segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Petrobrás e Ministério da Pesca fazem acordo para biodiesel de peixe

Matéria-prima é desperdiçada atualmente. Estudos de diversas instituições de ensino revelam que óleo de peixe pode mover ônibus e caminhões.

 Créditos: Guto de Castro/Acervo

Na semana em que o Ministro da Pesca, Marcelo Crivella, e o presidente da Petrobrás Biocombustível, Miguel Rossetto, assinaram um protocolo para ampliar as pesquisas quanto ao uso de resíduos de pescados para a produção de biodiesel para movimentação de ônibus e caminhões, a reportagem do Blog Ponto de Ônibus teve acesso a um estudo que mostra que este tipo de biocombustível é viável para a realidade brasileira e pode ser uma opção ainda aos altos custos de produção atuais deste tipo de combustível mais limpo.

O acordo entre a Petrobrás e o Ministério da Pesca foi assinado dentro do Plano Safra da Pesca e Aquicultura, que entre outras metas, tem o objetivo de estimular a pesca familiar e elevar a produção de pescados no Brasil para cerca de 2 milhões de toneladas anuais até 2014.

Estudo realizado em 2010 com resíduos de tilápia do Nilo, produzida pela indústria Netuno, que fica às margens do Rio São Francisco, no semi-árido da Bahia e Pernambuco, mostra que o óleo obtido desta matéria-prima tem as características exigidas pela ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.

As pesquisas foram coordenadas pelo Instituto de Tecnologia de Pernambuco, Instituto Federal de Educação de Pernambuco, Universidade Federal de Pernambuco e Universidade Federal Rural de PE. De acordo com levantamento, o biodiesel produzido pelos resíduos de peixe pode sim movimentar um ônibus ou caminhão sem nenhuma alteração necessária nos motores ou outro equipamento do veículo.
As características de viscosidade, queima, acidez e densidade (massa específica) são as mesmas que, por exemplo, do biodiesel de soja ou mamona.

Os resultados foram obtidos após o processo de transesterificação que consiste na separação do produto in natura da glicerina presente no óleo. Foi utilizado para a produção catalisador KOH na proporção de um por cento. Para cada 500 ml de óleo de peixe foram adicionados 200 ml de metanol, processo semelhante usado em outras matérias-primas de biodiesel.

GANHOS ECONÔMICOS E SOCIAIS
Ainda segundo o estudo, a utilização de resíduos de peixe para combustível de ônibus, caminhões e motores estacionários ou agrícolas, já traz uma primeira vantagem econômica relevante: diminuir a dependência da soja que hoje contribui para que os custos para a produção de biodiesel ainda sejam altos e não torne os combustíveis mais limpos competitivos frente ao óleo diesel de petróleo.

Apesar de o biodiesel poder ter vários óleos como matéria-prima, sejam óleos vegetais ou de gordura animal residuais, 83% da produção deste combustível menos poluente são a partir da soja, de acordo com o trabalho de pesquisa com bases em dados de 2010 da ANP. Em seguida vem gordura animal (10%), óleo de algodão (3%) e outros materiais graxos, incluindo o óleo de mamona.

As regiões que não produzem soja ficam dependentes dos poucos estados onde o cultivo é intenso: Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e São Paulo. Apesar de o óleo de mamona ser escolhido como matéria-prima que pode trazer vantagens a estados do Norte e Nordeste pelo PNPB – Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, atualmente ele não tem despertado interesse do produtor para este fim.
Isso porque, o óleo de mamona tem alto valor no mercado internacional. Com base em preços de 2010, de acordo com o levantamento, cuja trajetória pouco se alterou até 2012, no mercado internacional, o litro do óleo de mamona está cotado a R$ 3,80. Para fazer biodiesel, o produtor receberia R$ 2,00 o litro, conforme dados do MNE – Ministério de Minas e Energia.

O óleo de mamona pode ter diversos usos industriais, como para cosméticos, lubrificantes, polímeros e até para a fabricação de próteses. A diferença ente a mamona e a soja e o peixe está justamente neste aspecto econômico. Enquanto os produtos vegetais precisam ser cultivados especificamente para um uso, ninguém vai pescar para mover ônibus e caminhões. O fim da produção continua sendo o mesmo. O que ocorre é que uma parte do peixe que seria desperdiçada, agora tem um aproveitamento, aumento o valor agregado do animal.

Quanto aos ganhos sociais, a vantagem está em incluir nas pesquisas e produção de diesel produtores de regiões carentes e que pouco eram contempladas para geração de energia. Exemplo é o próprio estudo que se refere ao semi-árido cuja população e os municípios podem ter mais uma fonte de renda. O estudo é assinado pelos técnicos e professores: Givaldo Oliveira Melo, Ana Rita F Drummond, Francisco Sávio G. Pereira, José Anacleto Melo, Rodrigo Alencar, Danielli Matias M. Dantas, Alfredo O. Gálvez.

Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes

Blog Ônibus Brasil

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