Créditos: Michele Souza/JC Imagem
O primeiro Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) do Recife ligará a Zona Norte à área central da capital pela abandonada Avenida Norte, conectando os terminais integrados da Macaxeira e de Joana Bezerra, dois dos mais importantes do Sistema Estrutural Integrado (SEI), mas deverá levar, com sorte, três anos para ficar pronto depois que as obras começarem. Ou seja, o recifense só sentirá a diferença de usar um sistema de transporte leve sobre trilhos em, pelo menos, quatro anos, já que a prefeitura estima o período de 12 meses, no mínimo, para iniciar os trabalhos. O VLT e outros projetos de transporte coletivo aprovados pelo governo federal receberão recursos no valor de R$ 1,9 bilhão.
Ainda não há muitos detalhes técnicos e vários questionamentos estão sem respostas para o projeto do VLT na Avenida Norte. Mas o princípio defendido pela Prefeitura do Recife, colocado pelos secretários de Desenvolvimento e Planejamento Urbano, Antônio Alexandre, e de Infraestrutura e Serviços Públicos, Nilton Mota, é que o Recife precisa se preparar não só para a inversão de prioridades, mas também para uma mudança gradual do modelo de transporte. “Estamos sempre acostumados ao ônibus como solução, mas o VLT além de ser um transporte de alta capacidade, que urbaniza o entorno, foi a solução defendida pelo governo federal para a liberação de recursos. Vamos dar um salto de qualidade no transporte não só da capital, mas também metropolitano porque o passageiro de outras cidades será beneficiado”, prometeu Nilton Mota.
O VLT pensado pela prefeitura terá 13,4 quilômetros, começando no TI da Macaxeira e seguindo até o TI Joana Bezerra pela Avenida Norte (nove quilômetros só nela), Cais do Apolo, Ponte Giratória, Cais de Santa Rita e Avenida Sul, até se conectar ao terminal por vias locais da Ilha de Joana Bezerra. Terá 11 estações de embarque e desembarque, sendo que quatro delas serão estações de transferência (transbordo) para que a principal demanda do corredor, hoje existente nos morros, venha de ônibus e se integre ao VLT. “Essas estações ficarão na conexão da Avenida Norte com vias já atendidas por outros sistemas, como é o caso do BRT (Bus Rapid Transit) construído pelo Estado, na Avenida Cruz Cabugá e Agamenon Magalhães, além da II e II perimetrais”, ressaltou o secretário Antônio Alexandre. O projeto executivo do VLT e sua execução serão licitados juntos, no modelo de RDC (Regime Diferenciado de Contratação), ao custo de R$ 1,6 bilhão.
Na prática, o principal fundamento para escolha do VLT é que o projeto está, sim, alinhado à integração tarifária e ao modelo existente e planejado no Plano Diretor de Transportes Urbanos (PDTU). A demanda estimada de passageiros para o VLT da Avenida Norte é de 128 mil passageiros por dia. (podendo chegar a 210 mil) o que na avaliação dos secretários é suficiente para justificar a escolha do modal (tipo de veículo escolhido) e, consequentemente, sua operação. “Não podemos mais adotar projetos que propõem grandes desapropriações para abrir vias. Por isso o VLT é tão propício para a Avenida Norte, um corredor extremamente adensado e já acomodado, com alta demanda de passageiros. Podemos operá-lo utilizando apenas entre seis e sete metros da calha (largura, espaço da via) da avenida.”, argumentou Antônio Alexandre.
DÚVIDAS – O custo de operação, quem irá financiá-lo e como o novo sistema será adequado à licitação das linhas de ônibus, já em curso depois de muitos atropelos, são os três principais questionamentos que a comunidade técnica faz sobre a implantação do VLT na Avenida Norte e, futuramente, dos outros dois projetos que a Prefeitura do Recife irá estudar – um VLT ligando o TI Joana Bezerra à Avenida Armindo Moura, no limite com Jaboatão dos Guararapes, e outro no Centro, com vários traçados possíveis.
