Busscar receberá cerca de R$ 25 milhões pelo lote encomendado
“É bonito de se ver”, diz o administrador judicial do Grupo Busscar, Rainoldo Uessler, sobre a retomada da produção na unidade de ônibus. De fato, ao visitar as linhas de fabricação da empresa, até o mais incrédulo na recuperação judicial do grupo se impressiona com o ritmo de trabalho de cerca de 500 funcionários que foram chamados de volta à ativa.
O momento é tão bom que a empresa mantém as atividades até neste período de Carnaval, para conseguir entregar os pedidos no prazo. Segunda-feira (20/2), terça-feira (21/2) e quarta-feira (22/2) os trabalhadores vão trabalhar normalmente e receberão como dias normais.
A Busscar recebeu 52 encomendas de ônibus desde a decretação da recuperação judicial, em 31 de outubro de 2011. Os trabalhadores se empenham em turno único, das 7h às 16h, com uma hora de intervalo para o almoço.
Novos pedidos estão em negociação e a expectativa da empresa é fechar mais negócios nos próximos meses. Um deles é o Projeto Guatemala, no qual a Busscar deve faturar R$ 130 milhões para produzir 800 ônibus. De acordo com Uessler, problemas burocráticos estão sendo resolvidos e o projeto está caminhando. “Faltam resolver alguns detalhes, mas a expectativa do negócio ser fechado é grande”, afirma.
Com os pedidos atuais, que envolvem de micro-ônibus a modelos Double Decker - que possuem dois pisos -, a Busscar deve arrecadar em torno de R$ 25 milhões, valor ainda longe do que a empresa precisa para ganhar o ritmo de antes da crise. Boa parte desse valor ainda deve ser usada para o pagamento de salários e mais matéria prima. A Busscar projeta que seriam necessários R$ 100 milhões de fluxo de caixa para a empresa conseguir se recuperar. A previsão do grupo, em seu plano de recuperação, é fabricar 1.818 ônibus só neste ano.
A retomada da produção foi possível graças à venda de um terreno que pertencia ao grupo. Com os R$ 6,2 milhões que foram arrecadados, a Busscar conseguiu dar o primeiro passo para sair da crise. “Muitos outros pedidos estão em negociação e as dívidas também estão sendo negociadas, por isso temos convicção de que a Busscar conseguirá se recuperar, deixando a crise no passado”, afirma Clóvis Squarezi Mussa de Moraes, advogado da ERS Consultoria & Advocacia, que tem atuado em Joinville na recuperação da Busscar. Euclides Ribeiro Junior, sócio da ERS, tem permanecido mais em São Paulo, onde negocia as dívidas e novos pedidos.
20 anos de muita confiança
O soldador Carlos Marques Pereira, 57 anos, vai completar no dia 31 de março 20 anos de trabalho na Busscar. Em todos esses anos, ele nunca viu a empresa em crise pior, mas também nunca acreditou tanto na recuperação. “Jamais duvidei. Uma empresa desse tamanho, com a estrutura e qualidade que possui, não poderia jamais ser fechada. Agora não vamos mais parar. Se depender dos funcionários, a Busscar sairá da crise e só vai crescer”, projeta.
Pereira é um dos cerca de 500 funcionários que a Busscar chamou para trabalhar na produção dos 52 ônibus encomendados. Em 2011, ele também trabalhou na conclusão de alguns modelos que ficaram parados nas linhas de produção, quando a crise começou.
Nos meses mais difíceis, Pereira fez bicos para continuar mantendo a família, mas em nenhum momento cogitou sair da Busscar. “Sempre gostei de trabalhar aqui e quero me aposentar nessa empresa”, afirma.
A Busscar ainda mantém cerca de 1.100 funcionários contratados. A empresa chegou a ter em torno de 3.500 antes da crise. Amanhã, o administrador judicial Rainoldo Uessler entregará à Justiça a primeira revisão das dívidas do grupo. Na primeira publicação das contas, a Busscar somava R$ 623 milhões em dívidas. A segunda e última revisão será feita pelo próprio juiz responsável pela recuperação da Busscar.
Lúcio Mattos
ND Joinville
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