O Sindicato dos Mecânicos de Joinville, em Santa Catarina, protocolou na 5ª Vara Cível da Comarca local, pedido de impugnação do Plano de Recuperação Judicial apresentado pela Busscar. A encarroçadora de ônibus passa por dificuldades financeiras desde 2008, atribuindo a situação à crise econômica mundial daquele ano, que restringiu o crédito e os financiamentos paras as empresas. A versão é contestada por analistas de mercado que dizem que outras companhias, de diversos setores, também passaram pelo mesmo problema e conseguiram se livrar dos impactos maiores da crise mundial. Para estes analistas, o que ocorreu com a Busscar teriam sido erros administrativos para enfrentar a situação de 2008 e a não recuperação plena da crise de 2002 e 2003, vivida pela encarroçadora, que na época, conseguiu ajuda do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.As dívidas da Busscar, com fornecedores, instituições bancárias, trabalhadores e outros credores são de cerca de R$ 700 milhões. Os funcionários já caminham para 22 meses sem pagamento de salários.
Como determinou a Justiça, a Busscar apresentou um Plano de Recuperação. Nele, prevê carência para pagamentos das dívidas e descontos nos valores dos débitos que variam entre 7% e 95%. A empresa pede também a inclusão dos produtos da marca no programa de exportação de ônibus feito pelo BNDES para a Guatemala. O Programa é R$ 400 milhões e a Busscar propõe participação para receber R$ 130 milhões em financiamentos deste total de R$ 400 milhões disponibilizados pelo Governo Federal através do banco.
A Busscar estima este ano produzir 1,8 mil carrocerias com faturamento de R$ 335, 6 milhões.
Em 2014, a estimativa da Busscar é se tornar superavitária novamente, com lucros reais de R$ 30,2 milhões, já descontados todos os custos de operação e tributários. Para 2016, as projeções são de produção de 4,5 mil ônibus com faturamento de R$ 1,1 bilhão. Para o Sindicato dos Mecânicos de Joinville, o plano está fora do que considera realidade e pode acabar prejudicando os credores por não ter, na visão do Sindicato, consistência e não apresentar outras alternativas (Plano B), caso algumas das propostas não sejam realizadas. O Sindicato pede a saída da família Nielson, fundadora da empresa em 1946, do comando da encarroçadora.
Além disso, a entidade diz que as margens de lucro e expansão de 24,7% planejadas pela Busscar para 2014 estão fora da realidade de mercado, pois usa como base “produtos desatualizados” frente aos ônibus das concorrentes e um índice de participação no segmento que já foi perdido pela Busscar.
Quanto à participação do programa de financiamento de ônibus para Guatemala, o Sindicato diz que não há garantias da realização imediata das exportações de ônibus para o país latino. Além disso, a participação no programa corresponderia a 70% da produção projetada pela empresa em 2012. Caso os embarques para Guatemala não sejam retomados ou a Busscar não seja incluída no plano do BNDES, a encarroçadora de Joinville ficará bem longe de cumprir sua meta de produção.
A reportagem de Adamo Bazani conversou nesta sexta-feira, dia 27 de janeiro de 2012, com o presidente do Sindicato dos Mecânicos, João Bruggmann. Caso o plano não se aprovado pelos credores e posteriormente pela Justiça, a Busscar pode entrar a falência. Perguntado se essa atitude do sindicato não pode causar a falência da encarroçadora, o dirigente sindical foi enfático ao dizer que não. “Do jeito que está este plano, ele não passa na Assembléia dos Credores, que deve ser realizada em abril, apesar de ainda não haver uma data definida. Aí sim que a empresa vai a falência. Lutamos para que os trabalhadores sejam pagos de maneira justa, o que este plano não permite. Pedindo a impugnação, há a possibilidade de o plano ser refeito, mas de maneira mais lógica” – disse João Bruggmann, que ainda afirmou que o Ministério Público recebeu nesta sexta-feira o pedido de impugnação para fazer a análise.
Bruggmann se disse desacreditado com a família Nielson. “Já não é a primeira vez que eles prometem coisas para os trabalhadores e outros credores e não cumprem. Não acreditamos mais. Entendemos que a entrada de novos investidores, mesmo que como sócios, seria um dos passos para a solução. Mas na última reunião no BNDES os Nielson foram bem incisivos aos afirmarem que não querem nenhum concorrente participando da Busscar” – revelou Bruggmann à reportagem de Adamo Bazani.
A DÍVIDA NA VERDADE É EM TORNO DE R$ 1, 3 BILHÃO
Outra crítica do Sindicato que baseia o pedido de impugnação, é que o plano de recuperação judicial não leva em conta todas as dívidas da Busscar. As dívidas com os bancos, trabalhadores e fornecedores são de cerca de R$ 700 milhões. Mas há outras dívidas expressivas que mostram a realidade da empresa. Entre estes débitos, segundo o sindicato, estão os fiscais que somam R$ 477 milhões. Como os programas de parcelamento do governo dividem estes débitos em até 60 prestações, nesta melhor hipótese, só para pagar os débitos fiscais, a Busscar teria mensalmente R$ 5 milhões comprometidos com esta responsabilidade.“A Busscar não deve R$ 700 milhões. Sua dívida, contanto com os débitos fiscais, chega a R$ 1,3 bilhão, e o plano de recuperação não leva em conta estes valores, o que é um erro. Hoje o patrimônio da Busscar vale 7 ou 8 vezes menos do que ela deve.” – disse João Bruggmann.
PRAZOS FORA DA LEI
O sindicalista também disse à reportagem que as carências para o pagamento total dos débitos da Busscar podem fazer com que algumas dívidas sejam pagas em 5 anos, que para ele contraria o artigo 54 da Lei de Falências, que prevê que uma empresa em recuperação judicial quite seus débitos em até 12 meses.Ele teme também que enquanto o plano de recuperação não é analisado, mais bens que estavam bloqueados como garantia de pagamento, a exemplo do que ocorreu com uma fazenda de R$ 7 milhões, sejam liberados. O imóvel era garantia para pagar parte dos passivos trabalhistas.
“O plano de recuperação da Busscar é ilógico. Não tem bases concretas, conta com fatos que não se tem certeza de que vão acontecer, como as exportações para a Guatemala. Usa dados de mercado desatualizados. Prevê uma produção que a mão de obra atual não daria conta, já que muitos funcionários que saíram da Busscar não querem mais voltar para ela. Além disso, com os descontos e carências, a Busscar não vai pagar o que é justo, o que deve realmente. É melhor a impugnação agora do que a reprovação na Assembléia dos Credores e a decretação da falência” – defende João Bruggmann.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes
Ônibus Brasil
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