Créditos: Guto de Castro/Acervo
A primeira
experiência da enfermeira Anielle Samara de Souza com viagem de avião foi bem
complicada. Os problemas começaram na hora de comprar as passagens de ida e
volta entre Uberlândia e São Paulo: sem querer, ela digitou o nome incompleto. Depois
tentou corrigir, mas a companhia aérea não aceitou; sugeriu que ela cancelasse
a passagem para posteriormente receber o dinheiro de volta, e comprasse outra.
Foi o que ela fez, mas logo descobriu que já não havia passagens de promoção
disponíveis, e assim, para pagar o mesmo preço de antes teve que antecipar a
viagem em 12 horas e descer em Campinas.
“Precisei
trocar a folga no trabalho e não sei quando vou receber de volta o dinheiro da
primeira compra. O valor vai ser cobrado na próxima fatura do meu cartão de
crédito” – lamentou Anielle ao reportar o episódio, que teve outros desdobramentos
desagradáveis. Uma pessoa iria apanhá-la à noite no aeroporto de Congonhas e,
como ela chegou às 13 horas, vinda de Campinas, teve de ficar mais de seis
horas esperando até ser apanhada.
Se
Anielle tivesse embarcado na rodoviária de Uberlândia, teria chegado ao terminal
com apenas 10 minutos de antecedência, embarcado sem stress e desembarcado
direto em São Paulo oito horas depois, a bordo de um ônibus bem confortável.
Esse foi o tempo que ela gastou no complicado percurso Uberlândia–Campinas–São
Paulo. Também teria escolhido entre quatro opções de horários, dos quais três
em ônibus convencional e um executivo. A companhia aérea lhe ofereceu duas.
É
verdade que estes não são os transtornos mais comuns para quem viaja de avião.
Mas o que dizer dos atrasos e cancelamentos constantes por razões
meteorológicas? E como explicar desvios motivados por acidentes como o que
ocorreu em Congonhas, onde um jatinho perdeu os freios e provocou a interdição
da pista? Algo ainda pior aconteceu em Viracopos, Campinas, onde um avião
cargueiro quebrou o trem de pouso e causou a interdição de pousos e decolagens por
dois dias, infernizando a vida de 25.000 passageiros de várias companhias.
Tornaram-se mais ou menos comuns os problemas nos sistemas de controle de
check-in das operadoras aéreas, ocasionando centenas de atrasos nos voos.
CONVIVÊNCIA
É
claro que, em situações normais, as modalidades rodoviária e aérea de transporte
de passageiros oferecem espaço para uma convivência em regime de competição
comercial. O passageiro escolhe a opção que mais lhe convém. Por exemplo: não
faz muito tempo que o engenheiro Francineto dos Santos Queiroz, do Rio de
Janeiro, estava trabalhando em Santos. Para ele, a melhor maneira de ganhar
tempo era viajar de ônibus pela Rodovia Rio-Santos. Atualmente, ele trabalha em
São Paulo e continua morando no Rio de Janeiro. Optou então pelo avião.
Já o
casal Walter Braga e Maria Bernadete, que mora em Londrina-PR, usa sempre os
ônibus da Viação Garcia em suas viagens de ida e volta a São Paulo. A mesma
opção é feita para ir do Paraná ao Espírito Santo. “Nós gostamos muito de
viajar de ônibus”, diz Bernadete. “E é mais barato”, emenda Walter.
