Créditos: Blog do Fabio Cavalcante/Acervo
As metrópoles devem crescer para dentro, reestruturando o que existe, no lugar de se expandir. É o mais inteligente. É o mais sustentável. A imobilidade, alimentada pela opção pelo transporte rodoviário, principalmente o automóvel, exige essa mudança de estratégia de desenvolvimento. As cidades cresceram demais sem a infraestrutura devida e de costas para o transporte de massa (metrô e trem), obrigando os trabalhadores a percorrerem cada vez distâncias maiores no percurso casa-trabalho. Para reduzir o tempo de deslocamento, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que realizou estudo sobre o impacto da imobilidade na produção brasileira das 12 maiores metrópoles brasileiras, alerta que o Brasil precisa parar de seguir o modelo americano de crescimento e adotar um estilo mais europeu de viver. Ou seja, trabalhar e estudar perto do trabalho ou trabalhar próximo à residência e à escola. Simples assim.
A Região Metropolitana do Recife fez e faz exatamente o contrário. Estimula cada vez mais longos percursos. Os dois ramais do metrô existentes na cidade, que compreendem 25 quilômetros de extensão e transportam diariamente 280 mil passageiros, são cercados de moradias simples, muitas vezes invasões. O entorno das duas linhas, especialmente a Linha Centro, é tão desvalorizado que a ocupação é totalmente desordenada. Na Linha Sul do metrô, que liga o Centro do Recife ao extremo do município de Jaboatão dos Guararapes pela Zona Sul da capital, a situação é um pouco melhor devido à proximidade com a orla marítima. Mas, mesmo assim, o adensamento imobiliário de qualidade é verificado basicamente na altura do bairro de Boa Viagem. Em alguns pontos, as invasões chegam ao muro de proteção da linha metroviária.
Créditos: Pernambuco Construtora/Acervo
Nos corredores de ônibus acontece o mesmo. A PE-15, o mais extenso e qualificado corredor de transporte público da RMR, tem o entorno bastante degradado, com submoradias nas suas margens. Em seu estudo, a CNI indica que a preferência pelo transporte rodoviário criou as cidades informais dos loteamentos e favelas - pessoas que preferem morar perto do trabalho, mesmo em submoradias, a enfrentar a angústia do deslocamento. “A força do transporte rodoviário, seja coletivo ou individual, liberou o urbanismo da obrigação da densidade e da continuidade. Ou seja, se formaram núcleos urbanos isolados nas periferias, com desperdício de espaço e altos custos sociais. A cidade ficou esgarçada”, argumenta o diretor de políticas e estratégia da CNI, José Augusto Fernandes.
Esse “esgarçamento” é um problema porque, quanto maior a cidade, maiores as necessidades de transporte. E, como são as cidades grandes que respondem por quase metade do PIB, elas não podem parar. “As metrópoles são o lugar do intercâmbio econômico mundial. Estamos pagando um preço alto por optar pelo transporte rodoviário, com estímulo sobretudo ao carro, sem ter investido no transporte de alto rendimento. Falta oferta de serviços e as pessoas têm que se deslocar. Houve uma expansão exagerada e a infraestrutura não acompanhou. O Brasil precisa rever essa lógica”, acrescenta Fernandes.
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