Créditos: Lorena Barros/JC Trânsito |
Os últimos meses de 2014 têm sido de muita expectativa para aqueles que utilizam transporte público na Grande Recife. A inauguração do Terminal Integrado Largo da Paz, no final de setembro, beneficiou cerca de três mil pessoas. Em Joana Bezerra, cerca de 50 mil passageiros também serão beneficiados com a expansão do Terminal Integrado, previsto para ser entregue até o final do mês de outubro – promessa não cumprida – após dois anos de obras.
Segundo o Consórcio Grande Recife, a inauguração de mais quatro
terminais integrados na Região Metropolitana do Recife (Prazeres, Abreu e
Lima, III Perimetral e IV Perimetral) também está prevista ainda para
este ano.
Os terminais integrados oferecem para os passageiros da RMR a
facilidade de poder percorrer longas distâncias (já que estão presentes
desde o município de Igarassu até o Cabo de Santo Agostinho) pagando
apenas uma passagem. Ainda assim, para a instalação desse sistema,
algumas mudanças nos itinerários e até mesmo a extinção de algumas
linhas ocorreram, desagradando a alguns passageiros, principalmente no
Terminal Integrado Tancredo Neves, inaugurado em 2013, localizado na
Zona Sul do Recife. O terminal recebe cerca de 49 mil pessoas
diariamente e é alvo de críticas e elogios.
Um dos afetados pela extinção de linhas de ônibus para circulação no
TI Tancredo Neves foi o estudante de engenharia de produção, Rafael
Velôzo, 20 anos, que mora em Piedade, Zona Sul do Recife, e estuda na
UFPE, no bairro da Várzea, Zona Oeste da cidade. Com a abertura do TI
Tancredo Neves, o estudante não tem mais a opção de pegar o ônibus
Candeias/Dois Irmãos e realizar apenas uma viagem no percurso de casa
para a faculdade. Antes do terminal, para voltar para casa, o estudante
podia pegar o CDU/Shopping (que era a linha que realizava o percurso sem
desvios pelo bairro do Ipsep) até Boa Viagem, onde pegava outro ônibus
para Piedade. Para ele, o ponto negativo está na lógica dos terminais
integrados, que estão sempre lotados e por muitas vezes não respeitam os
intervalos estipulados para saída de ônibus. O tempo médio que Rafael
leva para chegar à faculdade, quando o trânsito está tranquilo, é de
1h15. Assim como o tempo, o desconforto dentro dos ônibus também
aumentou. O ponto positivo do Terminal Integrado, por sua vez, é a
economia: antes, o estudante pagava R$ 3,25 numa passagem Vale B ou R$
4,30 pegando dois ônibus. Hoje, paga o valor único de R$ 2,15, essa
economia, por sua vez, não compensa o desconforto.
A estudante Tamires Coutinho, 20 anos, também aponta os efeitos
negativos da criação do TI Tancredo Neves. Ela confessa que não gosta do
terminal porque precisa enfrentar muitas filas e confusões diariamente.
Segundo a estudante, à noite chega ser ainda pior, já que ela depende
da linha Candeias e enfrenta uma fila enorme por conta da demora do
ônibus. “Nunca pensei na vida que iria dizer isso, mas sinto muita falta
do Candeias/Dois Irmãos. Ao menos eu tinha uma noção de quando ia
chegar em casa ou na UFPE. Agora é só na sorte”, confessa a estudante.
Diante de tantas desaprovações, encontramos passageiros que aprovam a
situação do terminal: a estudante Linda Cordeiro, de 19 anos, mora no
bairro da Imbiribeira e considera o Terminal Integrado como de grande
ajuda. Para ela, ficou mais fácil não só chegar à faculdade, na Zona
Oeste do Recife, como também de se locomover para o bairro de Boa Viagem
e até mesmo para a Zona Norte, quando não tem a opção de pegar o metrô.
Para ela, a maior vantagem do Terminal Integrado é a vasta quantidade
de coletivos a qual tem acesso.
Questionado sobre a funcionalidade dos Terminais Integrados, que
extinguiram algumas linhas de ônibus, o Consórcio Grande Recife,
responsável pelos Terminais Integrados da RMR, afirmou que os terminais
foram constuídos para proporcionar aos usuários um maior número de
deslocamentos, por toda a Região Metropolitana do Recife, pagando apenas
uma passagem e ainda com integração ao metrô.
O professor-doutor do departamento de Engenharia Civil da UFPE,
Oswaldo Lima Neto, especialista em Transporte Público, afirma que,
dentro do contexto apontado por muitos passageiros do Terminal Integrado
Tancredo Neves, o sistema de integração pode não parecer benéfico,
porém, é necessário perceber o que prejudica o processo de transbordo
(realização de troca de ônibus/metrô para chegar ao destino) e as
medidas que estão sendo tomadas para melhorar a qualidade do transporte
público da cidade.
Baseado nos números da evolução da frota de automóveis da cidade, o
professor afirma que cerca de 350 carros novos são adquiridos
diariamente em Recife, onde as ruas, que não tem mais possibilidade de
expansão, se tornam cada vez mais congestionadas. Nesses casos, medidas
têm que ser tomadas para que o transporte público seja privilegiado. Ele
aponta como exemplo uma das medidas tomadas pela prefeitura, nas
imediações do TI Tancredo Neves: a instalação de um corredor exclusivo
para ônibus na Avenida Mascarenhas de Morais, que tornou a viagem
daqueles que saem do terminal para o Centro mais rápida. Para o
professor, se as investidas na melhoria do transporte público da cidade
não ocorrerem, a situação não melhorará.
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