Créditos: Valdir Lima/Facebook
Eles certamente são menos numerosos do que os fãs de carros e motos. Mas os admiradores de ônibus existem e são muitos. Muitos busólogos - além de colecionar informações, fotos, minitauras e tudo que diz respeito aos ônibus - têm uma característica comum, aproveitam essa paixão para colaborar com a melhoria desse serviço público ou mesmo trabalhar diretamente com esse objeto de desejo.
Exemplos de pessoas que transformaram a paixão pelos ônibus em forma de ganhar a vida não faltam. Vão desde o menino que criava sua empresa fictícia em forma de desenhos e hoje administra uma de verdade, os que desenvolveram as técnicas em fazer miniaturas para vender, até os que partiram para criação de pinturas para frotas.
Para o administrador Paulo Mendes, 48 anos, da PRM Turismo, o gosto por esse tipo de veículo surgiu na infância, quando sua brincadeira preferida era com ônibus plástico que ele personalizava com nomes de empresas fictícias, fazendo até mesmo letreiros com margens de folhas de caderno. Seu irmão mais velho, Ronaldo Luiz Mendes, 51, também desenhava ônibus. Paulo relembra que na adolescência, quando ainda não havia internet, os admiradores trocavam fotos por meio de cartas, e o grande problema da época é que, como também não havia máquina digital, eram tiradas muitas fotos repetidas, e a revelação levava uma semana para ficar pronta, "mas por pior que ficasse a foto, já ficávamos felizes em tê-la para guardar", conta.
E por entender que os busólogos são formadores de opinião, podendo, com seus conhecimentos, auxiliar na melhoria desse serviço, a empresa na qual trabalha sempre está aberta para os aficionados por ônibus.
Tempos atrás, os busólogos sofriam muito preconceito. Segundo um dos fundadores da Fortalbus (www.fortalbus.com), comunidade que reúne aficionados da capital cearense e tem 1.100 filiados, Henrique Barreto, algumas empresas desconfiavam deles. "Eles viam aquela pessoa parada na estrada ou no meio urbano pedindo para tirar fotos dos ônibus, e tinham medo, não entendiam que era um hobby". Barreto afirma que com o aumento da visibilidade, muitas empresas abrem suas portas e permitem que os admiradores matem a vontade, mas ainda há quem apresente resistência.
Unindo o útil ao agradável
O auxiliar de produção Alexandre Batista, 32 anos, do Grupo Transporte Coletivo Sorocaba, sabe bem que o preconceito ainda existe: "tem empresa que não nos contrata (se referindo aos busólogos) por acharem que olhamos apenas pelo lado subjetivo, pelo olhar da paixão, e muitas vezes nos barram também para que nosso grande conhecimento não ofusque ninguém". Como exemplo de que esse hobby pode ajudar a melhoraria do transporte coletivo, Alexandre afirma que "a linha 307 Interbairros criada pela Urbes, em vigor desde o último dia 1º, ligando a Vila Nova Sorocaba à avenida Três de Março, no Alto da Boa Vista, sem passar pelo centro, foi sugestão do Grupo, mas dificilmente o presidente da Urbes, que inclusive participa dele, admitirá nossa colaboração".
E por nunca ter tido chance de trabalhar perto do que gosta realmente e estar desempregado, o jeito foi unir o útil ao agradável fazendo miniaturas de ônibus para vendê-las. Feitas com papel fotográfico, elas custam R$ 8, saindo por R$ 12 apenas quando se trata de miniatura do ônibus do Esporte Clube São Bento, cuja diferença é repassada para o time. Por isso, Alexandre é o único autorizado a fazer miniatura do ônibus do time local. Além da divulgação pela internet, ele também vende as miniaturas em frente a um supermercado do Parque das Paineiras, todas as manhãs de domingo. Suas empresas preferidas são a Viação Cometa e a Consórcio Sorocaba.
Quem também consegue conciliar o hobby com o trabalho, é o modelista Paulo Sérgio Vieira Filho, 29 anos, que com apenas 5 anos de idade confeccionava ônibus de cartolina e caixinhas de chá e depois aprendeu a desenhá-los no computador. Há 13 anos começou a fotografar observando cada vez mais os detalhes de cada modelo. Esse conhecimento é o que lhe deu base para confeccionar e comercializar, já há 11 anos, miniaturas que podem ser vistas pelo site www.maquetedeonibus.com. O custo porém nem sempre é baixo porque alguns modelos, como o 321 (monobloco da Mercedes-Benz da década de 50), que é de plástico, importado da Alemanha. Modelos da Irizar também chegam da Inglaterra, Estados Unidos e China e os da Marcopollo são produzidos no Brasil. Esses modelos porém são feitos em metal com algumas partes plásticas. Ao custo de R$ 120 a R$ 580, Paulo vende, em média, 15 maquetes por mês, tanto para admiradores como para empresários do setor.
Advogado por formação, embora nunca tenha exercido a profissão, Kaio Castro, 60 anos, que sempre gerenciou empresas de transporte, antes de se aposentar idealizou, em 2003, uma exposição exclusiva de ônibus antigos, a Viver, Ver e Rever (VVR), que ocorreu no pátio da empresa Redenção, onde trabalhava, em maio de 2004. Para a segunda edição, em 2005, foi criado o Primeiro Clube do Ônibus Antigo Brasileiro (www.primeiroclubedoonibusantigo.com.br), e desde 2007 a VVR acontece no Memorial da América Latina, em São Paulo. Neste ano, o evento será nos próximos 9 e 10 de novembro, das 9h às 17h. Considerando-se também um busólogo, Kaio Castro entende que eles "se aprofundam cada vez mais nas discussões saudáveis e tiram conclusões, pois são também usuários em potencial, levadas em conta nas audiências públicas e em outras oportunidades. Isso é muito importante, pois participam com conhecimento de causa, de melhorias necessárias à mobilidade urbana e rodoviária".
Embora tenha seguido outro caminho profissional, o professor Flávio Antonio Correa Leite, 41 anos, pastor líder e fundador da igreja Catedral Evangélica de Sorocaba (CES), na infância chegou a desenhar ônibus, criando a "Flávio Tur", e já adolescente recebia catálogos de montadoras, chegando a visitar as fábricas da Busscar, em Joinville, em Santa Catarina, e uma unidade da Caio, em São Paulo. Em 27 de novembro de 1988 ele foi personagem de uma reportagem do Cruzeiro intitulada "Jovem desenha réplicas de ônibus e faz montagens". Entre suas paixões estão os Dinossauros da Cometa, que antecederam os Flecha Azul, e de modelos diversos, como os Marcopollo II e III da Marcopollo, os monoblocos 355 e 364 da Mercedes Benz, entre outros.
Jornal Cruzeiro do Sul
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