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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Os latino-americanos perdem até quatro horas diárias em engarrafamentos

Créditos: Diário de Pernambuco/Acervo

Fabio Mottola olha pelo retrovisor: uma maré imóvel de automóveis, ônibus e táxis estancados no trânsito da cidade de Brasília. À sua frente, a mesma coisa: a avenida é um gigantesco estacionamento. Mottola se resigna, aproveita o congestionamento para falar ao celular, ouvir rádio ou comentar a situação com um motorista vizinho.
Seja em Buenos Aires, Brasília, Bogotá, Lima ou Cidade do México, o fato é que essa situação não é alheia à dos 400 milhões de latino-americanos que vivem em zonas urbanas e enfrentam custosas e longas odisseias para se deslocarem.
“Para mim, a viagem acaba sendo mais estressante do que o trabalho”, afirma.
Segundo especialistas, um latino-americano pode chegar a perder entre três e quatro horas de seu dia no trajeto de casa para o trabalho e do trabalho para casa, em deslocamentos que chegam a custar o equivalente a duas horas de salário.
Mas nem tudo é cinza da cor do asfalto. De um tempo para cá, começam a aparecer esforços para promover alternativas ao automóvel, como por exemplo o uso das bicicletas e melhoras no transporte público, com um maior incentivo ao seu uso.

Adoção do ônibus rápido

Peças importantes nessa melhora da mobilidade pública são os ônibus de trânsito rápido (ou BRT, na sigla em inglês), que operam em faixas exclusivas, oferecendo um serviço veloz e seguro aos usuários.
Ao todo, 56 cidades da América Latina contam com sistemas de ônibus rápidos, que representam um terço dos mais de 4.000 quilômetros mundiais de corredores destinados a esse meio de transporte rápido, segundo o Embarq, programa de transporte urbano sustentável e planejamento do Instituto de Recursos Mundiais.
É também a região que mais transporta passageiros por esse sistema: 6 em cada 10 pessoas que optam por esse meio de transporte estão na América Latina, com um total de 19 milhões de passageiros por dia.
Um dos sistemas mais antigos na região é o Transmilenio, de Bogotá, na Colômbia, que leva quase 1,6 milhão de passageiros por dia, ou quase 27% da demanda do transporte público da cidade. Para os usuários desse sistema, o tempo de viagem caiu em quase um terço, e o percurso se tornou mais seguro: os acidentes nos corredores do Transmilenio diminuíram em 90%.
Mas, além de evitar uma dor de cabeça adicional, os sistemas de ônibus rápidos BRT também são capazes de economizar milhares de dólares para os usuários. Na Cidade do México, por exemplo, os engarrafamentos obrigam 20% dos trabalhadores a passarem mais de três horas por dia se deslocando para seus locais de trabalho. A Linha 3 do Metrobús representou uma economia de 142 milhões de dólares só em tempo de viagem, recuperando o valor financeiro das horas perdidas de produtividade.
“Os sistemas confiáveis de transporte público permitem que todos os moradores se beneficiem do crescimento econômico de uma cidade”, comenta José Luis Irigoyen, especialista em transportes do Banco Mundial. Além disso, tornam uma cidade mais atraente para os investidores, criando-se assim mais oportunidades de emprego, acrescenta ele.
Já o sistema Metropolitano de Lima, no Peru, é o único da região que opera com gás natural veicular, ambientalmente inofensivo. O sistema, em operação desde 2010, permitiu a destruição de 790 ônibus velhos e poluentes, o que corresponde a 26.500 toneladas de gases do efeito estufa a menos sendo emitidas nas ruas limenhas.
Mais ao sul, a avenida mais larga do mundo – a 9 de Julho, em Buenos Aires – estreou em 2013 dois sistemas de ônibus rápidos que se somaram ao já existente na avenida Juan B. Justo. Essa iniciativa, junto com o sistema de bicicletas compartilhadas e um plano para priorizar o pedestre, renderam neste mês à capital argentina o prêmio mundial de Transporte Sustentável 2014.
“Esses sistemas são uma solução eficiente para cidades com um orçamento restrito. Um fator crucial para o seu sucesso é vinculá-los com a política de uso do solo, ou seja, com o planejamento do desenvolvimento urbano”, afirma Verônica Raffo, especialista em transporte do Banco Mundial. “Além disso, integram-se simbioticamente com as cidades, evoluindo ao mesmo tempo que elas”, conclui.

El País

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