Novo híbrido da Eletra vai aproveitar melhor energia elétrica. Novidade em transporte público foi anunciada no Salão Latino-Americano
de Veículos Elétricos e Componentes. Toyota vai comercializar a partir
de outubro carro de passeio elétrico híbrido.
Ônibus elétrico da usina de Itaipu. Créditos: Adamo Bazani/Ponto de Ônibus
Os veículos de tecnologia
limpa, em especial os movidos totalmente ou parcialmente a energia
elétrica não são mais tendências, mas realidades que estão em ampla
expansão. E o uso destes veículos que não agridem o meio ambiente e o
bolso dos operadores poderia ser maior se houvesse mais estímulos
públicos para desenvolvimento de pesquisa e para a criação de subsídios
para produção, talvez subsídios semelhantes aos dados à gasolina, motos e
veículos de passeio comuns cujo excesso deles é uma das causas da
poluição nas cidades além do trânsito que beira o caos.
Esse foi um sentimento fácil de ser notado entre os principais
expositores no VE – 8º Salão Latino-Americano de Veículos Elétricos e
Componentes, realizado na Capital Paulista, e que reuniu diversas alternativas de tração elétrica desde para bicicletas como para ônibus de grande porte.
Um dos destaques ficou para o ABC Paulista, com a empresa Eletra
Industrial, com sede em São Bernardo do Campo, que produz sistemas para
ônibus elétricos híbridos e para trólebus.
A companhia expôs no evento um ônibus elétrico híbrido que é usado desde
2010 na Usina de Itaipu. Com carroceria Mascarello, motor elétrico WEG,
motor a combustão Mitisubishi, chassi Tuttotrasporti e sistema da
Eletra, o veículo chamou a atenção dos visitantes da feira pelo seu
porte, design e tecnologia embarcada.
Mas o ônibus, conhecido por quem acompanha o setor, já tem sucessores pela própria empresa Eletra.
A fabricante vai lançar em setembro, mas já adiantou a informação para a
reportagem, o Híbrido BR, nome dado em razão à nacionalização total do
veículo.
O motor a combustão também será do ABC Paulista, fabricado pela Mercedes Benz do Brasil, e já obedece às novas
normas de redução de poluentes previstas pelo Proconve – Programa de
Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores fase P 7, com base
nas normas internacionais Euro V. Este motor pode funcionar com o diesel
S 50 (com menos partículas de enxofre) ou com diesel de cana de açúcar,
que é diferente do etanol.
Este modelo de híbrido vai poluir ainda menos que os veículos deste tipo
já existentes no mercado, não só pelo motor a combustão que obedece aos
padrões Euro V e que pode operar com o combustível de cana de açúcar,
mas também por modernizações na tração elétrica. O consumo de
combustível também será menor.
A gerente comercial da Eletra, Ieda Maria Alves de Oliveira, conta que a energia elétrica será melhor aproveitada.
“O sistema desse Híbrido BR possui baterias desenvolvidas pela Moura
Brasil que não se diferem dos padrões atuais do mercado, mas conseguem
ter uma performance maior. Além disso, o sistema vai conseguir
aproveitar melhor a energia gerada pelo motor a combustão e pelas
frenagens. Na prática, o ônibus vai ter mais energia sem esforçar para
isso o motor a diesel ou diesel de cana de açúcar” – disse a gerente.
Um conjunto de baterias mais modernas com um sistema que aproveita mais
energia elétrica não significa mais peso e mais espaço ocupado dentro do
ônibus.
É o que garante o administrador de contratos da Eletra, José Antonio Nascimento.
“Hoje conseguimos fazer equipamentos de inversão, de gerenciamento
eletrônico e todo o sistema de integração, em tamanhos inferiores e
consequentemente com menor peso. Por exemplo, no ônibus apresentado
aqui, todos os equipamentos eletrônicos que formam a ‘inteligência do
veículo’, contando com os inversores, ocupam toda a parte traseira do
ônibus, que é de 2010. Os ônibus novos já vão contar com espaços mais
livres” – contou José Antônio do Nascimento.
