Ao comparar nossos dados com o de países mais desenvolvidos e, considerando que o nosso PIB per capita deve pelo menos dobrar nas próximas duas décadas, é possível estimar pelo menos mais um automóvel trafegando para cada um hoje em circulação no Brasil.
Nossos centros urbanos das cidades médias e grandes já se encontram tomados por congestionamentos. E esses congestionamentos continuarão crescendo no tempo e no espaço, pois, por mais que se invista em engenharia de tráfego, não haverá como acomodar o aumento da motorização individual no limitado espaço viário urbano. Ou seja, se continuarmos adotando as mesmas práticas do século passado, obteremos cada vez mais do mesmo: desperdícios de tempo, maior consumo energético e mais emissões.
Para contarmos com um transporte urbano mais sustentável precisamos nos apoiar em quatro pilares:desestímulo ao uso do automóvel; melhoria do transporte coletivo; incentivo ao transporte não-motorizado e integração de uso do solo e transportes. Aqui abordamos uma das técnicas do primeiro desses pilares: o desestímulo ao uso do automóvel através da cobrança pelo uso viário.
Há algumas décadas não tínhamos tecnologia para implantar um sistema mais avançado do que a restrição ao uso de automóveis através do rodízio de placas. Felizmente agora podemos contar com sistemas que propiciam formas mais inteligentes de gerenciar a demanda pelo transporte privado em áreas urbanas congestionadas. A experiência em cidades européias e asiáticas revela que, através da cobrança pelo uso das vias nas áreas centrais de grandes cidades nos períodos de sua maior utilização, conseguimos ajustar os volumes à capacidade e assim garantir um padrão sustentável de tráfego. Ainda, com os recursos arrecadados canalizados para o transporte coletivo, podemos contar com um sistema de transporte na superfície muito mais interessante e eficiente.
Enquanto uma faixa viária urbana consegue dar vazão a 1.500 usuários de automóvel por hora, a mesma faixa dedicada a um sistema BRT (Bus Rapid Transit) propicia a circulação de 15 mil usuários por hora, ou seja, 10 vezes mais. Um transporte coletivo de qualidade por corredores exclusivos passa a ser opção para quem valoriza o seu tempo e não quer ficar por horas encarcerado no trânsito.
Autor: Luis Antonio Lindau é graduado em engenharia civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, PhD em Transportes - University of Southampton, pós-doutorado pela University College London. Atualmente é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e consultor da CAPES, CNPq e FAPERGS.
BRT Brasil
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