segunda-feira, 21 de abril de 2014

E se a Busscar voltasse a produzir ônibus?

A situação da Busscar, todos sabem, é uma novela cujo último capítulo ninguém sabe quando será passado. Muitos interesses diversos em jogo que não convergem num único sentido para um consenso final. Cada um puxa para um lado e a eterna burocracia da Justiça brasileira impede uma solução definitiva. Inúmeros recursos pendentes, Liminares concedidas e a falta de apreciação do mérito do processo pelo pleno do TJ/SC permitem uma procrastinação da solução final que satisfaça ampla maioria dos envolvidos, já que agradar gregos e troianos neste caso é impossível.

As dívidas, com valores atualizados, chegam a casa de R$ 821 milhões. A dívida trabalhista é de R$ 116 milhões. São 5.500 ex-funcionários que possuem créditos a receber, desde salários até a rescisão contratual. Os ex-sócios da Busscar, Valdir Nielson e Ilonie Nielson, representados pelas empresas RR Empreendimentos e Participações, e pela Prata Participações e Empreendimentos, possuem nada mais nada menos do que R$ 305 milhões de passivo imobilizado na rubrica “Busscar”. Um valor fenomenal que pode quebrar com a vida contábil de muitas empresas de médio para grande porte.

Créditos: Adriano dos Santos/Divulgação

E os bancos, instituições de negócios que mais lucram no Brasil que é o berço mundial da agiotagem e especulação financeira, tudo com o aval do governo federal, esperam receber da Busscar R$ 400 milhões, dividido entre 17 bancos que possuem créditos a receber. Já determinado pela Justiça, os bancos são os últimos da lista a receber no caso de venda da Busscar para algum grupo ou leilão do seu parque fabril e outros imóveis. Eles, os bancos, não têm garantia real, são quirografários, ou seja, são os últimos da lista de credores. Bem feito para quem cobra taxas de juros que mais beira a extorsão. Quando se chegar a uma solução definitiva para o caso e aparecer o dinheiro, os funcionários serão os primeiros a receber, depois os credores que tem como lastro a garantia real. Por último, os bancos. Detalhe, como os juros no Brasil correm soltos, sempre em curva ascendente, o risco real dos bancos não receberem nada é enorme, pois não sobrará dinheiro para eles.

A demora em equacionar e dar andamento definitivo ao processo de recuperação judicial ou processo falimentar é um veneno letal para todos os credores, pois quanto mais passa o tempo, mais perde valor de mercado os ativos da Busscar, por conta da depreciação natural, defasagem tecnológica do processo produtivo, falta de competitividade e sucateamento de todo o parque fabril. Se os Nielson (dona Rosita e Cláudio, mãe e filho) conseguissem de alguma forma retomar o controle da empresa, com capital de giro suficiente para sanear dívidas de curto prazo e voltar a fabricar ônibus, poderia, através de uma “jóint-venture” com a Busscar da Colômbia, formalizar acordo de transferência de tecnologia e “know-how” para atualização da sua linha de ônibus no Brasil.

A Carrocerias de Ocidente possui uma empresa que tem a família Nielson como acionista. Se chama Busscar de Colombia S.A. Nela, os Nielson possuem 40% do capital social. É uma empresa saudável do ponto de vista contábil e fabrica entre 900 a 1.100 ônibus por ano. Pois bem, os ônibus fabricados pela empresa colombiana poderiam ser aqui fabricados ou de lá para cá exportados aproveitando o excelente conceito do nome “Busscar” no Brasil, a rede de revenda e assistência técnica ainda existente, e passar a exportar ônibus para o Brasil, se não completo, mas em regime CKD para reencarroçamento sobre chassi aqui.

Produtos com tecnologia de ponta, modernos, confortáveis e design sedutor a empresa tem, como o novo ônibus lançado em 2012, o Busscar Busstar DD (Double Decker), que é uma evolução natural do Busscar Panorâmico Elegance DD fabricado no Brasil entre 2008 a 2012.

Há mais perguntas do que respostas sobre o caso Busscar. O que será dela ninguém consegue prever ao certo.

Ninguém quer a falência definitiva dela. É uma empresa muito querida por todos. Mas como conseguir sua recuperação e a volta ao cenário nacional de ônibus, se analisarmos os seguintes requisitos:

1) A grade de produtos do portfólio da Busscar, cuja última atualização ocorreu no ano de 2008, se comparada ao da concorrência, encontra-se defasada. Sem mais uma equipe de engenharia e de design para a formulação de novos projetos, como lançar novos ônibus para concorrer em todos os segmentos de mercado?

2) Aonde arrumar dinheiro para capital de giro, contratar funcionários ou recontratar os antigos colaboradores e ainda comprar matéria prima para o processo fabril?

3) Se os controladores da Busscar numa possível retomada da atividade fabril fosse a família Nielson, onde eles iriam buscar os recursos necessários, já que possuem restrição de crédito junto aos bancos?

4) No acordo feito entre os credores/fornecedores com a Busscar, os primeiros tiveram de se contentar com um desconto compulsório de 70% a 80%. E o saldo restante do débito, 20% a 30%, receberiam no decorrer de quatro anos. Veja o absurdo. Praticamente a Busscar estava propondo o perdão de toda a dívida junto aos seus fornecedores. E com tamanho débito imobilizado eles sentiriam confiança em voltar a vender para a Busscar? Será que foi considerado no plano de recuperação judicial que junto a dezenas de fornecedores da Busscar, novas vendas de matéria prima somente com pagamento à vista e antecipado?

5) No plano de recuperação judicial, qualquer que tenha sido a previsão de fabricação e vendas de ônibus/ano foi considerado que a concorrência não assistirá de braços cruzados? E que para a luta pela reconquista da fatia de mercado que já teve poderá ter de se defrontar com “dumping” comercial, ou seja, a concorrência poderia baixar preços de tabela, prazos de carência aumentados e melhores condições de CDC, crédito direto ao consumidor? “Uma bala na agulha” que a Busscar, descapitalizada, não teria.

6) No plano de recuperação, tão otimista, foi considerado a hipótese de viés do mercado, com vendas em retração, “dumping”, preços de matéria prima em alta empurrada pelo índice inflacionário, além de juros mais altos?

Créditos: Divulgação

Com todas essas variáveis em jogo, sem sinal concreto de investidores, sem a Justiça conseguir uma solução para o caso, a verdade é que o parque fabril está abandonado, a mercê da ação do tempo, enferrujando máquinas e comprometendo também toda a estrutura dos galpões. Com isso, a depreciação do patrimônio é acelerada e todos perdem. Uma lástima.

Portal Ônibus Paraibanos

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