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Créditos: Guto de Castro/Acervo |
A estudante Thâmara Morais, 23 anos, nasceu no mesmo ano em que foram
inaugurados os dois primeiros terminais integrados do Recife: PE-15 e
Macaxeira. Sete anos anos antes dela nascer, o modelo do sistema
integrado já havia sido idealizado.
É graças a esse sistema de integração que Thâmara e um universo de
quase um milhão de usuários paga apenas uma passagem por dia para se
deslocar para qualquer município da Região Metropolitana do Recife. O
modelo do SEI, uma criação genuinamente pernambucana, se tornou
referência no país. Trinta anos depois, no entanto, especialistas
discutem a necessidade de modernizar o sistema com integrações fora dos
muros dos terminais.
Para chegar de sua casa na Várzea para a Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), onde está concluindo o curso de Serviço Social,
Thâmara faz duas integrações. Ao entrar no sistema pelo metrô, na
estação Ipiranga, ela paga a tarifa de R$ 1,60. Na estação Barro, ela
pega o ônibus até o terminal da Macaxeira e de lá a linha
Barro/Macaxeira Várzea. “Às vezes demora mais de uma hora por causa do
trânsito. Mas prefiro do que pagar duas passagens”, explicou.
A premissa básica do SEI de inclusão social permitindo uma única
tarifa para o sistema é sua maior conquista. Mas outro fator começa a
pesar e é determinante para atrair novos usuários: o tempo. Para o
professor de engenharia da UFPE, Maurício Andrade, o SEI está falhando
nesse quesito. “As pessoas estão perdendo muito tempo nas integrações e
há um nível muito alto de desconforto”, afirmou.
A doméstica Maria do Carmo Queiroz, 51 anos, pega três ônibus por
dia. Ela reconhece a vantagem de pagar só uma passagem, mas gostaria de
encurtar as viagens. “Se pudesse ser pelo menos dois ônibus para chegar
onde trabalho, seria melhor. Perco quase duas horas por dia para ir e
voltar”, criticou.
O professor Maurício Andrade defende a criação de linhas diretas
dentro do SEI com o objetivo de reduzir as integrações. “Para um
determinado público, o tempo é mais relevante .Talvez esteja na hora de
criar alternativas de linhas diretas, mesmo que o preço seja maior. A
pesquisa de origem e destino que será feita poderá identificar se há
demanda para esse tipo de serviço”, apontou.
Também defensor de modernizar o sistema, o diretor de planejamento do
Grande Recife, Maurício Pina, sugere a integração fora dos terminais.
“A essência do SEI deve ser mantida, mas devemos aproveitar o potencial
tecnológico existente hoje e que não havia naquela época para que as
integrações também possam ser feitas fora dos terminais”, afirmou.
Especialista em mobilidade o engenheiro Germano Travasso, que é um dos
pais do modelo do SEI, explica que o sistema já previa a integração
temporal. “o SEI previa integrações entre linhas convencionais. Para
tal, era necessário consolidar primeiro a macro estrutura do sistema, os
Corredores Estruturais, e só então promover integrações temporais entre
as linhas remanescentes. Seria inadequado promover integrações
generalizadas com a rede atual de linhas, cheia de irracionalidades.
Caso venha a ser feito, aumentará as ineficiências e, consequentemente o
valor das tarifas pagas pelos usuários”, afirmou.
Trinta anos e não ficou pronto
Os técnicos que idealizaram o SEI há 30 anos imaginaram uma metrópole
cortada por sete radiais (vias verticalizadas) cruzando com quatro
perimetrais (vias horizontais) e nas interseções os terminais
integrados. Na década de 1990, foram construídos os sete primeiros
terminais de integração dos 25 previstos. Na década seguinte, outros
seis foram entregues, totalizando 13 em 20 anos.
Nos últimos dez anos, sete outros equipamentos foram inaugurados e
outros cinco ainda estão em obras com previsão para este ano, depois de
vários adiamentos. “Não se pode negar os investimentos que foram feitos
nestes últimos anos para o transporte público depois de um longo período
de abandono”, apontou Maurício Pina.
Mas há outras intervenções que também foram esquecidas. Das quatro
perimetrais previstas até hoje há apenas a primeira. As perimetrais 2,3
estão com os projetos na prefeitura do Recife e a 4ª perimetral
localizada na BR-101 está com o estado. A obra chegou a ser licitada,
mas as obras não foram iniciadas.
Diário de Pernambuco