TRÓLEBUS NOVO PARA O ABC:
Já está na garagem da Metra, empresa que opera trólebus e ônibus no
Corredor ABD, que liga a zona Leste de São Paulo à zona Sul, passando
por municípios do ABC Paulista, um novo trólebus de 18 metros de
comprimento que conta com avançados sistemas de tecnologias. O destaque
fica por conta das baterias que dão autonomia ao trólebus em caso de
problemas na rede área e na alimentação elétrica.
“Se houver queda de energia ou problema em alguma subestação no trajeto,
o trolebus tem uma autonomia de 5 quilômetros se estiver totalmente
lotado ou de até 7 quilômetros se estiver com menos peso para chegar a
uma subestação que não estiver com problema ou terminar a viagem” –
contou Ieda Maria Alves de Oliveira, gerente comercial da Eletra.
O veículo, refrigerado a água, tem um peso menor se fosse comparado a um
trólebus articulado de tecnologia anterior, ar condicionado e tomadas
internas pelas quais os passageiros podem carregar celulares e
notebooks.
Já está em operação no corredor um veículo semelhante de 15 metros, com três eixos.
CARRO HÍBRIDO QUER CONQUISTAR MERCADO BRASILEIRO:
Se apesar de terem espaço para mais crescimento, os ônibus híbridos já
são realidade no mercado brasileiro, o setor de carros de passeio deve
começar a entrar na era híbrida no País.
A Toyota exibiu no evento o modelo Prius, um carro elétrico híbrido que
assim como boa parte dos ônibus já produzidos no Brasil, dispensa o
carregamento de energia por fontes externas, ou seja, não precisam ser
plugados para terem as baterias recarregadas.
Mas o veículo da Toyota é importado. A montadora ainda não definiu os
valores, porém acredita na relação custo/benefício do carro, que além de
diminuir a emissão de poluentes vai reduzir o consumo de gasolina.
O fato de o carro ser importado não significa que ele não terá a cara do
Brasil, como garante o diretor de assuntos governamentais e relações
públicas da Toyota, Ricardo Bastos.
“Foram cerca de dois anos de estudo para adaptar o modelo mundial aos
padrões do mercado brasileiro. Foram levados em consideração pontos como
características das estradas brasileiras, condições climáticas e até o
estilo de como gosta de dirigir o brasileiro e as características da
gasolina nacional” – disse o executivo.
A Toyota já comercializou 2,7 milhões de carros híbridos no mundo e
agora tenta, mesmo que aos poucos, introduzir a tecnologia no Brasil.
Hoje o Prius é feito no Japão, China e Indonésia. A produção no Brasil
não está descartada, mas a decisão da empresa vai depender da demanda
pelo carro e das condições de políticas governamentais quanto a
incentivos de produção de veículos menos poluentes.
MAGRELAS ELETRIZANTES:
Mas a tração elétrica não faz mais parte somente da realidade do mercado
de luxuosos carros de passeio ou mesmo dos grandes ônibus para os
transportes de massa. As bicicletas também agora têm uma energia a mais,
além das pedaladas do condutor.
O segmento de bicicletas elétricas tem ganhado aos poucos mais mercado.
Os modelos vendidos no Brasil podem ter preços entre R$ 2000 e R$ 17000 .
As marcas Velle, Sense, Kinetron, EvoluBike e GeneralWings apresentaram
no Salão do Veículo Elétrico diversos modelos tanto para uso urbano como
para fora de estrada.
Destaque para o modelo dobrável que pode ser guardado num canto do
escritório e até ser melhor transportado em ônibus ou no metrô.
Mas por que uma bicicleta elétrica se basta pedalar para conduzir o meio de transporte?
A explicação está no fato de a bicicleta ser um meio de deslocamento do
dia a dia não apenas para o lazer. A bicicleta elétrica exige menos
esforço do condutor que pode enfrentar subidas e trajetos irregulares e
pode percorrer distâncias maiores sem precisar chegar suado ao trabalho
ou cansado a algum compromisso.
MAIS SOLUÇÕES:
A feira também reuniu outras soluções como veículos elétricos de pequeno
porte para transporte de cargas e pessoas em aplicações como
deslocamentos dentro de indústrias, estádios de futebol, alas de
hospital e entregas em curtas distâncias.
