quarta-feira, 9 de maio de 2012

Passageiros encaram milhares de quilômetros atrás de oportunidades

A segunda reportagem da série sobre as rodoviárias mostra como as bagagens são fiscalizadas e o que os passageiros fazem para enfrentar as viagens mais longas.

 

Na segunda reportagem da série especial sobre o universo das rodoviárias e das viagens de ônibus pelo Brasil, Rodrigo Alvarez mostra como as bagagens são fiscalizadas e o que os passageiros fazem para enfrentar as viagens mais longas.

Trilha sonora interrompida nas estradas do Nordeste: dois amantes da música romântica, brigando pelo controle do som, viviam em Pernambuco, e agora viajam para restaurar igrejas no Maranhão. Mais de 130 milhões de passageiros por ano, 30 mil motoristas e 17.400 ônibus com a missão de integrar o Brasil. Viajando por 15 estados, por 15 dias, encontramos ônibus modernos e nada do franguinho com farofa de antigamente.

Se o brasileiro agora tem renda maior, sobra algum dinheiro para comer coxinha, pastel ou a sopa de R$ 3 de Arcoverde, Pernambuco.

Podem ser casais de agricultores trocando o interior da Bahia pelo interior de Minas, pode ser a família de um vaqueiro deixando o Nordeste para viajar quatro dias em busca de salário em Rondônia: quem viaja de ônibus é pelo preço. Porque para pertinho de casa ou porque vai, como o vaqueiro e os agricultores, levando a casa inteira debaixo do braço.

O quilo do excesso de bagagem custa 0,5% do valor da tarifa, tanto no ônibus como no avião. Só que nos aviões costuma ser bem mais caro porque o percentual é cobrado em cima da tarifa cheia, sem descontos.
Quando amanhece, na divisa de Goiás com Mato Grosso, fica todo mundo retido na malha fina e lenta da Secretaria da Fazenda. A maioria dos passageiros é comerciante. Muitas de suas cargas não foram declaradas. Eles dizem que uma pessoa que não viajou em um ônibus embarcou quase todas as caixas que deram problema para ver se passava pela fiscalização sem pagar imposto.

A passageira diz que foi um funcionário da empresa de ônibus quem sugeriu que ela levasse a mercadoria de uma estranha. “Confiei nele e nela, né?”, diz.

Para viajar de um estado para o outro com mercadorias, nota fiscal é obrigatório. Mesmo assim, um motorista espera duas horas para se decidir. Oito ficam para o acerto de contas. Quem se prepara para seguir viagem nem repara no passageiro que comeu pastéis estragados. Mais nove horas sem remédio e sem refresco, e a ajuda ao viajante intoxicado só chega em Cuiabá.

A poucos metros dali tem mais brasileiro chegando à rodoviária para mudar de vida. Uma mãe chora porque a filha Dariane vai se aventurar atrás de emprego, em Chapecó, no Sul do país. Dariane tem 17 anos e 1,7 mil quilômetros para pensar no futuro.

“É como se fosse um pedaço da gente. Estamos torcendo para que tudo dê certo, mas a gente fica triste, né?”, diz a prima.

O passageiro flagrado com mercadoria sem nota fiscal é liberado depois de assinar um termo em que se compromete a comparecer perante juiz quando chamado, e responde por descaminho, que tem pena inferior a dois anos. Depois do registro da ocorrência, ele pode embarcar em outro ônibus.

G1/Rede Globo

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