segunda-feira, 20 de junho de 2011

A marca de uma cidade e do seu crescimento

Rodoviária Caruarense reforçou a vocação de Caruaru para os transportes


Há pessoas, empresas ou instituições que são a marca dos locais onde atuam ou surgiram. Essas marcas não se dão apenas pelos seus nomes, mas pelo que acima de tudo significam e contribuem para seus meios.


E a Rodoviária Caruarense, empresa de ônibus de Caruaru, no Pernambuco, é um desses exemplos que agregam tradição e contribuição para o desenvolvimento de sua região.

A história de Caruaru é longa e marcada por lutas.

Uma dessas lutas foi pela liberdade.

A região que hoje compreende parte de Caruaru também foi um quilombo, símbolo da resistência dos negros africanos que eram trazidos ao Brasil como escravos na extração do Pau Brasil e nos engenhos de cana de açúcar.

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, Pernambuco (ainda sem esta denominação oficial) foi uma das áreas mais exploradas. Duarte Coelho, considerado o primeiro Governador de Pernambuco, trouxe imigrantes portugueses para a área que, em nome da extração do Pau Brasil e do Lucro provocaram uma verdadeira devastação. Eles entraram na região pela Serra Comprida ou Serra das Russas, chegando a Borborema.

Por conta disso, se estabeleceram rotas de transportes, inicialmente para escoar o Pau Brasil até o Litoral pernambucano. De acordo com a história oficial, o primeiro caminho, chamado de Caminho das Boiadas, ligava Recife, Olinda e o interior.

Os índios não aceitavam retirar o Pau Brasil, mesmo sendo escravizados. Trabalhavam num ritmo lento e tinham muita facilidade para fugir por conhecerem a região.

Então, os portugueses decidiram trazer os escravos negros da África.

Eles trabalhavam como ninguém, mas o tratamento era abaixo do que se pode classificar como desumano.

Revoltados, muitos se organizavam e fugiam, formando os chamados quilombos.

Além de sua força de trabalho, os negros africanos trouxeram para o Brasil sua cultura: religiões, hábitos, alimentos, dialetos. Entre os alimentos, havia uma erva forte comestível chamada Kalu’lu.

Esta erva foi plantada e logo proliferou no quilombo formando onde hoje é parte de Caruaru.

Mesmo após o fim do quilombo, a terra continuou a ser conhecida por esta característica. Os portugueses que exploravam os recursos naturais da região e os moradores já instalados há algum tempo começaram a chamar a área de Terra do Caruru, uma espécie de adaptação do nome original da erva plantada e consumida pelos escravos negros.

A partir de 1657, quando Pernambuco era governado pelo capitão-geral André Vidal de Negreiro, a área foi dividida em sesmarias, terras exploradas por colonos e famílias imigrantes.

Entre as várias divisões de famílias e lotes surgia a Fazenda do Caruaru, inicialmente em 23 de dezembro de 1671. Esta fazenda foi herdada da família Vieira de Melo pelo Capitão-Mor José Rodrigues da Cruz. A família havia recebido a sesmaria em 1671 pelo governador Fernão de Souza Coutinho.

A Fazenda do Caruaru, no entanto, foi dividida em várias propriedades rurais até que em 2 de junho de 1681 o governador Aires de Souza de Castro doa a Sesmaria de Caruaru para uma família portuguesa chefiada pelo cônego Simão Rodrigues de Sá, instalado em Olinda e Recife.

Lentamente as atividades econômicas, voltadas para a agricultura e criação de animais, iam se desenvolvendo na região.

As terras sofriam loteamentos constantes. Novas divisões e novas famílias surgiam.

Já no século XIX, a área correspondia a família Nunes, que criava gados.

E foi um integrante desta família, conhecida como Nunes dos Bezerros, que começou a dar as primeiras formas de povoado a terra de Caruaru.

José Rodrigues de Jesus construiu uma capela em homenagem a Nossa Senhora da Conceição.

Ao redor desta capela começaram a surgir as primeiras habitações. Em 1846, o frei Euzébio de Sales começou a erguer a matriz do local, vendo que o número da população aumentava.

O povoado e a fazenda tinham uma posição que demonstrava a vocação do local para os transportes e negócios.

Caruaru era rota obrigatória de passagem para o transporte de gado do Sertão para o Litoral e de mão de obra avulsa.

Não só passagem, mas ponto de parada para descanso. Assim, os primeiros negócios não agrícolas de Caruaru foram ligados para atender a demanda dos transportes.

Com isso, Caruaru começou a se desenvolver de maneira mais rápida que outras regiões. A fundação da cidade, que hoje tem aproximadamente 320 mil habitantes, é oficialmente comemorada em 18 de maio, e ocorreu no ano de 1857.

