Indústria e centros de pesquisas
acadêmicos apresentam diversas soluções para os transportes coletivos se
tornarem ainda mais sustentáveis. Faltam políticas públicas e
comprometimento dos gestores
Ônibus a Etanol da Scania circula na Rio
+20 mas já é realidade nas ruas brasileiras. São Paulo possui 60
unidades em operação no sistema urbano. Mercedes Benz e Eletra exibiram
modelos menos poluentes que também já circulam comercialmente. Híbrido
da Volvo opera em setembro em Curitiba e Flex GNV – Diesel da Volkswagen
/ MAN vai ser comercializado em 2013. Foto: Divulgação Scania.
Um
verdadeiro desfile de tecnologias e soluções para melhorar os ganhos ao
meio ambiente trazidos pelos transportes públicos, que por eles mesmos
já proporcionam uma grande contribuição ao ajudar a diminuir o excesso
de veículos de passeio das ruas, uma das maiores causas da poluição
atmosférica nas grandes cidades.
É
assim que pode ser considerada até agora a Rio + 20, Conferência da
Organização das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.
A Rio + 20 ainda não avançou nas questões relativas às políticas públicas sobre mobilidade.
Quando
o assunto é a participação dos poderes públicos, em todo o mundo, para
oferecer sistemas de cidades que deixem de privilegiar o transporte
individual, que financia campanhas em diversos países, as discussões
continuam acanhadas.
Muitas
vezes, uma solução que melhore o ir e vir e a qualidade de vida das
pessoas nem sempre depende de alternativas caras. Só um pouco mais de
planejamento e acima de tudo independência e interesse dos gestores
públicos.
Mas
enquanto os que são pagos pelo dinheiro da população em todo o mundo
pouco falam da questão, até o momento, o setor de tecnologia tem feito
bonito na Rio + 20. E o mais importante: boa parte das soluções é
nacional.
Tanto
a indústria brasileira como os centros de pesquisas acadêmicas mostram o
que há algumas décadas seria impossível de ser imaginado: trens que
levitam, ônibus a hidrogênio que em vez de fumaça soltam vapor d’água,
ônibus elétricos híbridos, ônibus a etanol sem perder desempenho em
comparação aos convencionais, ônibus flex com Gás Natural e Diesel e até
mesmo um diesel que não é como conhecemos, em vez de petróleo, ele é
feitop de cana de açúcar.
As
soluções em transportes públicos mais limpos estão aí, para todas as
demandas, bolsos, urgências e aplicações. Algumas já são realidade e
começam estar presentes nas ruas, mesmo que em número pequeno. Outras
são realidade, mas ainda estão caras para se tornarem viáveis e há
aquelas que ainda dependem um pouco mais de desenvolvimento.
O
fato é que a indústria e o setor de pesquisa no Brasil merecem
reconhecimento não só na Rio + 20, mas em incentivos para tornarem seus
produtos acessíveis, pois se depender de boa parte do empresariado dos
transportes públicos e dos gestores do setor, os barulhentos ônibus de
motor na frente e os trens e o metrô que dão pane com uma certa
constância continuarão presentes na vida de milhões de passageiros no
País, sem atrair nem um pouquinho os outros milhões que ocupam
demasiadamente as vias púbicas e poluem o ar com seus veículos
particulares.
O TREM FLUTUANTE NA RIO +20
O nome dele é MagLev Cobra e ele tem chamado as atenções na Conferência da ONU.
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MagLeve é o trem brasileiro que flutua
sobre os trilhos. A tecnologia é cobiçada por todo o mundo e o Brasil,
pela UFRJ conseguiu das os primeiros passos. Com supercondutores, o
veículo trafega a 15 milímetros do solo e custa 70% menos que o metrô
convencional. Foto: Divulgação
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Desenvolvido
pela UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, o trem, que pode
custar 70% menos que o metrô convencional, flutua sobre os trilhos e é
movido totalmente a energia elétrica, sem emitir poluentes para sua
tração.
