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domingo, 1 de fevereiro de 2015

Linhas férreas ocupadas de forma irregular no Agreste

Créditos: Michelle Souza/JC Imagem


As estações de trem de Caruaru, Bezerros e Gravatá, no Agreste pernambucano, não têm mais o entra e sai de passageiros que, no passado, eram transportados pela Linha Tronco Centro. Mas continuam de portas abertas, com atividades culturais. Se as edificações estão preservadas, apesar das descaracterizações para receber novos usos, o mesmo não se pode dizer das estradas de ferro. Os trilhos estão sumindo nas três cidades, seja por ocupações irregulares ou aterrados para dar lugar a carros.

Em Caruaru, pedaços da linha férrea por onde os trens de carga levavam até a capital a produção econômica da região – tabaco, mandioca, algodão e couro – encontram-se sob o piso de casas construídas ou em construção no bairro Cajá. Moradores informam que os imóveis pertencem a famílias pobres e sem condições de pagar aluguel. Segundo eles, trilhos arrancados foram reutilizados em lajes e colunas de moradias. Alguns servem de passarela entre as casas.

“Todo dia passava trem de passageiro e de carga aqui em Caruaru, mas desmantelaram tudo e ficou essa bagunça, com casas em cima da linha e trilhos cobertos com asfalto, para as pistas de carro”, declara Maria Júlia da Silva, 64 anos, moradora da cidade. “Nunca andei nas locomotivas, mas via as máquinas circulando perto da minha casa. Acho que as linhas deviam ser reativadas. Caruaru ficou um deserto sem os trens”, diz.

Operador de máquinas aposentado, João Costa da Silva, 71, lamenta o desmonte da ferrovia. “Desativar as linhas foi a maior covardia com o povo, isso não era para estar se acabando desse jeito. Quando as cargas deixaram de ser transportadas por trem, que é um serviço mais barato, o preço de tudo subiu. Hoje, tem lugar que não se sabe mais onde ficava a linha”, destaca João.

Na cidade de Bezerros, os trilhos próximos da estação estão parcialmente soterrados ou servem de estacionamento. Um trecho da linha, junto da ponte férrea sobre o Rio Ipojuca, está destruído e pendurado. “A estação é o patrimônio que sobrou em Bezerros, arrancaram muitos trilhos”, diz o ferroviário aposentado Paulo Pedro da Silva, 66. Ele trabalhou por 21 anos e cinco meses para a RFFSA, na manutenção da via.

Paulo mora na antiga casa do chefe da estação, defronte ao prédio da esplanada. “Comprei da Rede Ferroviária, a empresa vendeu casa em várias cidades. Nunca esqueço essa parte da minha vida, toda vez que olho o prédio da estação, tenho recordações. Não progredi para uma função melhor, porém gostava do meu trabalho. Minha maior alegria seria a volta do trem, mas não tenho esperanças”, afirma.

A linha férrea de Gravatá está tão maltratada quanto as ferrovias de Caruaru e Bezerros. Partes dos trilhos e dormentes são ocupados com lava a jato, estábulo e depósito de lixo. Junto da estação, cimento, pedra e mato escondem a via. Moradores das proximidades aproveitam para queimar lixo sobre os trilhos.

Responsável pelas linhas de Caruaru e Gravatá, a Ferrovia Transnordestina Logística (concessionária do serviço público de transporte de carga) informa que vem adotando medidas judiciais nas localidades, para coibir as ocupações ilegais. O trecho de Bezerros, de acordo com a empresa, foi devolvido à Rede Ferroviária.

Na herança do patrimônio ferroviário, destino melhor teve o prédio da Estação de Gravatá, inaugurado em 1894 e desde 2002 mantido pela Associação de Artesãos da cidade. “É um lugar para a gente expor e vender nossos produtos. Mais de 20 mil visitantes já assinaram o livro de presença”, diz José Alberes Vieira. A Estação do Artesão, no Centro, abre todos os dias.

Criada em 2006, a Estação da Cultura de Bezerros (vinculada à Secretaria municipal de Educação) ocupa a esplanada aberta ao tráfego em 1895. Na área da estação funcionam o Memorial do Papangu, com fantasias, máscaras e artefatos ligados à brincadeira, típica do Carnaval do município, e uma escola de música.

O armazém, conjugado com a estação, abriga o Museu da Cidade, montado com objetos doados por moradores antigos, além de um pequeno acervo da RFFSA: telégrafo, bilheteria, farol de locomotiva, lanterna de sinalização, balança de pesar carga, peças de restaurante dos trens. As visitas são gratuitas, de domingo a domingo, incluindo feriados.

Créditos: Michelle Souza/JC Imagem


Construção de 1895, a Estação de Caruaru funcionava como Biblioteca Municipal, mas trocou de uso e virou a sede do Instituto Histórico da cidade, instalado no primeiro pavimento. Um café aberto no pavimento térreo está desativado. A edificação ainda preserva luminárias e esquadrias originais, além das charmosas bilheterias onde se comprava passagem de 1ª e 2ª classe, junto do telégrafo. A prefeitura mantém oficinas e eventos culturais no armazém.

JC Online

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