NOVOS
VIAJANTES
A
classe média brasileira, que segundo recente estudo do Banco Mundial cresceu
50% nos últimos dez anos, estimulou não só a compra de automóveis – o que,
teoricamente, poderia tirar passageiros dos ônibus – como também fez aumentar o
interesse por viagens. O resultado foi o aumento do volume de passageiros nas modalidades
ônibus e avião. Num primeiro momento, as companhias aéreas passaram a oferecer
promoções e passagens pagas em muitas parcelas. Em consequência, uma parte dos passageiros
de menor poder aquisitivo trocou momentaneamente de modal. Isso afetou
principalmente as rotas de longa distância, como, por exemplo, entre São Paulo
e a região Nordeste. Ocorreu, no entanto, que os prejuízos acusados nos
balanços trimestrais das companhias aéreas no ano passado, somados ao aumento
no preço dos combustíveis, levaram a aumentos nas tarifas de avião. Isso tem
levado de volta ao ônibus muitos passageiros das rotas de longa distância.
Claro
que nas distâncias de até 300 ou 400 quilômetros e nas cidades sem ligações
aéreas adequadas com os grandes centros, o ônibus continua sendo a melhor opção
para o usuário.
Porém,
mesmo nas distâncias maiores, uma eventual opção pelo avião deve considerar que
o tempo gasto na viagem precisa ser acrescido do tempo de deslocamento até o
aeroporto (principalmente em metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro), e a
vários outros fatores como aqueles 60 minutos de antecedência exigidos para o
check-in, a superlotação dos aeroportos, os constantes atrasos para a decolagem
(muitas vezes provocados por questões meteorológicas), a demora para desembarcar
a bagagem no destino e o tempo de deslocamento do aeroporto até o ponto final
da viagem. Tudo isso pode anular pelo menos parte da vantagem da maior velocidade
do avião.
Outro
detalhe importante é que as viagens rodoviárias se beneficiam da melhor
localização dos terminais – quase sempre mais próximos dos centros das grandes
cidades e melhor servidos de transporte público. É o caso do Terminal
Rodoviário Tietê, de São Paulo. Ali, a administradora Socicam controla a
movimentação de 2.500 ônibus e 450.000 passageiros por dia. A pontualidade das
partidas é controlada por um sistema de softwares que libera o acesso de cada veículo
exatamente 15 minutos antes do embarque dos passageiros, para que a partida
ocorra no horário e sem filas. As empresas mantêm seus veículos em pátios
próximos do terminal para evitar atrasos em dias de grande movimento. Os ônibus
de linhas curtas deslocam-se diretamente da área de desembarque para a de
embarque e, nos raros casos de atraso na chegada, o veículo programado é
substituído por um reserva mantido de plantão nas proximidades. O Terminal
Tietê dispõe de circuito interno de TV, que monitora todas as suas instalações
e arredores para garantir a segurança dos frequentadores. Também conta com um
centro de compras e com amplas salas de espera. Algumas empresas mantêm salas
VIP no local.
RETOMADA
O professor
Leonardo Vasconcelos, da Universidade de Brasília, com mestrado em transportes,
lembra outras diferenças:
“A
aviação regional, ligando as capitais ao interior dos Estados, opera com aviões
de menor capacidade, que são mais lentos e estão sujeitos aos mesmos
contratempos de infraestrutura e meteorologia da aviação nacional. Ela perde
para os ônibus por não dispor da mesma quantidade de frequências das viagens
rodoviárias, sem falar que a rede de aviação regional ainda é muito limitada
quando se considera o tamanho do país.”
Além
disso, ele chama atenção para o fato de que as empresas de ônibus não só
adotaram práticas e inovações que anteriormente eram típicas do transporte
aéreo, como introduziram outras, com a implantação da compra virtual de
passagens, de classes de serviço diferentes em um mesmo veículo, de segmentação
tarifária conforme o tempo de antecipação na compra da passagem, entre outras
comodidades ao usuário. Finalmente, o professor Vasconcelos observa que muitos
usuários, entre eles os pequenos empresários e profissionais liberais que
transitam frequentemente nas médias distâncias, “começam a enxergar a vantagem econômica
e de conforto quando utilizam ônibus mais equipados em substituição ao avião”.
