Créditos: Diego Nigro/JC Imagem |
Nem saudosismo e nem bucolismo. O movimento que defende a volta dos trens de passageiros no Estado de Pernambuco está fundamentado em razões práticas: o transporte sobre trilhos é uma alternativa para se fugir dos engarrafamentos nas viagens por ônibus. A velocidade nos deslocamentos ocupa o topo da lista de vantagens apontadas por usuários das duas linhas em atividade, uma para o Cabo de Santo Agostinho e outra até o Curado, na Zona Oeste do Recife, todas partindo da Estação Cajueiro Seco, em Jaboatão dos Guararapes.
“É rápido, seguro, não atrapalha o trânsito, não para em sinal e não
fica preso nos engarrafamentos”, diz a comerciária aposentada Vânia
Maria Ribeiro, passageira do trem para o Cabo há 40 anos. “Apesar de
andar de graça no ônibus, porque já passei dos 60 anos, prefiro os
trilhos”, conta aos repórteres do JC que dividiram com ela um dos vagões
no trem das 11h47, segunda-feira (22).
A bem da verdade, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU),
operadora do sistema, substituiu as locomotivas a diesel pelo Veículo
Leve sobre Trilhos (VLT), movido a biodiesel, combustível derivado de
fontes renováveis, como óleos vegetais e gorduras animais, menos
poluente que os de origem fóssil (petróleo). A troca começou em outubro
de 2011 e terminou em fevereiro de 2012.
Os nove veículos comprados custaram R$ 69 milhões. Como as janelas de
vidro eram destruídas a pedradas, por vândalos, a CBTU mudou o material
para poliuretano, que trinca mas não quebra.
Vânia Ribeiro passou por todas as gerações de trem – vapor, diesel e
biodiesel – no período em que trabalhou no Centro do Recife. “A
locomotiva a vapor vinha fumaçando e fazendo troc-troc-troc nos trilhos.
Aposentaram as máquinas velhas e a viagem ficou melhor, no geladinho”,
destaca.
“O VLT tem ar-condicionado, hora certa para sair da estação, é
confortável e fresquinho. Uma opção para a gente não depender tanto do
ônibus. Só precisava ter mais veículos”, diz a autônoma Rosinalva da
Silva, 34. Ela pega o VLT no Cabo, paga R$ 1,60, desce em Cajueiro Seco e
segue até a Estação Central, no Recife, pelos trilhos do metrô, sem
pagar mais por isso. Faz o trajeto em 1 hora.
Uma viagem no VLT de Cajueiro Seco ao Cabo dura 36 minutos. No
ônibus, dependendo do trânsito, pode passar de uma hora. O problema do
VLT, observa o carpinteiro Ivanildo José da Silva, é o intervalo entre
as viagens. A primeira composição parte às 5h29 e a segunda, às 6h23.
“Se a gente perde um trem na estação, vai aguardar quase uma hora pelo
outro”, diz ele.
A espera é maior ainda para os passageiros com destino à Estação
Curado, único lugar do Recife atendido pelo VLT. O intervalo entre as
viagens é de uma hora e 48 minutos, podendo chegar a 2 horas e 42
minutos. Pela manhã, o trem sai de Cajueiro Seco às 5h49. Outro, só às
7h37. Fora do horário de pico, a situação é mais complicada. Depois da
viagem das 13h01, só se escuta o apito às 15h43.
De acordo com a CBTU, não há mistério para intervalos tão longos, mas
sim, dois problemas: a Estação Cajueiro Seco não recebe dois trens ao
mesmo tempo e só há uma linha até o Cabo.
Com essas dificuldades, é preciso organizar as viagens para os VLTs
do Cabo e do Curado não chegarem juntos em Cajueiro Seco. O resultado
dos arranjos são 32 viagens por dia no trecho Cajueiro-Cabo e 16 no
trajeto Cajueiro-Curado. A linha Curado tem menos viagens porque a
demanda é menor, justifica a empresa.
A CBTU pretende, até 2015, construir
uma plataforma extra em Cajueiro Seco e duplicar a estrada de ferro para
o Cabo. Com a nova plataforma, a estação receberá dois trens
simultâneos e será possível ofertar mais VLTS e viagens até o Curado.
Hoje, há uma máquina operando. Em 2015 serão duas. Na linha duplicada
até o Cabo, circularão quatro VLTs, um a mais do que o número atual.
Boa notícia para Érica Dias, 19 anos, que mora em Camaragibe e usa o
VLT do Curado até a Estação Marcos Freire, em Jaboatão, onde trabalha.
“Pego o trem às 7h09, lotado, e retorno às 17h47, do mesmo jeito”,
conta. No primeiro percurso, ela faz a integração metrô-trem pagando um
bilhete. Na volta, paga duas passagens porque as estações são
fisicamente separadas.
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O metrô, vindo de Camaragibe, para na mesma plataforma do VLT, no
Curado, explica a CBTU. O mesmo não acontece no sentido inverso. Se
Érica não quiser pagar duas passagens, terá de descer do VLT no Curado,
pegar o metrô voltando ao Recife, até a Estação Coqueiral, e fazer o
transbordo para Camaragibe, orienta a empresa. “Não vale a pena, perco
mais tempo”, diz ela.
José Wellington Ramos de Araújo, motorista, sugere a ampliação da
linha Curado até a rodoviária, no mesmo bairro. “Os trilhos existem, a
distância é mínima e seria um ganho para a população”, destaca. “Além
disso, deveria ter mais VLTs. O pessoal do Curado depende do trem ou do
ônibus Barra de Jangada para ir até Prazeres. De trem, são 32 minutos.
No ônibus, quase duas horas”, compara.
A distância da estação à rodoviária é de 1,3 quilômetro. Porém, a
linha não pertence à CBTU. É da MRS Logística. A CBTU solicitou à
concessionária o direito de usar o trilho e espera a resposta. Para André Cardoso, representante da ONG Amigos do Trem, que apoia a
mobilização de estudantes do câmpus de Nazaré da Mata da Universidade de
Pernambuco (UPE), pela volta do trem de passageiros, o VLT atende bem a
área urbana. “Poderia circular nas Avenidas Caxangá, Agamenon Magalhães
e Norte, no Recife”, opina. Na zona rural, diz ele, as locomotivas são mais adequadas, por serem
robustas. “Há trens em desuso que poderiam ser aproveitados na
reativação da linha para Nazaré da Mata”, sugere André.
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