O desenvolvimento da Capital Recife e sua distância de 130 quilômetros fazia de Caruaru uma área de rota de crescimento.

As comunicações entre Caruaru e a Capital começaram a se tornar mais intensas e importantes.

A feira de Caruaru, onde era possível comprar e vender tudo, vem desta vocação de ponto de passagem e parada de trabalhadores avulsos e comerciantes que se encontravam.

O volume de pessoas indo de Caruaru para a Capital e vice e versa necessitava de sistemas de transportes mais eficientes.

Em dezembro de 1895 era inaugurada a estação ferroviária da Great Western

A The Great Western of Brazil Railway Company Limited era uma companhia de capital inglês que atuou no Nordeste brasileiro. Inaugurada em 1835 na Inglaterra, para ligar Liverpool a Londres, em 1873 conseguiu concessão brasileira para construir uma linha que uniria Recife a Limoeiro, em Pernambuco.

Começou a operar em 1881 no trecho entre Recife e Paudalho. Em 1896 completava o trecho Recife – Caruaru.

No ano de 1945 chegou a ter mais de 1.600 quilômetros de ferrovias no Nordeste. Em 1950 foi substituída pelo poder público, que operou a Rede Ferroviária do Nordeste, depois encampada pela RFFSA – Rede Ferroviária Federal S.A.

Os bairros de Caruaru e municípios próximos cresciam para além das áreas atendidas pela ferrovia.

Assim, pioneiros nos transportes, com ônibus simples, feitos de madeira, enfrentavam ruas e estradas de terra quase intransponíveis.

Os donos de ônibus tinham de dirigir e entender muito de mecânica. Isso porque os veículos, por causa das más condiçoes, quebravam quase todos os dias,

E aí se destaca o papel social do ônibus em todo Pais. Ele chegava a regiões de difícil acesso, onde as pessoas moravam, mas não tinham recursos e estrutura e precisavam se deslocar para os centros mais desenvolvidos para ganharem a vida. Os trilhos de trens não chegavam até estes locais.

Os donos de ônibus faziam um papel social levando oportunidade de acesso ao trabalho e a renda a estas pessoas. É claro que eles também visavam o lucro, nada mais justo, mas não era um lucro fácil. Eram poucas as pessoas que na época se atreviam a trabalhar nos transportes.

Neste contexto, ainda na primeira metade do século XX surgia a Empresa Rodoviária Caruarense, uma das mais tradicionais do Nordeste.

O destino Caruaru – Recife e o aumento de passageiros a cada ano fizeram que a empresa logo crescesse.

A história da Rodoviária Caruarense se encontrou com a história de um jovem trabalhador, de Pernambuco, que depois acabou ganhando destaque na política local.

Era João Lyra Fulho.

João Lyra Filho nasceu em 12 de maio de 1913, em Lagoa dos Patos, a 45 quilômetros de Caruaru.

Com 16 anos, em 1929, mudou-se para Caruaru onde trabalhou como Caixeiro de Balcão, Feirante, caminhneiro e comerciante.

Na vida como caminheiro se apaixonou pelo ramo de transportes. E a oportunidade surgiu nos anos de 1950, quando se desfez de tudo e adquiriu a Rodoviária Caruarense.

João Lyra Filho investiu na empresa que começou a ter várias rotas na região, operando ônibus urbanos e rodoviários.

Paralelamente, João Lyra Filho atuou na área política. Foi prefeito pela primeira vez em Caruaru em 1959, pela UDN.

Depois voltou ao comando do executivo municipal entre 1973 e 1976. Foi também deputado pro algumas vezes.

Renovação de frota sempre foi um pensamento implantado na Rodoviária Caruarense, principalmnte em reaçao aos ônibus rodoviários.

Isso fez da empresa um destaque nacional.

Na imagem de abertura a porpaganda de dois monoblocos O 326 da Mercedes Benz recém adquridos pela Caruarense, nos anos de 1960, mostrava que a empresa estava afinada com as novidades, já que os ônibus eram novos e traziam um conceito diferente do comum: veículos com motor traseiro e mais conforto, sendo ônibus de fato, e não se limitando a chassi de caminhão com carrocerias de ônibus.

Atualmente, com vários itinerários, a Caruaresne ainda privilegia a ligação Caruaru – Recife.

Tanto é que possui dois tipos de serviços nesta rota: o convencional, com ônibus vermelhos e paradas ao longo do caminho. Os ônibus azuis são executivos. A passagem é mais cara, mas a viagem rápida, sem paradas entre as duas cidades.

A Caruarense é um dos patrimônios ainda ativos não só da cidade, mas do Estado de Pernambuco e foi, como é hábito de seu povo, formada com muita luta.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes, repórter da Rádio CBN


Blog Ônibus Brasil

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