Estiveram presentes empresas como EVX Veículos Elétricos, VO2 Veículos
Elétricos e o Grupo CPFL, que mostrou um pequeno caminhão com baterias
que podem ser recarregadas pela rede de energia e já foi testado pelos
Correios em Campinas e agora será usado pelo departamento de jardinagem
da prefeitura de Santos.
O mercado destes veículos, entretanto, pede mais incentivos governamentais para ganhar demanda.
“Um carro deste reduz a emissão de poluentes, o consumo de combustíveis
fósseis, aumenta a praticidade dos deslocamentos, mas tem uma tributação
até maior que muitos veículos a gasolina convencionais dependendo da
configuração. Isso aliado a falta de produção deixa o preço maior” –
disse o representante da VO2, João Vicente.
Representando a EVX, Odair Brandão, concorda e diz que o mercado
consumidor tende a crescer, já que os números atuais são modestos.
“Só a empresa Clubcar vende por ano mundialmente 250 mil veículos
elétricos leves. Aqui no Brasil, contando com todos os veículos na
história temos apenas 20 mil carros em operação. Hoje 70% das peças que
montamos são importadas. Se houvesse uma conscientização dos impactos
positivos sobre a economia e o meio ambiente, com estímulos, seria
vantajosa a produção destes veículos no Brasil” – contou Odair Brandão.
A BMW possui um carro de luxo híbrido, mas comercializado apenas no exterior.
Para o Brasil, a empresa apresentou um modelo que possui quatro soluções de redução de consumo e poluição.
Na função EcoPro, o motorista recebe orientações de como dirigir de
forma mais econômicaa e que polua menos. Já o sistema Auto Start Stop
faz com que o motor do carro desligue automaticamente em semáforos ou
outras paradas e religue apenas com o acionamento do pedal de
aceleração.
O valor do carro é de cerca de R$ 135 mil.
Ônibus elétrico em São Paulo. Créditos: Adamo Bazani/Ponto de Ônibus
ÔNIBUS ELÉTRICOS, A EVOLUÇÃO:
As cidades só se atentaram novamente às necessidades de ônibus que poluam menos recentemente.
O sistema de trólebus no Brasil já foi um dos 22 maiores do mundo. A
cidade de São Paulo, por exemplo, chegou a ter 474 veículos elétricos
que não emitem nenhum tipo de emissão de gases em sua operação.
Mas com o tempo, os sistemas de trólebus foram aposentados e os
corredores de transporte público, apesar de já representarem um ganho
ambiental e de mobilidade, poderiam se melhor.
Culpar às quedas das alavancas dos trólebus o fato de o meio de
transporte ser deixado de lado é simplificar ou mascarar o abandono.
Fatores como falta de incentivos para a produção e para a compra de
veículos elétricos, falta de estrutura de tráfego para os trólebus que
funcionam melhor em corredores e até mesmo uma pressão velada da
indústria de automóveis comuns podem estar por trás da realidade.
Porém muitas vezes a necessidade fala mais alto que qualquer um destes fatores.
Hoje as cidades têm a consciência (esperamos que seja consciência e não
lampejos) de que é preciso investir em mobilidade e mobilidade limpa se
não quiserem continuar perdendo recursos altíssimos e até vidas por
causa dos problemas relacionados ao trânsito e poluição.
O ônibus elétrico volta a ganhar destaque nas discussões sobre cidades melhores.
Hoje há várias tecnologias desenvolvidas pela indústria nacional em
relação à tração elétrica para veículos de transporte coletivo.
“Há em linhas gerais três soluções: o trólebus, o elétrico puro (com
baterias recarregáveis em fontes externas) e o elétrico híbrido. Cada um
tem sua aplicação e suas vantagens. A verdade é que as tecnologias são
atualizadas de maneira mais rápida e oferecem mais ganhos não só
ambientais e de conforto para o passageiro, que são os principais, mas
também redução de custo operacional” – disse Ieda Maria Alves de
Oliveira, gerente comercial da Eletra Industrial, empresa de São
Bernardo do Campo que produz sistemas elétricos para ônibus.
