos os passageiros e percorreram a locomotiva recolhendo pertences, como dinheiro, celulares e bolsas. Depois, rendido com uma arma na cabeça, um segurança foi obrigado a se direcionar até o maquinista para que ele parasse o trem, num lugar escuro e cheio de vegetação”.

Arthur, que teve celular e relógio levados, explica que os passageiros não reagiram e que os pertences dos funcionários também foram roubados. O grupo fugiu após a parada do trem, que demorou para voltar a seguir seu caminho. “Foram minutos de pânico entre as pessoas presentes”. Depois do ocorrido, o estudante desceu na estação Marcos Freire, onde ligou para o 190 de um telefone público. Informado que não seria possível a presença de efetivo no local, Arthur foi para casa e fez um Boletim de Ocorrência (BO) online. “Algumas locomotivas tiveram câmeras de vídeo instaladas, mas isso não é suficiente. Meu desejo é que as autoridades da nossa cidade tomem providências em benefício da população”. 

Reflexões
Professor da UFPE, o engenheiro Fernando Jordão explica que os investimentos na expansão da malha ferroviária devem ser bem planejados. “Antes da construção de novas linhas, é necessário pesquisa, estudos, planejamento. É extremamente positivo que os gestores consigam enxergar o transporte além do ônibus, mas é preciso a percepção que o planejamento não pode ser dispensado”. Ele cita relatórios sobre a dinâmica econômica e os deslocamentos da população como indispensáveis. “Onde a população mora, para onde a população vai, onde está o comércio, tudo isso é importante para a implantação do sistema de transporte". 

Fernando ressalta também que o sistema de mobilidade das cidades devem ser pensado como um todo. “Ninguém deve pensar no transporte de forma isolada. Para planejar uma cidade é preciso contemplar todos os modais, os motorizados, a bicicleta, os pedestres. O deslocamento a pé é indispensável no transporte público, já que as pessoas vão para o ponto de ônibus e para as estações de metrô caminhando. Por muito tempo estes deslocamentos foram desconsiderados, mas é preciso que a mobilidade e a acessibilidade sejam pensados em conjunto”.

Diário de Pernambuco

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