sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Tiros, pedradas e confusão em protesto contra aumento de passagens

O Centro do Recife foi palco de duas manifestações de estudantes nesta sexta-feira (20). No início da manhã, mais de 300 pessoas se mobilizaram para reivindicar contra o possível aumento das tarifas das passagens de ônibus. Paralelamente, uma reunião a portas fechadas com empresários e representantes do Governo do Estado decidiu pelo reajuste de 6,5%. Depois de serem dispersados por bombas de efeito moral e balas de borracha lançadas por policiais do Batalhão de Choque, os manifestantes organizaram nova mobilização no início da tarde. Cem policiais militares foram mobilizados.

Pouco mais de 200 estudantes seguiram para o prédio da Faculdade de Direito, onde realizaram assembleia e decidiram organizar nova manifestação. Semelhante à atuação pela manhã, o Batalhão de Choque voltou a lançar as bombas de efeito moral e as balas de borracha.

Os estudantes fecharam por instantes a Rua Princesa Isabel, em frente à faculdade. O Batalhão de Choque marchou em direção aos estudantes e lançou contra eles spray de pimenta.
Os manifestantes revidaram com pedras. A polícia, então, voltou a usar bombas de efeito moral e balas de borracha. O trânsito ficou lento na via e os ônibus que seguiam com passageiros ficaram no meio da confusão. Pessoas desesperadas desciam do coletivo.

O estudante de história Wagner Pereira de Oliveira, 23, foi atingido no braço. "Estava ajudando a polícia, pedindo para as pessoas não jogarem pedras. Estava de costas e, quando virei, fui atingido", reclamava o jovem ferido.

Duas estudantes foram detidas à tarde. Uma delas foi liberada pelo tenente-coronel Marinaldo de Lima Silva, comandante do 13º Batalhão.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Henrique Mariano, e a promotora da Vara de Direitos Humanos, Yelena Monteiro, foram até o local para reunião com os estudantes. Eles receberam informação de que os manifestantes queriam fazer denúncia no Ministério Público de Pernambuco (MPPE) contra a atuação da polícia, mas estavam impedidos de sair.

Pela manhã, a mobilização, organizada inicialmente via redes sociais por estudantes da Região Metropolitana do Recife, começou pacífica. Concentrados na Rua do Hospício, os estudantes saíram em caminhada pela Avenida Conde da Boa Vista, onde ficaram parados por cerca de 20 minutos. André Justino, integrante da comissão de comunicação do Comitê Contra o Aumento da Passagem, disse, no início da manifestação, que o objetivo do protesto era dialogar com a população e tentar impedir o reajuste. "A gente acha absurdo o reajuste, tendo em vista que mesmo o salário tendo aumentado, grande parte da população será prejudicada."

A manifestação contou com participação de entidades estudantis, movimentos populares e sindicais, além da população que se juntou ao protesto no decorrer da caminhada. O protesto seguiu tranquilo até as proximidades da Avenida Dantas Barreto até que o Batalhão de Choque se posicionou, tentando impedir a passagem. Até então, os policiais apenas acompanhavam o protesto. Após negociação com representantes, a manifestação seguiu. Duas pessoas ficaram feridas, atingidas pelas balas.

Com gritos de "O povo não é bobo, aumento de passagem é roubo" e "Se a passagem aumentar, o Recife vai parar", os estudantes receberam a notícia de que a tarifa subiria quando já estavam na Dantas Barreto. O discurso mudou para "A passagem aumentou, o Recife já parou". Quando chegaram à Avenida Martins de Barros, em frente ao Fórum Tomaz de Aquino, o Batalhão de Choque formou barricada. Do lado oposto, os estudantes continuaram a caminhada que seguia, inicialmente para a sede do Grande Recife Consórcio de Transporte, depois, para o Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual. Dois estudantes foram detidos.






REAJUSTE
- Com o reajuste de 6,5%, o valor da tarifa A passou de R$ 2,00 para R$ 2,15. Já o valor do anel B subiu para R$ 3,30; o anel D, para R$ 2,60; e o anel G, para R$ 1,40. O aumento, aprovado pelo Governo, equivale à variação do Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA)/IBGE. A proposta das empresas de ônibus era de 17,2% de reajuste. A votação de 17 dos 19 membros do Conselho Superior de Transporte Metropolitano (CSTM) contou com 13 votos a favor, 3 abstenções e um contra, em defesa do reajuste máximo.

Vanessa Araújo e Daniel Guedes/NE 10

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