segunda-feira, 1 de outubro de 2012

FALÊNCIA DA BUSSCAR: Confira o que deve acontecer.

FALÊNCIA DA BUSSCAR: Trabalhadores vão ter prioridade no pagamento. Administrador da massa falida vai levantar os números reais do patrimônio e dos débitos da encarroladora de ônibus que teve falência decretada pela Justiça na última quinta-feira.


Últimos ônibus a serem fabricados pela Busscar. Créditos: Diorgenes Pandini/Agência RBS

A imagem registrada pelo repórter fotográfico Diorgenes Pandini, da Agência RBS, publicada no “Diário Catarinense”, na qual aparecem os últimos três ônibus (dois micros e um urbano) que puderam ser entregues pela Busscar dá uma forma fotográfica às palavras do juiz Maurício Povoas, da Quinta Vara Cível de Justiça de Joinville, que considerou a administração da família Nielson nos últimos anos da Busscar “uma balbúrdia”.

A empresa, que chegou a ser por muitos anos uma das maiores encarroçadoras de ônibus do País, com volume anual de produção de quase 6 mil unidades e com cerca de 5 mil funcionários, após 66 anos de atividades (foi fundada em 17 de setembro de 1946) teve seus principais acessos lacrados.

A Busscar parou. Aquela Busscar, que começou Nielson, acabou. Mesmo havendo possibilidade de ressurgimento e de recursos por parte da família Nielson, a falência foi decretada. Algo que a justiça, trabalhadores e boa parte dos credores tentaram evitar.

De acordo com o dicionário, entre outras definições, “balbúrdia”, termo usado pelo juiz, quer dizer desorganização. E é justamente colocar ordem nas coisas que será a primeira atitude de Rainoldo Uessler, do Instituto do mesmo nome, que foi nomeado administrador responsável pelo processo de falência.


Sua equipe vai levantar e corrigir os débitos a receber credor por credor, desde o funcionário que individualmente tem o menor valor até as instituições financeiras que têm grandes recursos. Estima-se que a dívida da Busscar chegue a R$ 1,3 bilhão. Deste total, R$ 500 milhões em impostos e R$ 800 milhões para bancos, fornecedores, ex sócios (os tios de Cláudio Nielson). Mas Rainoldo quer os números atualizados agora.

Além disso, o administrador judicial da falência quer saber quanto vale de fato a Busscar: galpões, equipamentos, propriedades, plantas, etc. Até isso ser concluído, o que deve demorar, um eventual leilão de interessados pela empresa não pode acontecer. Encarroçadoras de destaque do mercado, como a Caio e a Marcopolo, já sinalizaram participação em eventual leilão. Após a venda dos bens, da empresa e dos patrimônios serão realizados os pagamentos.

PRIORIDADES:
1º LUGAR - A prioridade será dada à classe dos trabalhadores, cuja maioria, com procurações da empresa, também aprovou ao Plano de Recuperação na Assembléia Geral dos Credores realizada na terça-feira dia 25 de setembro. Os trabalhadores que seguiram o entendimento do Sindmecânicos – Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias e Oficinas Mecânicas de Joinville e Região votaram contra o Plano. Os trabalhadores, independentemente se votaram a favor ou não, que têm cada até 15 salários-mínimos para receber serão os primeiros na ordem de pagamento.
2º LUGAR - Paralelamente, os bancos também vão receber com a venda ou devolução dos equipamentos que financiaram. Foi a classe dos Bancos que reprovou o Plano de Recuperação Judicial da Busscar. É dos bancos a maior parte do dinheiro a receber da fábrica de carrocerias.
3º LUGAR - Os valores devidos em forma de impostos sempre foram informados de maneira duvidosa, de acordo com a Justiça. As interpretações e tabelas apresentadas pela Busscar variavam de acordo com o interesse do momento. Após o pagamento de parte dos débitos trabalhistas e dos bancos, será a vez de os poderes públicos receberem de forma corrigida.
4 º LUGAR - Os tios de Cláudio Roberto Nielson e Fábio Luís Nielson, que representam a classe quitográfica e que aprovaram o Plano de Recuperação da Busscar, não serão prioridade na ordem dos pagamentos dos débitos. Será a última classe a receber os pagamentos da massa falida da Busscar.

