Presidente da entidade, Joseph Blatter, disse que estádios preocupam menos que mobilidade
O VLT de Brasília é um dos exemplos de que as obras de transportes preocupam toda a população. Há um atraso enorme na necessária modernização e priorização dos transportes públicos. Neste sábado, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, disse que o andamento das obras de transportes preocupa mais que dos estádios. Uma realidade que a população sente na pele todos os dias. Não bastasse a falta de comprometimento, a excentricidade de alguns governantes atrasa mais as intervenções na área, quando mudam os projetos e obras para modais mais caros e de implantação mais difícil cujos ganhos para a população não são proporcionais ao aumento dos custos e tempo de execução
A modernização dos sistemas de transportes públicos para atender de maneira eficiente a população.
O que é uma preocupação há anos do cidadão em diversas localidades do País, agora se torna também a principal atenção da Fifa, entidade máxima do Futebol.
É verdade que os transportes devem ser pensados para todos os contribuintes, independentemente de haver ou não um evento esportivo mundial no País. Mas também é fato que as cidades, que acumulam atrasos e descasos para os transportes, devem sim se aprimorar para receberem a demanda maior prevista para a Copa do Mundo de 2014. Neste sábado, em Tóquio, na última reunião do ano do Comitê Executivo da Fifa, o presente da entidade, Joseph Blatter declarou que para a Copa, o principal desafio para o País não são os estádios, mas a mobilidade. “Tenho recebido boas informações dos estádios, mas não de obras de infraestrutura e transportes” – disse Blatter.
O secretário geral da Fifa, que acompanha de perto a preparação para a Copa, Jérôme Valcke, que já havia criticado o trânsito de São Paulo, dizendo que os congestionamentos da Capital Paulista são um pesadelo, voltou a criticar os transportes no País. “Claramente o Brasil não está num estágio muito avançado” – disse. A necessidade de obras de transportes no Brasil para a Copa se explica principalmente por um motivo básico:
O SETOR DE MOBILIDADE URBANA FOI POR MUITO TEMPO ESQUECIDO. SE POR ACASO, OS TRANSPORTES JÁATENDEDESSEM ÀS NECESSIDADES DO CIDADÃO, ELES TAMBÉM SERVIRIAM À COPA, E NA PRÁTICA POUCAS OBRAS PRECISARIAM SER FEITAS.
No Brasil é possível sentir estes contrastes. Curitiba foi uma cidade que desde os anos de 1970 pensou em mobilidade urbana, com a implantação de corredores de ônibus exclusivos, os BRTs – Bus Rapid Transit. Hoje, para a mobilidade urbana, a cidade vai apenas ter de fazer algumas expansões e adaptações, além de requalificações. Uma das mais importantes é a extensão da Linha Verde Sul. O Corredor de Ônibus deve custar R$ 18,8 milhões e as obras já estão no canteiro.
Já Brasília foi uma cidade planejada, planejada para carros e para o poder, mas não para o transporte público. Por isso, a Capital Federal vai gastar muito e numa obra que não dá garantias de ficar pronta a tempo: trata-se do VLT – Veículo Leve Sobre Trilhos – que é projetado para ligar o Aeroporto até a região central do Distrito Federal.
Além disso, as mudanças de projetos por razões que causam polêmica também atrasam as obras e a necessária modernização dos transportes para os cidadãos. Foi o caso de Cuiabá. A troca de BRT (corredor de ônibus) para VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) causa não só polêmica, mas também é alvo de denúncia de adulteração de documentos e mais que dobrou o valor das obras no mesmo trecho, entre Várzea Grande e Cuiabá. O corredor de ônibus custaria R$ 500 milhões, com verbas que já tinham sido liberadas. De acordo com o Portal Transparência, do Governo Federal, agora vão custar R$ 1 bilhão 261 milhões e 600 mil. O BRT poderia transportar até 30 mil passageiros/hora sentido e o VLT, na prática, pela quantidade de composições que serão colocadas, não vai transportar mais que 50 mil passageiros/hora/sentido. (A propaganda oficial era de 80 mil passageiros, o que não será possível pelo limitado número de composições). É pouca diferença de capacidade entre um modo de transporte e outro para uma enorme diferença de preço.
