Créditos: Guto de Castro/Acervo
Mais do que melhorar a qualidade do ar e reduzir a emissões de gases de efeito estufa (GEEs), uma rede de transporte público eficiente auxilia no combate de problemas na saúde, como acidentes de trânsito, estresse, sedentarismo e obesidade. Estopim dos protestos que atingiram o país, a mobilidade urbana vinculada a saúde e a qualidade de vida faz parte de mais de 300 estudos realizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo o coordenador do Departamento de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS, o epidemiologista Carlos Dora, um sistema de transporte de qualidade pode prevenir doenças não transmissíveis, como as cardiovasculares e as pulmonares além dos acidentes de tráfego, que atualmente compõem a lista das principais causas de morte no Brasil.
Dora afirma ainda que se o cidadão tivesse à disposição ônibus e metrôs eficientes e com custo acessível, além de ciclovias seguras, seria mais vantajoso deixar o carro em casa, já que, em áreas urbanas, os automóveis são responsável por até 90% da poluição do ar ambiente e por até 1,2 milhões de mortes, em acidentes.
“Quanto mais espaço dedicado ao transporte público eficiente e rápido, espaço para ciclistas e pedestres, menos carros, menos acidentes, menos poluição do ar, mais atividade física durante a vida diária e consequentemente mais saúde”, explicou o coordenador ao Folha de São Paulo.
Mas o que os meios de transporte realmente têm a ver com a saúde?
O uso do carro individual, por exemplo, gera falta de atividade física e, como consequência, doenças cardiovasculares e obesidade. Estudos mostram que 30 minutos de atividade física intensa, como andar de bicicleta ou caminhar vigorosamente, pelo menos três vezes por semana, reduz o risco cardiovascular em 30%, além de prevenir cânceres.
Já para a pessoa pegar um ônibus, ela precisa andar a pé ou de bicicleta até a estação. Se o transporte for de qualidade, incentiva a prática na cultura da população. Dora diz que quem usa ônibus ou metrô anda em média entre 8 e 25 minutos a mais por dia, o que é quase o tempo mínimo recomendado pela OMS para gerar melhorias de saúde.
Em Copenhague, foi feito um estudo que acompanhou, durante 14 anos, pessoas que andavam de ônibus, a pé, de carro e de bicicleta. Quem usava bicicleta regularmente para ir ao trabalho teve redução de 30% na mortalidade total, isso depois de ajustar por outros fatores como o tabaco, a hipertensão, a atividade física para o lazer etc. Há poucos remédios ou intervenções médicas que reduzem a mortalidade total da população em 30%. Xangai fez um estudo semelhante com resultados quase iguais.
Para o coordenador, o metrô pode ser uma solução cara e de longo prazo, para a melhoria do sistema de transporte público. Para isso, é preciso também reorganizar o espaço da superfície.
“O BRT [ônibus de trânsito rápido], adotado em Curitiba (PR), tem se mostrado como uma boa alternativa, capaz de contribuir, em conjunto com outras medidas, para uma melhoria na saúde pública. E o seu custo é menor quando comparado a outros meios de transporte”, comentou Dora. Em 2012, um estudo da a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) desenvolveu um estudo sobre as características do sistema de ônibus de trânsito rápido (BRT, na sigla em inglês) em 12 cidades brasileiras. Conheça!
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