A levitação não é nenhum milagre ou mágica, mas fruto de muito estudo de uma tecnologia cobiçada por todo o mundo.
O
MegaLev chega a 100 quilômetros por hora e usa supercondutores que em
temperaturas muito baixas criam um campo magnético capaz de sustentar o
trem inteiro no ar.
Os vagões possuem bobinas elétricas que geram o movimento inicial sobre o trilho.
O sistema possui imãs que ativam os supercondutores que estão embaixo do trem e são liberados levitando o veículo.
O MegaLev consegue operar suspenso a 15 milímetros do solo.
Os
supercondutores precisam ser refrigerados a pelo menos 196 graus
centrígrados negativos com nitrogênio líquido a cada 24 horas.
A Universidade estima que em 2 anos o trem possa começar os primeiros testes comercialmente.
ÔNIBUS A HIDROGÊNIO BEM MAIS EM CONTA:
O
corredor ABD, entre São Mateus, na zona Leste de São Paulo, e
Jabaquara, na zona Sul da Capital Paulista, passando por municípios da
região do ABC já recebeu a título de testes um ônibus elétrico híbrido,
cuja geração da energia elétrica se dá pelo uso do hidrogênio.
A
emissão de poluentes na operação do veículo é zero. O subproduto do
processo da eletrólise que abastece de energia as baterias do ônibus é o
vapor d´água, quando o Hidrogênio se separa do Oxigênio.
Assim, em vez de fumaça de combustível queimado, o escapamento solta vapor.
Além
do ônibus que circulou em testes pelo corredor ABD, o Instituto Alberto
Luiz Coimbra de Pós Graduação e Pesquisa de Engenharia – Coppe, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, também desenvolveu seu
próprio veículo.
Os estudos começaram em 2005, consumiram até agora R$ 15 milhões, mas em 2010 o ônibus foi lançado.
Na Rio + 20, no entanto, a UFRJ apresentou uma nova versão do veículo, mais econômica e barata.
Atualmente,
um ônibus a hidrogênio custaria R$ 1 milhão a unidade convencional, com
12 metros de comprimento. Se o empresariado correu para renovar a frota
no ano passado só para não pagar 15% a mais nos ônibus a diesel
convencionais que a partir deste ano seguem novas normas de redução da
poluição, não há de se esperar que um ônibus desse que custa quatro
vezes mais que um comum do mesmo porte, seja comprado em nome da
natureza. Além disso, não há pontos de abastecimento de hidrogênio
disponíveis no País suficientemente.
Aí que deve entrar o poder público e assumir a questão.
Realmente
um projeto de R$ 15 milhões e um ônibus de R$ 1 milhão não são nada
baratos. Mas na relação custo-benefício, as diversas esferas do poder
gastam muito mais em saúde pública, além de vidas que se acabam, por
causa da poluição.
Isso sem contar que, produzido em maior escala, um ônibus com células de hidrogênio pode ser mais barato.
E foi isso que a UFRJ comprovou. Hoje já é possível fazer um ônibus desse com menos recursos e mais econômico.
Com ajustes no sistema de tração, a Universidade apresentou na Rio + 20 um ônibus que consome 40% menos hidrogênio.
A
autonomia do veículo que antes era de 300 quilômetros subiu para 500
quilômetros, maior inclusive que a autonomia de qualquer ônibus diesel
comum.
O
novo ônibus H2 + 2 já tem valor 30% mais baixo que a primeira versão
devido ao maior nível de nacionalização das peças. Isso foi possível
pela parceria com a empresa Tracel.
O
hidrogênio tem diversas formas de ser obtido na natureza, inclusive de
maneira agressiva ao meio ambiente, como com o uso de processos químicos
e obtenção pelo vapor do gás natural em refinarias de petróleo. Mas
além deste processo, é possível extrair hidrogênio por biogases de
sobras da agricultura, por dejetos de animais e até mesmo do esgoto
humano.
