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sábado, 6 de setembro de 2014

Biometria digital nos ônibus do Grande Recife para combater fraudes

Créditos: Michele Souza/JC Imagem

Em tempos de discussão sobre a coerência entre custo e qualidade do transporte público urbano brasileiro, a Região Metropolitana do Recife começa a testar a biometria digital, uma ferramenta fundamental para acabar com as fraudes no uso das gratuidades, que encarecem a operação e terminam sendo bancadas pelo usuário que paga a passagem inteira. Por enquanto, apenas 39% dos passageiros que possuem o benefício da gratuidade estão aptos a fazer uso da nova tecnologia nos ônibus. Mas a meta é incluir todos até o ano que vem. O público alvo principal no Grande Recife são os usuários do cartão VEM Livre Acesso e do VEM Estudantil. Em muitas cidades brasileiras os idosos também integram o grupo, mas por enquanto não há previsão para eles iniciarem o cadastro biométrico no sistema metropolitano recifense.


Segundo informações da Urbana-PE, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco, 60% da frota de 3.600 ônibus em circulação no sistema já está com o equipamento embarcado, composto de um leitor digital, que fica integrado ao leitor dos cartões VEM, ao lado da catraca. A operação da ferramenta é simples: depois de fazer o cadastro no Posto do VEM, na Boa Vista, Centro do Recife, o passageiro embarca normalmente no ônibus e, ao apresentar o cartão, é solicitada a digital. “A partir daí basta a pessoa deslizar o dedo sobre o leitor digital. Antes, será indicado qual o dedo ele deverá utilizar, escolhido previamente durante o cadastro. Evitar a fraude é uma consequência da biometria digital. O que a Urbana–PE busca ao adotar a tecnologia é moralizar o uso da gratuidade”, argumenta o superintendente.


Segundo Pedro Ferreira, embora as fraudes com o uso do benefício sejam constantes no sistema, é difícil flagrá–las. “Quando a pessoa passa o mesmo cartão de Livre Acesso, por exemplo, duas, três, quatro vezes no mesmo ônibus, percebemos e bloqueamos o cartão. A pessoa é obrigada a comparecer ao Posto do VEM, nós alertamos sobre o uso indevido e, acontecendo novamente, até suspendemos o benefício. Mas quando a fraude é mais camuflada, fica difícil”, afirma.


Por enquanto, os 39% dos passageiros que têm direito à gratuidade e já fizeram o cadastramento dividem-se da seguinte forma: 100% dos estudantes universitários, 30% dos estudantes secundaristas, 100% dos rodoviários e 35% do VEM Livre Acesso. “O processo de cadastramento leva tempo porque precisamos atrair os usuários. Mas estamos cumprindo um cronograma. A medida que as pessoas vão atualizar o cadastro dos cartões, retirar a primeira ou a segunda vias nós fazemos o cadastramento biométrico. Nossa meta é atingir 100% dos grupos que têm direito à gratuidade”, garante Pedro Ferreira.


A biometria digital está sendo bancada pelos empresários do sistema. Custa R$ 5 milhões, em média, incluindo os equipamentos embarcados nos ônibus e o software. Nas ruas, a população em sua maioria ainda desconhece a tecnologia. Mas quem usou aprova. “Trabalhei num ônibus no último domingo que possuía o validador digital e alguns passageiros precisaram colocar o dedo para comprovar que eram os titulares dos cartões de Livre Acesso. Funcionou sem problemas. Acho correto porque só deve usar o benefício quem de fato tem direito”, defende a cobradora da linha Brejo, Joana Oliveira, há 15 anos na profissão.


BENEFÍCIOS SÃO FATO, MAS TAMBÉM HÁ ÔNUS
Os benefícios da biometria digital no combate às fraudes no uso das gratuidades são fato, comprovados inclusive por instituições técnicas, como a Associação Nacional das Empresas de Transporte de Passageiros (NTU). Mas nem tudo são bônus. Falhas na leitura do validador acontecem, assim como é comum a falta de habilidade dos passageiros e operadores, criando conflitos no interior dos ônibus e retardando o embarque, principalmente quando os idosos passam a fazer parte do processo.


Levantamento feito pela NTU com base na experiência de algumas cidades mostra que isso é verdade. No caso dos idosos, o fato de possuírem os sulcos ou ranhuras dos dedos já gastos dificultam o reconhecimento pelo leitor biométrico. O acúmulo de sujeira no leitor também influencia na exatidão da autenticação, por isso ele deve ser limpo constantemente. “Percebe-se, em alguns casos, o aumento do tempo de embarque (dwell time) dos usuários, o que provoca a redução da velocidade comercial dos coletivos.


O atraso também gera aumento das filas de ônibus nos pontos de embarque e desembarque ao longo de itinerários e, consequentemente, a formação de comboios. Mas é indiscutível os benefícios da biometria. A questão é usar uma boa tecnologia e fazer a manutenção devida”, argumenta o diretor administrativo da NTU, Marcos Bicalho. Atualmente, pelo menos 15 cidades brasileiras já possuem a biometria digital ou estão em fase de implantação.


BIOMETRIA FACIAL
Há quem defenda que a biometria digital já é coisa do passado e que a tecnologia ideal, moderna, é a facial, ou seja, de reconhecimento da face. A diferença é que, atualmente, a biometria facial não é feita em tempo real. “A identificação do passageiro é realizada no ônibus, mas os dados são checados e confirmados apenas quando o coletivo retorna à garagem. Funciona, mas o ideal é que fosse em tempo real, exatamente para evitar a fraude. Não conheço sistemas que façam uso dessa tecnologia em tempo real”, argumenta Marcos Bicalho.

JC Online

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