sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Uso mais racional do nosso limitado espaço viário urbano

 Créditos: Guto de Castro/Acervo

Desde 1970, a população brasileira pouco mais que dobrou, mas a nossa frota veicular multiplicou por dez. Enquanto as projeções indicam uma estabilização da população nas próximas décadas, a quantidade de automóveis privados no Brasil vai continuar crescendo. Temos hoje, segundo dados ofi ciais, cerca de 150 automóveis privados por mil habitantes para um PIB per capita da ordem de 6 mil dólares anuais.

Ao comparar nossos dados com o de países mais desenvolvidos e, considerando que o nosso PIB per capita deve pelo menos dobrar nas próximas duas décadas, é possível estimar pelo menos mais um automóvel trafegando para cada um hoje em circulação no Brasil.

Nossos centros urbanos das cidades médias e grandes já se encontram tomados por congestionamentos. E esses congestionamentos continuarão crescendo no tempo e no espaço, pois, por mais que se invista em engenharia de tráfego, não haverá como acomodar o aumento da motorização individual no limitado espaço viário urbano. Ou seja, se continuarmos adotando as mesmas práticas do século passado, obteremos cada vez mais do mesmo: desperdícios de tempo, maior consumo energético e mais emissões.

Para contarmos com um transporte urbano mais sustentável precisamos nos apoiar em quatro pilares:desestímulo ao uso do automóvel; melhoria do transporte coletivo; incentivo ao transporte não-motorizado e integração de uso do solo e transportes. Aqui abordamos uma das técnicas do primeiro desses pilares: o desestímulo ao uso do automóvel através da cobrança pelo uso viário.

Há algumas décadas não tínhamos tecnologia para implantar um sistema mais avançado do que a restrição ao uso de automóveis através do rodízio de placas. Felizmente agora podemos contar com sistemas que propiciam formas mais inteligentes de gerenciar a demanda pelo transporte privado em áreas urbanas congestionadas. A experiência em cidades européias e asiáticas revela que, através da cobrança pelo uso das vias nas áreas centrais de grandes cidades nos períodos de sua maior utilização, conseguimos ajustar os volumes à capacidade e assim garantir um padrão sustentável de tráfego. Ainda, com os recursos arrecadados canalizados para o transporte coletivo, podemos contar com um sistema de transporte na superfície muito mais interessante e eficiente.

Enquanto uma faixa viária urbana consegue dar vazão a 1.500 usuários de automóvel por hora, a mesma faixa dedicada a um sistema BRT (Bus Rapid Transit) propicia a circulação de 15 mil usuários por hora, ou seja, 10 vezes mais. Um transporte coletivo de qualidade por corredores exclusivos passa a ser opção para quem valoriza o seu tempo e não quer ficar por horas encarcerado no trânsito.

Autor: Luis Antonio Lindau é graduado em engenharia civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, PhD em Transportes - University of Southampton, pós-doutorado pela University College London. Atualmente é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e consultor da CAPES, CNPq e FAPERGS.

BRT Brasil

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