Ela destaca a modernização dos trólebus, com veículos que aproveitam
melhor a energia elétrica, que são mais resistentes, mais fáceis de
operar e com um conforto maior para os passageiros.
As quedas de pantógrafos (alavancas) que foram desculpas para o
sucateamento de alguns sistemas, já não são mais justificativas. Não que
elas nunca mais vão se soltar dos fios, mas esse problema tende a não
ser mais comum.
As alavancas são pneumáticas, mais modernas, que absorvem as trepidações e os efeitos de possíveis irregularidades no pavimento.
Além disso, a forma de conduzir hoje está melhor. Quem explica é José
Marcelo da Silva, instrutor de treinamento da Metra, empresa de ônibus e
trólebus que opera o Corredor ABD, que liga o bairro de São Mateus, na
zona Leste da Capital Paulista, ao Jabaquara, na zona Sul, passando
pelos municípios de Diadema, São Bernardo do Campo, Santo André e Mauá
(terminal Sônia Maria).
“Os modelos mais antigos para trocar de rede aérea (o trajeto dos fios),
o motorista tinha de frear e acelerar de novo. Dava inevitavelmente
alguns trancos e o risco de queda das alavancas era maior. Já nos mais
novos, a troca de rede é feita por um botão acionado no painel. Dirigir
trólebus é diferente dos ônibus comuns, exige habilidades e um
conhecimento melhor sobre a máquina, mas depois que se habitua, quem
dirige trólebus não quer voltar para os ônibus comuns” – disse o
profissional.
A manutenção de um trólebus também ficou mais moderna, como explica o
técnico de eletrônica da Metra, Rosivaldo Ribeiro de Miranda.
“O trólebus pode ter uma vida útil de 30 anos. Vários componentes que se
desgastam prematuramente em ônibus a diesel, como lona de freio, duram
bem mais nos trólebus cujas operações são mais suaves sem perder a
velocidade comercial. Óleo lubrificante só é usado em alguns
componentes. No final das contas sai mais vantajoso para um empresário
operar trólebus. E hoje os componentes destes veículos estão mais
baratos e resistentes. Praticamente só exigem manutenções preventivas” –
explicou o técnico.
HÍBRIDO DA ELETRA E O HÍBRIDO DA VOLVO.:
No mercado brasileiro, duas empresas com plantas nacionais se destacaram
este ano apresentando soluções para ônibus elétricos híbridos que têm
sido vistos como alternativas menos poluentes com operações mais
flexíveis: a Eletra e a Volvo.
As duas empresas apresentam veículos com dois motores, um elétrico e
outro a combustão, que pode reduzir em cerca de 35% o consumo de
combustível e de 50% a 90% a emissão de poluentes dependendo do tipo de
material lançado no ar.
Mas há diferenças entre os veículos, o que não significa dizer que um é
melhor que o outro. Cada um pode ter uma aplicação mais adequada de
acordo com o número de paradas no trajeto, topografia e demanda.
A Volvo fabrica seus próprios chassis enquanto a Eletra firma parcerias com montadoras.
Mas esta não é a principal diferença entre as duas marcas.
O diferencial maior está no uso do motor a combustão.
Há duas opções: o sistema em paralelo e o em série ou seriado.
A Volvo adota o sistema paralelo pelo qual o motor a combustão funciona
paralelamente com o motor elétrico. O motor a combustão gera energia
elétrica mas também é responsável pela movimentação do veículo. No caso
do ônibus da Volvo, quando ele supera aproximadamente 20 quilômetros por
hora entra em funcionamento o motor a diesel.
Já a Eletra adota o sistema híbrido série ou seriado. Nele, o motor a
diesel é apenas gerador de energia. Em todos os momentos de operação do
ônibus, a tração (o movimento) se dá pela energia elétrica.
Qual é o mais vantajoso, o menos poluente e o que mais reduz o consumo
vai depender mesmo de acordo com o tipo do uso, segundo os especialistas
ouvidos na oitava edição do Salão Latino-Americano de Veículos
Elétricos e Componentes.
O salão vai ser realizado até o dia 16 de agosto, no Expo Imigrantes, no
quilômetro 1,6 da rodovia dos Imigrantes. As visitações são gratuitas
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.
Blog Ponto de Ônibus