As 12 cidades-sede, interessadas em usar o evento para reformar a infraestrutura urbana, estabeleceram planos ambiciosos para construir novas linhas de metrô, monotrilhos e corredores de ônibus, mas, faltando 15 meses para o início dos jogos, parece improvável que todos os projetos serão concretizados.
"O legado social muito discutido parece que não vai sair do papel", escreveu o ex-atacante Romário (PSB-RJ), campeão mundial com o Brasil em 1994 e agora deputado federal, no mês passado em uma coluna de jornal.
"Quase todos os projetos de transportes estão atrasados, alguns foram adiados e vão ser inaugurados somente após a Copa do Mundo e outros foram cancelados." Embora os números exatos ainda estejam mudando, pelo menos uma dúzia dos 49 projetos originais mudaram completamente.
Cinco cidades -- Brasília, Fortaleza, Manaus, Salvador e São Paulo -- não terão as linhas elétricas prometidas, as vias expressas para ônibus ou ligações de metrô prontas, disse Valmir Campelo, ministro do Tribunal de Contas da União, que monitora o planejamento da Copa.
O calendário está "extremamente apertado" em outros casos, acrescentou Campelo. Como muitos dos projetos não estariam prontos, as autoridades de várias cidades discutem fechar escolas e declarar feriados em dias de jogos para evitar engarrafamentos.
"Isso definitivamente não vai deixar o legado que poderia ou deveria", disse Campelo à Reuters.
Os organizadores da Copa do Mundo minimizam os contratempos e dizem que as cidades-sede ainda estão sendo transformadas. O ex-atacante Ronaldo, que é um dos principais membros do comitê organizador local, disse que estava sendo feito um trabalho que, em outra situação, poderia ter demorado anos.
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, argumenta que outros grandes eventos esportivos, como as Olimpíadas de 2012 e 2008, tiveram problemas semelhantes.
"Problemas com o transporte ocorreram em Londres, bem como em Pequim, mas o Brasil está buscando empreender esforços para que todas as cidades-sede sejam as mais confortáveis possíveis em termos de trânsito e de tráfego e, mais importante, muito mais confortáveis do que hoje", declarou Rebelo em uma teleconferência com repórteres em janeiro.
PERSPECTIVA INCERTA
No entanto, parece claro que a situação não é tão rósea como deveria ser. Enquanto o Brasil é agora a sétima maior economia mundial, ainda é um país em desenvolvimento que precisa urgentemente acrescentar e modernizar estradas, aeroportos, transportes públicos e outras infraestruturas vitais.
São Paulo, que sediará o prestigiado jogo de abertura da Copa do Mundo, não tem ligações ferroviárias para qualquer um de seus dois aeroportos, deixando os viajantes enfrentando um engarrafamento notório.
Autoridades há muito falharam nas promessas de construir uma ligação ferroviária ao aeroporto internacional de Guarulhos, e agora reconhecem que o monotrilho proposto que ligaria o aeroporto de Congonhas à rede de trens metropolitanos da capital não estará pronto a tempo.
A situação é semelhante na capital Brasília, onde o trabalho iniciado para construção de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) do aeroporto para a cidade foi interrompido em 2011, quando um juiz determinou que as empresas de construção estavam envolvidas em superfaturamento e outras irregularidades.
Na cidade de Manaus, autoridades cancelaram dois grandes projetos para a construção de 20 quilômetros de monotrilho e 21,5 quilômetros de corredores de ônibus. Em Fortaleza, onde acontecerão seis jogos da Copa do Mundo, o trabalho não começou em sete quilômetros de rodovias planejadas, túneis e viadutos.
Em Salvador, uma cidade de três milhões de pessoas sem metrô, nenhuma das rodovias ou ferrovias, ou ligações de metrô em construção estará pronta para o torneio.
"FIZEMOS POUCO"
A relocação de famílias que vivem no caminho de estradas e linhas ferroviárias tem sido uma fonte constante de conflitos e processos judiciais, e as rigorosas leis ambientais do Brasil também têm provocado injunções legais.
Outro fator foi a demora em iniciar os projetos, além da burocracia enlouquecedora do país.
"Nós ganhamos o direito de sediar a Copa do Mundo em outubro de 2007, mas nós não decidimos o que precisava ser feito até janeiro de 2010", disse o presidente da regional São Paulo do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco), José Roberto Bernasconi.
"Em 2008 e 2009, fizemos pouco ou nada. Você pode chamar de falta de dinheiro, ou vontade, ou competência, mas definitivamente havia falta de algo."
Mesmo os críticos reconhecem que os contratempos têm contribuído para ampliar o debate.
"Antes de o Brasil ser confirmado como sede da Copa do Mundo, ninguém ou quase ninguém falava sobre os projetos de transporte urbano", afirmou Campelo. "Agora o termo é amplamente utilizado. Pessoas sabem o que isso significa e falam sobre isso. Nesse sentido, o Brasil aproveitou a oportunidade."
Reuters
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