Créditos: Michelle Souza/JC Imagem |
As estações de trem de Caruaru, Bezerros e Gravatá, no Agreste pernambucano, não têm mais o entra e sai de passageiros que, no passado, eram transportados pela Linha Tronco Centro. Mas continuam de portas abertas, com atividades culturais. Se as edificações estão preservadas, apesar das descaracterizações para receber novos usos, o mesmo não se pode dizer das estradas de ferro. Os trilhos estão sumindo nas três cidades, seja por ocupações irregulares ou aterrados para dar lugar a carros.
Em Caruaru, pedaços da linha férrea por onde os trens de carga
levavam até a capital a produção econômica da região – tabaco, mandioca,
algodão e couro – encontram-se sob o piso de casas construídas ou em
construção no bairro Cajá. Moradores informam que os imóveis pertencem a
famílias pobres e sem condições de pagar aluguel. Segundo eles, trilhos
arrancados foram reutilizados em lajes e colunas de moradias. Alguns
servem de passarela entre as casas.
“Todo dia passava trem de passageiro e de carga aqui em Caruaru, mas
desmantelaram tudo e ficou essa bagunça, com casas em cima da linha e
trilhos cobertos com asfalto, para as pistas de carro”, declara Maria
Júlia da Silva, 64 anos, moradora da cidade. “Nunca andei nas
locomotivas, mas via as máquinas circulando perto da minha casa. Acho
que as linhas deviam ser reativadas. Caruaru ficou um deserto sem os
trens”, diz.
Operador de máquinas aposentado, João Costa da Silva, 71, lamenta o
desmonte da ferrovia. “Desativar as linhas foi a maior covardia com o
povo, isso não era para estar se acabando desse jeito. Quando as cargas
deixaram de ser transportadas por trem, que é um serviço mais barato, o
preço de tudo subiu. Hoje, tem lugar que não se sabe mais onde ficava a
linha”, destaca João.
Na cidade de Bezerros, os trilhos próximos da estação estão
parcialmente soterrados ou servem de estacionamento. Um trecho da linha,
junto da ponte férrea sobre o Rio Ipojuca, está destruído e pendurado.
“A estação é o patrimônio que sobrou em Bezerros, arrancaram muitos
trilhos”, diz o ferroviário aposentado Paulo Pedro da Silva, 66. Ele
trabalhou por 21 anos e cinco meses para a RFFSA, na manutenção da via.
Paulo mora na antiga casa do chefe da estação, defronte ao prédio da
esplanada. “Comprei da Rede Ferroviária, a empresa vendeu casa em várias
cidades. Nunca esqueço essa parte da minha vida, toda vez que olho o
prédio da estação, tenho recordações. Não progredi para uma função
melhor, porém gostava do meu trabalho. Minha maior alegria seria a volta
do trem, mas não tenho esperanças”, afirma.
A linha férrea de Gravatá está tão maltratada quanto as ferrovias de
Caruaru e Bezerros. Partes dos trilhos e dormentes são ocupados com lava
a jato, estábulo e depósito de lixo. Junto da estação, cimento, pedra e
mato escondem a via. Moradores das proximidades aproveitam para queimar
lixo sobre os trilhos.
Responsável pelas linhas de Caruaru e Gravatá, a Ferrovia
Transnordestina Logística (concessionária do serviço público de
transporte de carga) informa que vem adotando medidas judiciais nas
localidades, para coibir as ocupações ilegais. O trecho de Bezerros, de
acordo com a empresa, foi devolvido à Rede Ferroviária.
Na herança do patrimônio ferroviário, destino melhor teve o prédio da
Estação de Gravatá, inaugurado em 1894 e desde 2002 mantido pela
Associação de Artesãos da cidade. “É um lugar para a gente expor e
vender nossos produtos. Mais de 20 mil visitantes já assinaram o livro
de presença”, diz José Alberes Vieira. A Estação do Artesão, no Centro,
abre todos os dias.
Criada em 2006, a Estação da Cultura de Bezerros (vinculada à
Secretaria municipal de Educação) ocupa a esplanada aberta ao tráfego em
1895. Na área da estação funcionam o Memorial do Papangu, com
fantasias, máscaras e artefatos ligados à brincadeira, típica do
Carnaval do município, e uma escola de música.
O armazém, conjugado com a estação, abriga o Museu da Cidade, montado
com objetos doados por moradores antigos, além de um pequeno acervo da
RFFSA: telégrafo, bilheteria, farol de locomotiva, lanterna de
sinalização, balança de pesar carga, peças de restaurante dos trens. As
visitas são gratuitas, de domingo a domingo, incluindo feriados.
Créditos: Michelle Souza/JC Imagem |
Construção de 1895, a Estação de Caruaru funcionava como Biblioteca
Municipal, mas trocou de uso e virou a sede do Instituto Histórico da
cidade, instalado no primeiro pavimento. Um café aberto no pavimento
térreo está desativado. A edificação ainda preserva luminárias e
esquadrias originais, além das charmosas bilheterias onde se comprava
passagem de 1ª e 2ª classe, junto do telégrafo. A prefeitura mantém
oficinas e eventos culturais no armazém.
JC Online
Nenhum comentário:
Postar um comentário