A preocupação da Fifa e de milhões de brasileiros pode ser dimensionada por números do TCU – Tribunal de Contas da União. Segundo levantamento do TCU divulgado no início de dezembro, 54% das obras da Copa para transportes sequer tinham licitação. Das 49 obras de BRT, corredores simples, VLT e vias, 24 não foram licitadas.
E o pior: AS OBRAS NÃO ESTÃO SAINDO DO PAPEL E JÁ FICARAM MAIS CARAS – No geral, as obras de urbanização pularam de R$ 22 bilhões para R$ 27 bilhões. No Amazonas, o monotrilho que não saiu das intenções saltou de R$ 1, 3 bilhão para R$ 1, 5 bilhão. O BRT na cidade pulou de R$ 230 milhões para R$ 290 milhões. Em Minas Gerais, as vias de trânsito rápido, que incluem modernização viária e corredores de ônibus passaram de R$ 51 milhões para R$ 135 milhões.
Em Salvador a situação é preocupante também. Tanto em relação a preços como a prazos. Lá também o Governo local preferiu trocar o BRT por um metrô leve. A escolha sofreu duras críticas já que também há o temor de as obras não ficarem prontas até 2014.
Não é apenas o VLT ou o monotrilho (composição que trafega sobre elevados) que consomem mais que o previsto. O Rio de Janeiro apostou no sistema de BRT (corredores de ônibus rápidos e modernos). Serão 3 sistemas até a Copa – TransOeste, TransCarioca, Transbrasil, e um até as Olimpíadas de 2016 – TransOlímpica. Por se tratarem de obras mais simples e que exigem menos interferência no ambiente urbano, o cronograma é considerado relativamente tranqüilo, mas o orçamento de R$ 3,5 bi já foi superado.
FALTA TRANSPARÊNCIA:
Apesar de os discursos serem em prol da população, os governos estão preocupados mesmo em fazer ações na área de transportes para a Copa mesmo. É o que ocorreu em São Paulo. Quando o estádio cotado para sediar o mundial era o Morumbi, todos os discursos e atenções se voltaram a um monotrilho que está previsto para ligar o Aeroporto de Congonhas à região do estádio. Só foi a Fifa descartar o Morumbi, que as necessidades da população que seria atendida pelo elevado caiu para segundo plano e a linha Ouro, como é chamada, só deve ter uma das fases concluídas depois de 2014, ou seja, depois da Copa.
As atenções se voltaram para a Zona Leste de São Paulo, onde haverá o estádio pertencente ao fundo imobiliário Arena, da BRL Trust Serviços Financeiros, q ue vai ser usado pelo Corinthians.
Apesar de declarar a criação do Expresso da Copa (que na verdade é só um trem que vai direto do centro de São Paulo até a região de Itaquera), nem governo do estado e nem prefeitura deixam claro como serão as expansões e ampliações dos sistemas metroferroviários e de ônibus. Só dizem que vão ampliar a capacidade dos modais, mas pouco detalham como vão fazer isso.
MUITO DINHEIRO LIBERADO, POUCO AINDA VIROU OBRA:
Outro dado preocupante é em relação à efetiva aplicação de recursos para as obras de transportes:
De acordo com dados da Controladoria Geral da União, apenas 3% dos recursos para estas obras foram usados de fato até agora. De todos os valores previstos para transportes 18% já foram liberados, mas não foram aplicados.
A preocupação é: SE COM A PRESSÃO POR CONTA DA COPA, AS OBRAS NÃO ESTÃO NO RITMO CERTO, PASSADO O MUNDIAL, SERÁ QUE OS TRANSPORTES VÃO CAIR DE NOVO NO ESQUECIMENTO E O QUE ERA PARA VIRAR LEGADO PODE SE TRANSFORMAR NUM CANTEIRO DE OBRAS INCOMPLETAS?
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.
Ônibus Brasil