sexta-feira, 27 de março de 2015

Transporte Complementar sofre sem expansão. Sistema está estrangulado

Créditos: Fernando da Hora/JC Imagem

Um sistema estrangulado. Que precisa crescer, expandir-se. O serviço de Transporte Complementar da Região Metropolitana do Recife, operado por microônibus, criado em 2003 para acomodar os mal vistos kombeiros, há anos estagnou, sem cumprir o papel prometido. Linhas interligando os bairros não são mais criadas e a frota envelhece a olhos vistos. Entre as razões para a não expansão, a maior delas: a concorrência com o sistema de ônibus, proibida por lei e evitada de toda forma tanto pelo gestor do sistema, a Prefeitura do Recife, quanto pelo governo do Estado, responsável pelo serviço de ônibus.

Nesse cenário sobrevive o STCP (Sistema de Transporte Complementar de Passageiros do Grande Recife). Há 12 anos, na sua criação, era previsto que o serviço seria bem maior do que é. São apenas nove linhas interbairros (sete delas no sistema da capital e duas no metropolitano, que são pagas e interligam centros comerciais da periferia da RMR) e 18 alimentadoras (gratuitas, que levam passageiros de comunidades de difícil acesso para pequenos terminais de ônibus). A promessa inicial era de que a rede seria formada prioritariamente por linhas interbairros. As alimentadoras seriam suporte. Tudo mudou. 69 bairros da capital são atendidos, mas a qualidade deixa a desejar. E quem paga o preço é o passageiro do sistema, com um serviço que poderia ser mais confortável e abrangente. Sem falar que o sistema cobra o mesmo valor dos ônibus, R$ 2,45. São mais de cem mil usuários por dia, dos quais apenas 12 mil andam de graça nas linhas alimentadoras.





A frota de 150 veículos está, em sua quase totalidade, velha. Por serem veículos menores, a degradação dos microônibus parece ser mais evidente. Muitos dos veículos possuem ar-condicionado, mas nenhum é mais ligado durante as viagens para não aumentar o custo. “Gosto do serviço, principalmente porque ele atende três dos principais shoppings da cidade e passa por centros comerciais dos bairros que não são bem atendidos pelos ônibus. Mas os veículos estão muito velhos e andam muito lotados nos horários de pico”, reclama Maria Aparecida Luz, que três vezes por semana utiliza a linha Afogados–Campo Grande (Tacaruna), uma das principais do sistema.

A pressão do setor empresarial para que as linhas interbairros não concorram com o sistema por ônibus é fato, por mais que oficialmente se negue. Desde que as cobranças para expansão do serviço começaram, logo após a criação, as desculpas eram que a rede de transporte da RMR estava sendo revista para formatar a licitação do sistema. Mesmo a duras penas, a licitação foi concluída em 2014. “Agora, os argumentos são de que apenas dois dos sete lotes estão operando de fato. Enquanto isso temos várias ligações que poderiam ser criadas entre bairros. O sistema não tem como crescer com a rede que está aí. Precisa de novas linhas. Temos várias demandas, por exemplo, para o RioMar Shopping, no Pina”, diz o presidente do Sindicato dos Permissionários do Transporte Complementar da RMR (Sinpetracope), Manoel Francisco. Somente no Recife, mais de 150 permissionários aguardam serem chamados para trabalhar. A maioria desistiu da espera.

A CTTU e o Grande Recife Consórcio de Transporte, entretanto, reafirmam não haver qualquer expansão prevista para o sistema. Roberto Lyra, gerente de transporte da CTTU, diz que o equilíbrio financeiro seria comprometido. “A revisão da rede que fizemos em 2013 mostrou que o sistema está bem. Não há necessidade de mais linhas interbairros. Elas atendem bem à cidade. Já as alimentadoras sofrem com a dificuldade de acesso viário”, explicou. Por nota, o Urbana-PE, o Sindicato dos Empresários de Ônibus, defendeu que o transporte complementar seja pensado para o transporte de poucos passageiros.

Confira os números do sistema e algumas das linhas reivindicadas para serem criadas:
Infográfico por Ana Carolina Soriano (Loló)/Editoria de Artes JC



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