DINHEIRO INSUFICIENTE:
Esta ordem de pagamento vai respeitar os recursos disponíveis. As dívidas da Busscar superam o patrimônio. Assim, isso será levado em conta no leilão da massa falida, o que vai depreciar o valor da empresa.

EMPRESAS:
Outras empresas do Grupo da Busscar também fazem parte do processo de falência, mas terão tratamentos diferentes umas das outras. A Busscar Ônibus S.A. encarroçadora), Busscar Investimentos e Empreendimentos Ltda, Busscar Comércio Exterior S.A., Lambda Participações e Empreendimentos S.A., Nienpal Empreendimentos e Participações Ltda foram lacradas.

Até a finalização do processo de falência, para o qual cabe recurso, estas empresas não podem realizar nenhum negócio, produção ou venda de ônibus. A Tecnofibras vai ser vendida também. A intenção é vendê-la como empresa saudável para melhor capitalizar a massa e pagar os credores. Mas o desempenho da Tecnofibras, empresa de materiais e peças de fibra de vidro e plástico, vai ser fiscalizado de forma rigorosa pelo administrador Rainoldo Uessler.

A Climabuss vai ser analisada por 30 dias. Após este prazo, será feito um relatório sobre se a empresa é ou não viável para continuar funcionando.

BUSSCAR:
A Busscar disse, em nota, que acata e respeita a decisão da Justiça e fará de tudo para colaborar, mas que estuda formas jurídicas para possíveis recursos.

OPORTUNIDADES:
Quem vê o Plano de Recuperação Judicial como a única oportunidade para a Busscar ter evitado a falência precisa saber que a apresentação do plano foi uma das chances. A crise da Busscar começou em 2008. Segundo a empresa, foi reflexo da crise econômica que restringiu o crédito em todo o mundo. Parte do mercado fala que a empresa ainda estava fragilizada de uma crise anterior, entre 2001 e 2004, atribuída pela companhia às variações na política cambial.

Esta fragilidade seria advinda de erros administrativos e após o agravamento da crise, em 2010, as negociações sempre foram marcadas por dificuldades. A Busscar disse, ao longo do tempo, que sempre esteve disposta a negociar. Mas parte dos credores acusa a família Nielson de ser inflexível.

Empresários de diversos setores, em especial de transportes, mostraram interesse na empresa, mas a diretoria achou que os negócios apresentados não eram bons e não quis abrir a fábrica para outros sócios.
Antes mesmo de o Plano de Recuperação ser iniciado, em 31 de outubro de 2011, o juiz Maurício Povoas foi pressionado para atender às pressões em relação à falência ou intervenção.

Mas o magistrado segurou a pressão e deu oportunidade do plano ter sido apresentado da forma como a empresa achasse melhor. Foram três datas de Assembleia Geral de Credores: 22 de maio, 07 de agosto e em 25 de setembro.

Em todas elas, era indicado que o Plano não receberia aprovação total. Mas nas duas primeiras datas, diante de manifestações, confusões, apresentações de novas propostas, Mauricio Povoas postergava as decisões, abrindo novas oportunidades para a empresa.

Com a classe quitográfica, os entendimentos foram mais fáceis. Os ex sócios, tios dos atuais diretores, entraram em consenso na reta final. Em relação aos trabalhadores, a maioria apoiava a Busscar, mas não era unanimidade. Boa parte das procurações favoráveis era de funcionários da Tecnofibras, com débitos menores e menos descontentes.

A classe Garantia Real, dos bancos e demais instituições financeiras, também se abriu às negociações. E houve conversa. “Mas depois de tantos desencontros de números e propostas, faltou credibilidade” – disse ao Blog Ponto de Ônibus um interlocutor do Santander.

Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes

Blog Ponto de Ônibus

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