Em reserva, técnicos ouvidos pela reportagem, que preferiram não se pronunciar oficialmente por não conhecer detalhes do projeto, destacam o temor de o futuro VLT não ter receita suficiente para bancar sua própria operação. E, consequentemente, virar um sistema semelhante ao metrô do Recife, que apesar de andar abarrotado é subsidiado em quase 80% dos seus custos pelo governo federal, recebendo recursos que mal cobrem suas despesas de custeio, quem dirá investimentos.
Alguns técnicos argumentam que a demanda da Avenida Norte não é lindeira (da via), vem dos morros. Ou seja, o passageiro terá que pegar um veículo para integrar com o VLT. E como se dará essa remuneração depois que o sistema estiver licitado para uma operação feita por ônibus, que é muito mais barata do que um VLT?. “De fato, ainda não entramos nesse nível de detalhamento, como saber se a demanda cobre ou não os custos de operação do VLT. Mas em todo o mundo os sistemas de transporte são subsidiados e, provavelmente, o Brasil vive um momento em que a mobilidade terá que ser encarada como a saúde e a educação. E sobre a licitação, não poderíamos deixar que ela fosse um impedimento para qualificarmos nosso transporte. No futuro, os ajustes necessários serão feitos”, rebateu o secretário Nilton Mota.
Saiba mais sobre os projetos
VLT Linha Norte – (recurso garantido para projeto e obra)
Interligará os TIs Macaxeira (Zona Norte) e Joana Bezerra (área central) pela Avenida Norte. Terá 13,4 km (sendo 9 km da Avenida Norte), passando pelo Cais do Apolo, Ponte Giratória, Cais de Santa Rita e Avenida Sul, até chegar ao TI Joana Bezerra. Será central, com VLTs de dois vagões, cada um com capacidade para 320 passageiros.
11 estações de embarque e desembarque estão previstas
4 delas serão de transferência (transbordo), localizadas no cruzamentos com a Avenida Cruz Cabugá, Agamenon Magalhães (I perimetral), II e III perimetrais
128 mil passageiros é a demanda atual da Avenida Norte
1,6 bilhão é o valor do projeto e da construção do VLT
119 milhões de reais é o custo por quilômetro do VLT (a prefeitura argumenta que o valor é alto porque inclui a requalificação estrutural da Avenida Norte, como drenagem, embutimento de fiação, recuperação de calçadas e implantação de ciclovia
1 ano, no mínimo, é a estimativa para as obras começarem
30 meses é o tempo previsto de construção
Corredores de BRS - (recurso garantido para projeto e obra)
Cinco corredores de BRS estão previstos para serem implantados até agosto de 2014. Os valores da PCR estão bem mais altos porque incluem o custo com a recuperação do pavimento. Um quilômetro de BRS, segundo padrão técnico, custa entre R$ 100 mil e R$ 500 mil.
98,3 milhões de reais é o custo total dos BRS, incluindo projetos e obras
* Avenida Abdias de Carvalho (5,5 km – R$ 21,9 milhões)
* Avenida Beberibe (3,5 km – R$ 17 milhões)
* Avenida Recife (2,6 km – R$ 10,2 milhões)
* Avenida Mascarenhas de Moraes (8 km – 31,8 milhões)
* Avenidas Conselheiro Aguiar e Domingos Ferreira (11,3 km – R$ 17 milhões)
Rota Sul do corredor de transporte fluvial (recurso garantido para projeto e obra)
8 km é a extensão
7,2 mil passageiros seriam transportados por dia
170 milhões de reais é o custo
Corredores de VLT Centro e Sul (recurso garantido apenas para elaboração de projeto)
VLT Linha Sul (do TI Joana Bezerra à Avenida Armindo Moura, limite entre Recife e Jaboatão) – 9,4 km – R$ 20 milhões
VLT Linha Centro (há várias opções de percurso) – 10,1 km – R$ 11,7 milhões
Blog De Olho no Trânsito
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