Créditos: Guto de Castro/Acervo
Numa reunião com partidos da base aliada do governo nesta quarta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, prometeu que o pacote de medidas para estimular a economia será anunciado na próxima semana, provavelmente, na terça-feira. Entre elas, a extensão da desoneração da folha de pagamento para, pelo menos, mais três setores da indústria e incentivos para ampliar investimentos. Um dos segmentos contemplados será o de produção de ônibus, em que o Rio Grande do Sul é líder.Segundo José Antônio Fernandes Martins, membro do conselho de administração da Marcopolo e presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (Fabus), a desoneração da folha de pagamentos do setor poderá permitir uma retomada das exportações de ônibus pelo Brasil. Em 2008, o Brasil chegou a exportar 6,5 mil unidades para países da América Latina, mas esse número caiu a 4 mil no ano passado. O executivo conta que países como o Chile, que costumavam comprar do Brasil, já importam da China. “Sentimos que os chineses já começam a agredir o mercado sul-americano. Estão querendo montar bases na América Latina, que é um mercado brasileiro”, destacou.
De acordo com Martins, a produção de ônibus no Brasil é praticamente artesanal e inclui todos os componentes, que vão de janelas, portas, painéis de instrumentos a ar-condicionado. “As medidas irão melhorar a nossa competitividade substancialmente.”
Com a montagem de 16.319 carroçarias de ônibus, o Rio Grande do Sul manteve a liderança nacional com 46% dos volumes totais de 2011. Mas o crescimento de 6,6% sobre a produção de 2010 ficou abaixo da nacional, que chegou a 9%, num total de 35,5 mil unidades. Maior fabricante de ônibus do Brasil, Caxias do Sul perdeu participação: caiu de 37% para 34% em 2011.
As duas empresas localizadas na cidade, Marcopolo e Neobus, montaram 12,2 mil unidades, apenas 1% de crescimento na comparação com o ano de 2010. Já a Comil, de Erechim, atingiu a marca de 4,1 mil veículos, crescimento de 36%, o maior dentre as encarroçadoras nacionais. Em função do resultado elevou de 10% para 11,5% sua participação no bolo total.
No caso da desoneração da folha, o acordo é para que a alíquota do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) seja reduzida de 20% para zero, e o empresariado opte pelo recolhimento de algo como 1% no faturamento. Pelo Plano Brasil Maior, a alíquota que vinha sendo adotada até agora, para alguns setores, chegava a 1,5%.
Além de Martins, do setor de fabricação de ônibus, o ministro Mantega recebeu também Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinne) e Rogério Mani, diretor da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). Barbato defendeu as medidas que, segundo ele, são fundamentais para que a produção nacional possa ganhar competitividade ante os produtos importados, que cada vez mais chegam ao País com preços inferiores aos do mercado interno. O baixo preço é provocado pelo dólar que, mais barato do que o real, entra no País atraído pelas altas taxas de juros e também por causa de mecanismos que provocam uma desvalorização artificial das moedas estrangeiras.
Ao contrário do que anunciaram representantes de outros setores que têm negociado com o governo, o representante da Abinee disse que Mantega não pediu a garantia da manutenção dos empregos em contrapartida aos benefícios à indústria. “Não houve nenhuma exigência de contrapartida até porque nós estamos tão sufocados que essas medidas chegariam em um momento em que a indústria está na UTI. Tudo praticamente está sendo importado. Não há como a gente dar alguma coisa em troca neste instante”, disse Barbato.
Pela proposta anunciada pelo representante da Abinee, a desoneração da folha de pagamento não seria para todo o setor elétrico, mas sim para quem produz 35 produtos utilizados nas áreas de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. De acordo com Barbato, outras medidas estão sendo estudadas, como a desoneração das exportações e a sobretaxa para produtos importados.
Produção da Marcopolo teve elevação de 2,5% no ano passado na comparação com 2010
Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (Fabus), a Marcopolo montou em 2011, em Caxias do Sul, 8.338 carroçarias, crescimento de 2,5% sobre 2010. A Neobus, por sua vez, apresentou queda de 1,5%, somando 3.863 unidades. Nestes volumes não está incluída a produção do Volare, modelo da Marcopolo, considerado pela Fabus como veículo pronto, e que entra nas estatísticas da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea). A Fabus computa somente as carroçarias vendidas. No caso do Volare, a Marcopolo faz a venda integrada da carroçaria ao chassi.Por modelos, o Rio Grande do Sul responde por 81% da produção nacional de rodoviários, com total de 6 mil ônibus, dos quais 75% têm a marca Marcopolo. Também é líder absoluto no segmento de micro-ônibus, com 3.845 veículos, equivalente a 77% da produção. A liderança é da Neobus, com 41% dos volumes nacionais. Nos modelos intermunicipais a participação é de 86%, com 2,4 mil unidades, das quais 1,7 mil montadas pela Marcopolo. Já em urbanos a representatividade cai para 20%, com 4.056 unidades, cabendo 1,6 mil para a Comil, representando 8% do volume nacional.
A produção brasileira de ônibus considerada pela Fabus se dá ainda em duas empresas, Caio/Induscar e Irizar, na cidade de Botucatu, interior de São Paulo, que respondem por 29% do total. Em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, está a Ciferal, controlada da Marcopolo, com participação de 18%. Há, ainda, a Mascarello, em Cascavel, no Paraná, com 7%.
Jornal do Comércio (RS)
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