Essa
tendência, aliás, já foi apontada pelo jornal Folha de S. Paulo, que informou
sobre um aumento de 20% nas vendas de passagens rodoviárias, no ano passado, em
comparação com as vendas de 2011. Segundo o mesmo jornal, no final de 2012 na
linha São Paulo-Rio de Janeiro, a mais movimentada do país, com dois milhões de
passageiros por ano, esse crescimento foi de 15%.
Ouvido
sobre o assunto, também o consultor de transportes Adriano Murgel Branco,
ex-secretário de Transportes do Estado de São Paulo, disse entender que, além
de o transporte rodoviário de passageiros oferecer tarifas mais baixas em
qualquer distância, suas outras vantagens são mais nítidas nas viagens de curta
distância, como também nas médias distâncias onde não haja voos regulares.
MAIS
SERVIÇOS
Diretor
da Viação Cometa, Anuar Helayel assegura que as empresas rodoviárias vêm
ganhando terreno não só por causa da elevação do preço das tarifas aéreas, mas
porque elas passaram a oferecer mais itens de conforto no interior dos ônibus e
maior variedade de serviços. Por exemplo, os ônibus, sempre novos, ganharam configurações
com assentos de primeira classe nos modelos executivos. Os passageiros de
primeira classe têm poltronas com graus variáveis de inclinação e recebem manta
e lanche na viagem. Os ônibus convencionais estão equipados com ar-condicionado
e sistema wi-fi de internet a bordo.
“A
capilaridade e o maior número de frequências do sistema rodoviário são fatores
imbatíveis na comparação com o aéreo”, afirma o executivo.
Ele
enumera outras comodidades. Uma delas é o fato de as passagens poderem ser
compradas não apenas nos guichês e totens instalados nos terminais rodoviários,
mas ainda por call center, internet, smartphone e nos sites especializados. O
pagamento pode ser parcelado em até dez vezes. No caso da Cometa, ela também
criou um cartão fidelidade com o qual, a cada dez trechos viajados, o
passageiro ganha um.
“Nas
viagens de 400 a 500 quilômetros, temos condições de competir com o modal
aéreo, o que é comprovado por nossos contratos corporativos, e apesar de as
passagens aéreas não serem tributadas com o ICMS, enquanto as rodoviárias são”,
diz Helayel.
Segundo
o executivo, a inclusão das empresas de transporte rodoviário na nova
sistemática de cobrança do INSS, agora feita com base no faturamento e não mais
na folha de pagamento, permitirá o repasse de benefícios para os passageiros.
O PRAZER DE VIAJAR DE ÔNIBUS
Há
algum tempo, a jornalista Lilian Beclende, que mora em Campinas mas viveu nos
últimos dez anos em Londres, resolveu fazer, em companhia de um amigo inglês,
uma viagem de quinze dias pelas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Para
economizar, decidiu-se pelos ônibus de linhas regulares.
“Em
cada lugar onde chegávamos, eu fazia a programação do trecho seguinte e sempre
conseguia encontrar passagem para o dia e o horário que procurava”, conta a
jornalista.
Maior distância entre os assentos também contribui para um maior conforto nos ônibus.
Nas
distâncias maiores, eles viajavam à noite para poupar o custo do pernoite em
hotel. Foi assim que saiu de Campinas para Curitiba, daí para Foz do Iguaçu,
depois para Florianópolis. A viagem prosseguiu para o Rio de Janeiro, e em
seguida ela e o amigo pegaram a Rio-Santos rumo ao litoral norte paulista. Dali
seguiram para São Paulo, de onde partiram para as cidades históricas de Minas
Gerais. Lilian conta que ambos ficaram encantados com a qualidade dos ônibus e
dos serviços oferecidos.
“Se
fosse possível fazermos toda a viagem de avião, certamente o gasto seria muito
maior e não teríamos apreciado a paisagem diferente e encantadora dessas duas
regiões do Brasil.”
