Ônibus da Busscar no Paraná. Qualidade dos produtos fez com que empresas chegassem até a padronizar frotas com carrocerias Busscar. Mas crise financeira atrapalhou produção. Consultoria abre caminho para a entrada de um novo sócio. Foto: Adamo Bazani.
A Busscar, encarroçadora de ônibus que atua desde os anos de 1940 e amarga sua maior crise financeira da história, vai ter um novo sócio para tentar sair da atual situação.
É o que revela documento entregue pela própria empresa ao promotor do Ministério Público do Trabalho em Joinville, Guilherme Kirtsching.
De acordo com a carta explicando os motivos da crise, na versão da empresa que há um não deve salários e depósito trabalhistas, uma empresa de consultoria foi contratada para a admissão de um ou mais sócios.
A Virtus BR Partners foi contratada depois que em fevereiro de 2009, a Busscar tentou um empréstimo de R$ 93 milhões. Agentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social estiveram na sede da empresa em julho de 2009 também, mas os recursos foram negados. Também foram negados R$ 50 milhões pelo Banco Regional de Desenvolvimento e pela Caixa Econômica Federal.
O processo para a entrada deste novo sócio deveria ser concluído em março de 2011, mas acabou atrasando.
BUSSCAR COLOCA A CULPA NA CRISE FINANCEIRA INTERNACIONAL
A situação delicada da Busscar vem desde 2003. Neste ano, a empresa encarroçadora também apresentou problemas financeiros, alegando a influência das alterações da cotação do dólar frente ao real.
Nesta época, a encarroçadora recebeu empréstimos do BNDES e refinanciou débitos com credores particulares.
Agora, no relatório entregue ao promotor Guilherme Kirtsching, a empresa responsabiliza sua situação à crise financeira internacional, que teve origem nos Estados Unidos em 2008 pelo excesso de crédito e risco de inadimplência envolvendo bancos e o setor imobiliário.
A crise se espalhou por todo sistema financeiro mundial e, no Brasil, apesar de Lula ter dito que não se passava de uma “marolinha” também houve reflexos.
A empresa diz que os financiamentos dos bancos foram cortados para o setor pelo temor das instituições financeiras em relação a crise.
A Busscar alega que em setembro de 2008, as linhas de créditos à sua disposição giravam em torno de R$ 140 milhões. Mas em três meses, esses créditos, nos quais, segundo a empresa foram baseados planos de investimento e compra de material para a produção, foram reduzidos em R$ 75 milhões.
Por não ter mais dinheiro para comprar, a Busscar não adquiriu mais matéria prima o que gerou menos produção e menores lucros, aprofundando os débitos e diminuindo a condição da empresa de pagá-los.
Em novembro de 2008, a Busscar conseguiu com os credores carência de dois meses da dívida total e depois quatro meses de 50% de desconto de parcelas das dívidas.
Mesmo assim, a empresa não se reestruturou.
A Busscar, no documento, afirma que desde de 2003, a crise anterior a atual, não obteve lucro expressivo e que seus ganhos eram apenas para pagar credores.
A informação é refutada pelo Sindicato dos Mecânicos de Joinville, que representa os 3,5 mil trabalhadores que estão há um ano sem salário e se depósitos de direitos trabalhistas. Muitos destes funcionários já saíram da empresa, mas não receberam ao período correspondente e a acordo enquanto estavam na Busscar.
Segundo o Sindicato, entre 2003 e 2008, a Busscar apresentou lucros superiores da R$ 2,5 bilhões.
Atualmente a Busscar possui 1,4 mil funcionários, sendo apenas 200 na linha de produção.
A empresa, no documento, não enfatizou os R$ 610 milhões que dizia ter direito a Créditos do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), em tese não pagos pelo Governo Federal.
Por vários meses, a Busscar apresentava essa como a principal justificativa de sua crise.
A empresa alegava que investiu contando com os depósitos e pelo fato de eles não terem sido realizados acabou acumulando dívidas.
Hoje o discurso é outro.
Os débitos da Busscar giram em torno dos R$ 600 milhões, sendo que:
DÍVIDAS TRABALHISTAS R$ 220 milhões
BANCOS PRIVADOS (11 NO TOTAL) R$ 270 milhões
BNDES R$ 30 milhões
O restante é com fornecedores e outros encargos.
Adamo Bazani, repórter da CBN, jornalista especializado em transportes.
Reportagem do Ônibus Brasil - Blog