quarta-feira, 6 de julho de 2011

Série 'Sufoco': quem precisa pegar ônibus à noite enfrenta muitas dificuldades



A frota de ônibus diminui e, por isso, eles ficam superlotados; outro problema é a violência nas paradas e dentro dos transportes coletivos


Voltar de ônibus para casa à noite não é uma tarefa fácil, muito menos segura. Além da dificuldade de conseguir pegar um ônibus, já que a frota diminui à noite, ainda há a insegurança. Não é raro encontrar passageiros que foram assaltados em paradas ou dentro do transporte coletivo no caminho para casa após sair do trabalho ou da faculdade. Estes são os personagens da última reportagem da série “Sufoco”, exibida no NETV 1ª Edição.


O trabalho de combater a ação dos ladrões na Região Metropolitana do Recife é feito pelo delegado José Cláudio Nogueira. Segundo ele, que é da Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos, as pessoas têm como tentar se proteger no caminho entre o trabalho e a parada de ônibus. “Se possível, essas pessoas, ao sair do trabalho, devem procurar andar em grupo e evitar andar com muitos objetos, coisas que chamem a atenção, e evitar caminhar de forma dispersa pelo meio da rua”, orienta.

No Shopping Center Recife, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, muitos trabalhadores voltam para casa no fim da noite. Além da superlotação dos ônibus, eles têm que enfrentar outro problema.

“Essa linha que vamos pegar, que é o CDU/Shopping, é bastante assaltada. Quando a gente chega às proximidades da avenida Recife, fico rezando para que o motorista queime a parada. A gente tem que tirar o relógio e esconder no cós da calça e nada de levar celular dentro de bolsa. Na verdade, você tem que andar com dois celulares no mínimo: o celular do ladrão e o seu celular. E o pior de tudo não é a questão do objeto em si, é o pânico, a arma em punho. O que você mais vê são as pessoas rezando, pedindo a Deus para que aquilo [o assalto] termine logo” , afirma a vendedora Daci Carvalho.

Créditos: Guto de Castro/Acervo


Na parada de ônibus, não é raro encontrar histórias de pessoas que sofrem todo dia com a violência urbana. “Nem sempre a gente sai de 22h, para quem tem trabalha no shopping, sai umas 22h30. E no final de semana, sábado e domingo, de 21h eu não vejo ônibus nenhum passando”, conta a vendedora Sâmara Lígia.

Espera, cansaço, agonia e incerteza. No bairro do Recife, na área central da cidade, muitos estudantes saem do trabalho seguem, de ônibus, para a faculdade, onde estudam à noite. Alguns alunos chegam tão atrasados que perdem parte da primeira aula. “Muita gente falta a aula à noite, pois trabalha o dia todo, então é cansativo”, diz o estudante Mateus Barbosa.

Créditos: Guto de Castro/Acervo
No ônibus que Daci Carvalho sobe, a tranquilidade dos passageiros dura até chegar à avenida Recife. “Há uma parada que é a mais crucial da avenida Recife. Normalmente, nessa parada, os elementos sobem e ‘fazem o rapa’ [assaltam] dentro do ônibus. Eu estava em um ônibus que foi assaltado no Dia das Mães, mais ou menos de 22h30, e não tinha nenhum policial”, diz a vendedora.

Arthur Luiz Nunes, que também é vendedor e pega o mesmo ônibus que Daci Carvalho, concorda que a violência assusta. “É uma criminalidade muito grande e a gente observa que a maioria parece ser de menor. Tem gente que está mudando de linha para não vir no ônibus, mesmo ele sendo mais rápido para chegar a casa”, conta.

O cobrador Antônio Carlos afirma que foi roubado no mês de abril. Na ação, os bandidos estavam armados e ele chegou a pensar que não sairia vivo daquela viagem. “Subiram com a [arma calibre] 12 e colocaram no motorista, em mim e no pessoal. Eram três armados com revólver”, relembra.

Do lado de fora dos ônibus, mais insegurança. “É outra guerra agora na hora de descer, para não ser assaltado porque o risco é muito grande”, diz Arthur Luiz Nunes, que desce na BR-101, na Cidade Universitária.

Após passar 40 minutos no CDU/Shopping, Daci Carvalho ainda pega outro ônibus na avenida Caxangá. Mais de uma hora e meia após sair do Shopping Recife, a vendedora chega, enfim, à casa dela.
Créditos: Samuel Júnior/Ônibus Brasil

REFORÇO NO POLICIAMENTO

A falta de policiamento nas ruas durante a noite deixa os passageiros com medo, pois não sabem se vão conseguir chegar seguros a casa. A Secretaria de Defesa Social (SDS) nos repassou alguns números sobre roubos a ônibus no Recife e na Região Metropolitana do Recife (RMR). Apenas nos cinco primeiros meses deste ano, a média foi de um roubo a ônibus, por dia.

No Recife, foram registrados 84 roubos a ônibus entre janeiro e maio de 2010. No mesmo período deste ano, foram 79. Já na RMR, foram 103 roubos a ônibus nos cinco primeiros meses do ano passado. Entre janeiro e maio de 2011, foram 65. Somando Recife e Região Metropolitana, ocorreram 187 roubos entre janeiro e maio do ano passado. No mesmo período, mas neste ano, foram 144 roubos a ônibus, quase um por dia.

De acordo com o coronel Paulo Cabral, da Polícia Militar, é essencial que as pessoas prestem queixa dos crimes dos quais forem vítimas. “Nós temos policiamento dirigido a esse tipo de ação, mas vamos reforçar, a partir de hoje [quarta-feira (6)] esse policiamento, principalmente na avenida Recife e na Caxangá, e no horário noturno, que é o com mais incidência criminal”, afirma.

O delegado Edilson Alves, que é gestor da Polícia Civil na capital, também reforça esse pedido. “Nós temos este ano a prisão de alguns elementos que atuavam nessa modalidade de assalto a ônibus e conclamamos que as vítimas procurem qualquer delegacia e narrem o local onde ocorreu o assalto porque essas informações chegam a nível de gerência e nós repassamos para a equipe de investigação do local, juntando a isso as imagens que são fornecidas pelo Grande Recife Consórcio de Transporte”, diz.

SUPERLOTAÇÃO NOS ÔNIBUS

Ao todo, 1,8 milhão de pessoas usam diariamente ônibus na Região Metropolitana do Recife.

O sufoco enfrentado pelos passageiros não se resume apenas à superlotação (foto 6), mas refere-se também à longa espera nas paradas, principalmente à noite.

Reprodução / TV Globo
Créditos: TV Globo/Reprodução

“A superlotação que verificamos no sistema de transporte coletivo é identificada sobretudo nos horários de pico, das 6h até as 8h30 e entre 17h e 19h30.. Mas existe agora um terceiro pico, que se dá a partir das 21h30 até às 22h30, sobretudo nos arredores das universidades e das escolas e dos centros comerciais, onde há uma concentração de pessoas saindo ao mesmo tempo. Temos reprogramado as linhas e intensificado as 26 mil viagens ao longo do dia sempre nos horários de pico. Isso tem sido um trabalho contínuo e que será intensificado nesse segundo semestre. E estamos trabalhando para minimizar o tempo de espera dos usuários e também para dar uma maior velocidade no tempo de viagem desses usuários”, afirma a diretora de Operações do Grande Recife Consórcio de Transporte, Taciana Ferreira.
O número do Grande Recife Consórcio de Transporte é 0800 081 0158. A ligação é gratuita.

PE 360 Graus/Globo Nordeste

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