Operadora
autônoma de turismo em Caldas Novas-GO, Wanessa Silva Rocha viaja duas a três
vezes por mês para São Paulo, sempre de ônibus, embora já tenha usado avião
algumas vezes. Nem sempre ela consegue aproveitar as promoções das companhias aéreas
porque a viagem é decidida na última hora; já o ônibus, tem tarifa fixa e está
sempre disponível.
“É
uma questão de gosto, adoro estrada, gosto do ruído dos pneus rodando no
asfalto e aprecio as paisagens do caminho”.
Ela
diz que se programa para viajar e que não fica cansada, mesmo levando 12 horas
em cada pernada, pois sempre dorme uma parte da viagem. Em geral, viaja nos
ônibus convencionais, saindo de São Paulo às duas da tarde e chegando a Caldas
Novas às duas da madrugada. Na sua opção, contam também o custo da passagem e a
facilidade de acesso ao Terminal Tietê por metrô.
No
caso do haitiano Marc Elie, professor de línguas, que mora há dois anos no
Brasil, as viagens são para a cidade do Rio de Janeiro. Sempre que tem uns dias
de folga ele toma o ônibus e vai lá visitar os amigos. A opção é sempre pelo
ônibus convencional. Compra a passagem na hora e não tem preferência por
empresa: “Viajo naquela que tem o horário mais próximo”.
O
motivo das viagens do administrador de empresas Fernando Greselle é profissional.
Ele tem família em São Paulo e trabalha há quatro anos em Curitiba. É passageiro
habitual da Viação Cometa e aprecia os serviços da empresa: “Os ônibus são
confortáveis, as poltronas espaçosas e aguardo o embarque na sala VIP.”
Ele descobriu
recentemente que a internet é liberada no ônibus. Mora na Vila Mariana, próximo
do metrô, o que facilita o deslocamento até o terminal rodoviário.
“Se
fosse de avião, alguém teria de me dar carona ou eu precisaria ir de táxi. Sem
contar que passagem de avião é muito mais cara. A opção pelo ônibus é de ordem
econômica mesmo”, salienta.
A política
tarifária é diferente entre os modais rodoviário e aéreo. Enquanto no
rodoviário a tarifa é fixa e específica para cada tipo de serviço (convencional,
executivo, leito e primeira classe), no aéreo ela varia de acordo com a
antecedência da compra e com as promoções. A tabela cheia, geralmente aplicada
quando se aproxima a hora do embarque, tem valor até dez vezes maior que no
modal rodoviário.
Sem
nenhuma dúvida, na comparação das tarifas a vantagem é do sistema rodoviário
sobre o aéreo, como se pode ver na tabela abaixo. Ela mostra O ônibus é a
melhor opção. Basta comparar.que, na rota São Paulo-Rio, a tarifa de 1ª classe,
a mais cara da Viação Cometa, custa R$129,00. Portanto, é mais baixa do que a
maior promoção oferecida nos sites da Tam (R$ 144,00) e da Gol (286,00) para a
ponte aérea entre as duas capitais. Além de mais cara, na promoção das aéreas a
compra tem de ser feita com antecedência. Se o passageiro comprar a passagem na
véspera estará sujeito à tarifa cheia, que, na Gol, varia de R$ 853,90 a R$ 1.219,90
e, na TAM, de R$703,00 a R$ 1.310,00, conforme os sites oficiais das duas
empresas.
A tarifa
mais barata da Tam (R$144,00) custa mais que o dobro da do ônibus convencional
com ar-condicionado da Cometa (R$ 70,50). E a da Gol (R$ 286,00) equivale a 2,2
vezes a tarifa do ônibus de 1ª classe (R$ 129,00). As empresas de ônibus
interestaduais oferecem três a quatro opções de tarifas, dependendo dos níveis
de conforto de cada um: convencional, executivo, leito e 1ª classe. Nesta
última opção, há um grupo de poltronas segregadas que proporcionam ainda mais
conforto em um ônibus executivo.
Abrati/Portal Ônibus Paraibanos