terça-feira, 10 de junho de 2014

BRT - Estações de vidro: frágeis e quentes

Créditos: CBN/Divulgação

O acidente com o motociclista Marcelo Marcelino da Silva, 43 anos, que morreu no último sábado ao ser atingido por um vidro da estação de BRT da Avenida Conde da Boa Vista, levantou a discussão não apenas sobre a segurança - o caso foi tipificado como homicídio culposo e será investigado pela Delegacia da Boa Vista -, mas também a respeito da escolha do vidro como material para revestir estações em um clima quente como o de Pernambuco.


Em algumas capitais brasileiras que também optaram pelo sistema BRT, o vidro é usado, mas não como material principal de revestimento das paredes laterais das estações, como ocorre nos corredores da Região Metropolitana do Recife.


Nossa equipe visitou ontem a estação do Derby, às 11h, e constatou que já fazia calor, mesmo com a ar-condicionado ligado. O motivo é o chamado efeito estufa, que mantém o calor na parte interna de estruturas de vidro. Segundo um funcionário da MobiBrasil, Gláucio França, a empresa solicitará ao Grande Recife Consórcio de Transporte Urbano o revestimento dos vidros e a implantação de cortinas de vento nas portas.


Em Belo Horizonte, as estações são feitas em alumínio e portas de vidro, assim como as estações do Rio de Janeiro. Em Bogotá, mesmo com o clima frio, o principal material utilizado é o alumínio vazado. O vidro nas portas serve para facilitar a visualização da chegada do ônibus. Em Curitiba, as estações “tubo” utilizam plástico transparente.


O modelo adotado na RMR, já trazia preocupação quanto a vulnerabilidade para o vandalismo e em relação à temperatura. “Esse é um projeto de 2010, que já previa vidro e ar-condicionado para dar mais conforto ao usuário”, disse o presidente do Grande Recife, Nélson Menezes. “O governo optou por oferecer estações com nível mais elevado. O desafio será manter esse padrão funcionando bem”, afirmou o secretário das Cidades, Evandro Avelar.


A presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil em Pernambuco (IAB-PE), Vitória Andrade, chama atenção para a falta de sincronismo dos projetos com o ambiente urbano. “Os urbanistas e arquitetos precisam ocupar o espaço nas decisões urbanas. A gente assiste a projetos de engenharia desvinculados da cidade. Qualquer pessoa leiga sabe que nossas condições climáticas não são adequadas para esse modelo”, criticou.


“Os projetos que impactam a cidade não podem ser implantados de cima para baixo. É preciso uma discussão com a sociedade”, ressaltou o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo, Roberto Montezuma.

Diário de Pernambuco

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