O processo mais limpo, no entanto, é a eletrólise que consegue separar o hidrogênio da água por corrente elétrica.
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Ônibus a hidrogênio desenvolvido pela
UFRJ é mais barato e econômico, o que deixa a solução mais próxima da
realidade. Foto: Sofia Moutinho |
JÁ NAS RUAS:
As montadoras de ônibus mostram suas soluções que já estão nas ruas ou serão realidade em poucos meses.
A
Scania faz o trajeto que atende o Riocentro, o Autódromo, o Parque dos
Atletas e a Arena HSBC com 6 ônibus a etanol, que podem reduzir em até
90% a emissão de alguns poluentes.
São
dois veículos da VIM – Viação Metropolitana e outros dois da TUPI –
Transporte Urbano Piratininga que já operam em São Paulo.
As
duas empresas já têm 60 ônibus na Capital Paulista na chamada Ecofrota,
que reúne diversos modelos de veículos de transportes públicos que
poluem menos.
Os outros dois ônibus são da própria Scania e levam a inscrição “Etanol é Agora”
Vem
da cana de açúcar também a tecnologia usada por outra fabricante de
ônibus: A Mercedes Benz que circula com ônibus na Rio +20 que já são
realidade nas ruas brasileiras. É a tecnologia do Óleo Diesel de Cana de
Açúcar.
O
combustível não é o etanol, mas provém da mesma matéria prima. O que
muda é o processo de fermentação. É colocada uma levedura no caldo da
cana que deixa o material com características semelhantes ao diesel
convencional, com a vantagem que pode ser usado em qualquer motor
diesel, inclusive nos mais antigos, sem a necessidade de alterações dos
componentes.
As reduções de emissão chegam a 90% dependendo dos materiais em motores novos.
Já
são 20 ônibus com diesel de cana circulando pelo Rio de Janeiro e 100
em São Paulo nos serviços regulares. A mistura do diesel de cana de
açúcar ao convencional varia entre 10% e 30%, mas na Rio +20, os dez
ônibus O 500 RS que transportam delegações são movidos com 100% do
“novo” combustível.
A
Volskwagen MAN serve às delegações da Rio + 20 com ônibus flex. Os
veículos são movidos a Gás Natural e Diesel Convencional, o S 50, com
menos teor de enxofre, obrigatório nos ônibus atualmente.
O
modelo usado na Conferência são o 17.280 e os motores são abastecidos
com 10% de diesel e 90% de Gás Natural. As reduções de alguns poluentes
podem chegar a 80%
Em
setembro de 2013, os veículos devem ser produzidos comercialmente para
serviços urbanos, cujos custos e pontos mais próximos de abastecimento
tornam viável a solução.
A
Volvo apresentou o primeiro ônibus elétrico híbrido da marca no Brasil.
O veículo tem dois motores, um a diesel ou biodiesel e outro elétrico. A
tração elétrica funciona nos momentos em que um ônibus convencional
mais polui: nas arrancadas e até 20 quilômetros por hora. Depois desta
velocidade, entra em funcionamento o motor diesel. A cidade de Curitiba
vai ter 60 modelos deste ônibus, sendo os trinta primeiros em setembro
deste ano.
A
Eletra, empresa de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, exibiu seu
elétrico híbrido. O motor a combustão é a etanol, o que ajuda a reduzir
ainda mais os níveis de emissão de poluição.
O veículo é usado em deslocamentos na Usina de Itaipu.
A
Eletra foi a primeira empresa no País a operar comercialmente um ônibus
híbrido em 1997 no Corredor ABD. Modelos híbrido, com eletricidade e
diesel, circulam pelo corredor, que também recebe trólebus (ônibus
elétricos ligados a rede área) modernizados.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes
Canal do Ônibus