Créditos: Allan Torres/Diário de Pernambuco |
Pela lei, o comércio ambulante dentro dos trens, estações e terminais é proibido. A norma, no entanto, divide opiniões entre os passageiros. Há quem defenda e encare como parte integrante da cultura do metrô, e há quem prefira a retirada dos vendedores. Para quem sobrevive do negócio, o trabalho é sério e mais rentável do que carteira assinada.
Em um cálculo simples, é possível entender os números por trás do descumprimento da legislação. Utilizaremos como exemplo a água mineral vendida por João ao custo de R$ 1. Ele compra um fardo com 12 unidades por R$ 4,50. De cada fardo, tem um lucro de R$ 7,50. Chega na estação às 7h e volta para a casa às 16h após vender 15 fardos, o que costuma acontecer em até cinco viagens entre a Estação Joana Bezerra e a Estação Recife. Diariamente, lucra R$ 112,5. Considerando a venda de segunda a sábado, por mês, arrecada em média R$ 2,7 mil. "Eu só estudei até a terceira série. Lá fora, não consigo sustentar minha família. Aqui estou me acertando. Não estou matando nem roubando ninguém. Não acho errado o que faço", ponderou.
E de muitos João's se faz o metrô do Recife. Eletricista e motorista por formação, Francisco* circula entre os passageiros há 13 anos, mas gostaria que regularizassem o comércio informal. "Estamos aqui porque precisamos. É daqui que tiramos nosso sustento. Mesmo tendo muita concorrência, muita gente usa o metrô e tem cliente para todo mundo. Poderiam cadastrar, colocar farda e organizar o trabalho", sugeriu. "Eles podem até tentar, mas não têm como impedir a gente."
Enquanto as vendas continuam proibidas, os passageiros se dividem no apoio ao comércio informal e na retirada dos ambulantes. "Eles só estão trabalhando para ganhar o dinheiro deles e não mexem com ninguém. Eu sempre compro chocolate, bala, chiclete, confeito. Adoro", defendeu o estudante Deivid Ângelo Lima da Silva, 27. Ideia completamente repudiada por Túlio Barbosa, 27. "Se estou com fome, trago meu lanche de casa. Sou contra a presença deles e me sinto coagido. Eles passam gritando e empurrando todo mundo. Sem falar nos que ficam com um carrinho atropelando a gente. Além disso, ainda tem a questão do trabalho infantil. É só observar com calma. Está tudo errado", disparou.
Já o mecânico Isaac Antão, 52, não concebe o metrô sem os ambulantes. "Desde que sou pequeno é assim. Esses trabalhadores fazem parte da rotina do metrô, estão entranhados na nossa cultura. Mas claro que é preciso organizar, colocar lixeiras para evitar a sujeira", contou. A também ambulante Laudineide Araújo da Costa, 45, não hesita ao reclamar. "Os sacoleiros disputam lugar com os passageiros. É um absurdo. Daqui a uns dias, vou armar minha barraca aqui também para ganhar dinheiro", disse.
Procurado pelo Diario, o MetroRec, da Companhia Brasileira de Trens Urbanos, administrador do metrô no Recife, informou que realiza blitze nas estações para tentar reduzir o transtorno. Segundo o órgão, o Ministério Público de Pernambuco, a Polícia Militar, a Secretaria de Direitos Humanos, o Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente e a Prefeitura do Recife (através de órgãos que podem apreender as mercadorias) atuam em parceria na contenção dos ambulantes.
O que diz a lei?
O comércio ambulante dentro dos trens, estações e terminais é proibido conforme o Decreto Lei do Governo Federal n° 1.832/96 e o Regulamento do Sistema de Transporte Público de Passageiros através do Decreto n° 14.845 de 1991.
* Para preservar a identidade dos entrevistados, foram utilizados nomes fictícios na reportagem
NÚMEROS SOBRE O METRÔ DO RECIFE
Área de 39,5 km
Composto por duas linhas: Centro e Sul
Linha Sul cobre 10,5 km
Linha Centro 29 km
Linha Sul transporta 120 mil passageiros por dia
Linha Centro transporta 280 mil diariamente
Linha Sul opera com 9 trens em intervalos de 6 minutos
Linha Centro opera com 15 trens em intervalos de 5 minutos
Linha Sul realiza 259 viagens por dia
Linha Centro realiza 317 viagens por dia
Diário de Pernambuco
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