segunda-feira, 5 de março de 2012

Os obstáculos da BR-232

O problema foi passado para o governo do Estado.


É difícil encontrar, na história administrativa de Pernambuco, uma obra pública mais burocraticamente controvertida que a BR-232. Já em sua nascente, o vício de origem: sendo uma BR, deveria ter sido duplicada no trecho entre o Recife e Caruaru, depois São Caetano, pelo órgão responsável pelas rodovias federais.

O problema foi passado para o governo do Estado, graças à liquidez circunstancial com a venda da Celpe para um grupo espanhol e, até aí, tudo bem, desde que a “espinha dorsal” rodoviária de Pernambuco fosse desobstruída no seu trecho mais movimentado, dado o crescimento do trânsito e a urgência de fazer o Estado andar mais e melhor. E que, naturalmente, o governo federal ressarcisse o custo da obra federal com dinheiro estadual, o que não aconteceu.

O início das obras foi um acontecimento político da maior dimensão. Pernambuco perdia sua estatal, mas ganharia a velocidade necessária para beneficiar o interior, integrar melhor dois terços da população com o terço mais desenvolvido, a Região Metropolitana do Recife. Mas foi aí, desde os primeiros momentos, que começaram os problemas e o jogo de empurra-empurra de responsabilidades sobre o que começou a ser detectado desde o início das obras e vem se ampliando com o aumento da frota de transportes de carga, o excesso de peso – incompatível com a qualidade da estrada que foi duplicada – e o embate burocrático, com parecer técnico para lá, parecer técnico para cá, enquanto a BR-232 deixa à mostra tudo que uma boa rodovia não pode ter – e era exatamente isso que se esperava, qualidade, com o custo da duplicação, uma Celpe privatizada.

Desde cedo, isto é, nos primeiros anos do prazo – 10 anos – tecnicamente aceitável para a realização de trabalhos de restauração, a rodovia começou a mostrar, num crescendo, placas de concreto quebradas, em muitos trechos insuficiência de drenagem, trinca na pista, afundamentos, vazios sob as placas e outros problemas que o viajante apressado não percebe mas que vão se aprofundando até encontrarmos – como se encontra com frequência – as pistas obstruídas em parte para a realização de obras, não mais apenas de restauração, mas implantação de novas placas, muitas vezes lembrando os difíceis anos da duplicação. É um problema de qualidade de um serviço público essencial que foi agravado pelos conflitos políticos, na passagem de governo de um grupo para outro contrário, daí advindo o que a ninguém interessa, principalmente à população: o jogo de empurra, enquanto a rodovia vai ficando em muitos trechos metade cimento, metade asfalto, no processo de desgaste que exige maior fiscalização e punição contra o excesso de peso das carretas, principal responsável pela degradação da rodovia.

Sem que se exclua o devido processo legal para a reparação do trabalho malfeito ou utilização de material de qualidade inferior, se for o caso. O que não pode é manter a principal obra rodoviária de Pernambuco das últimas décadas se deteriorando como matéria-prima de embates políticos.​

Jornal do Commercio (PE) e Agência CNT

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