segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Primeiro leilão da Busscar rende abaixo das expectativas

Depois de muita luta na Justiça para a garantia do pagamento de parte dos direitos trabalhistas dos funcionários da encarroçadora Busscar, em Joinville, um sinal de vitória. Nesta quarta-feira, dia 31 de agosto foi realizado o primeiro leilão de bens da Companhia, depois de esforços do Sindicato dos Mecânicos de Joinville e do Ministério Público.

No entanto, a decepção.

Estavam para ser vendidos vários bens imóveis: quatro garagens e uma sala comercial, no bairro Estreito.

A previsão era de arrecadar no mínimo R$ 1,58 milhão. Mas o leilão não teve praticamente interessados e só resultou na venda de duas vagas de estacionamento, totalizando R$ 21 mil ambas. Pouco mais da metade do preço que valiam, já que cada vaga estava prevista para ser leiloada por R$ 20 mil.

Apesar de todas as garantias judiciais em torno dos imóveis, a situação da Busscar assombra investidores que temem arrematar seus bens pelo histórico da empresa nos dois momentos de grande crise que enfrentou, em 2002/2003 e a recente a partir de 2008. Salários sem serem pagãos desde abril de 2010 e direitos como metade do décimo terceiro salário de 2009 e o integral de 2010 sem depósito, além de calotes em bancos, fornecedores e compradores têm tirado a credibilidade da empresa. Fora isso, neste caso específico, há a questão da especulação imobiliária.


Outros imóveis da Busscar devem ser comercializados, mas não por leilão, e sim por venda direta.

São outras duas garagens, que valem em torno de R$ 20 mil cada, e um mezanino, de 865 metros quadrados, avaliado em R$ 1,5 milhão. As vendas estão sendo negociadas pela Centro Sul Imóveis que assim que receber a proposta formal dos interessados vai encaminhar à 6ª Vara da Justiça do Trabalho de Florianópolis que cuida destes imóveis para a garantia de pagamentos.
Já o dinheiro obtido pelo leilão é depositado numa conta da Quarta Vara do Trabalho de Joinville. Nesta conta também são depositados os valores obtidos por aluguéis de imóveis do grupo da Busscar e serão usados para pagamento de salários atrasados e acordos trabalhistas.
NOVOS LEILÕES
Já nesta próxima semana devem ser marcados os próximos leilões destes imóveis que não foram arrematados, embora haja um interessado em venda direta, e de outros bens bloqueados pela Justiça a pedido do Sindicato dos Mecânicos de Joinville, que representa a maior parte dos mais de 3 mil trabalhadores da Busscar.

Segundo o Sindicato, boa parte dos funcionários, mesmo buscando outras ocupações no mercado, ainda enfrenta dificuldades financeiras. Alguns são submetidos a fazer “bicos” e trabalhar sem registro em outros lugares, já que nem todas as empresas assinam carteira por causa das pendências da Busscar com estes trabalhadores. As empresas que assinam carteira, deixam em aberto as questões de direitos de responsabilidade da encarroçadora. Os profissionais de chefia de produção, de qualidade e criação de design, soluções e modelos foram absorvidos, em sua maioria, por concorrentes, em especial, Mascarello, Caio e Marcopolo.

OS VENTOS NÃO ESTÃO TÃO BONS


Engana-se quem pensa que a situação da linha da produção da Busscar tenha melhorado de maneira significativa nos últimos meses. Os trabalhos não são diários. O Sindicato não sabe precisar um número exato, mas estima que entre 100 e 200 trabalhadores são chamados esporadicamente para atenderem a um ou outro pedido atrasado.

A linha de produção não parou completamente, como chegou a ocorrer no início do ano, por alguns acordos de necessidade de pagamento com bancos e entregas prometidas há tempos para alguns clientes.

Mesmo assim, estes funcionários não estariam recebendo legalmente. Por fora, eles ganham por volta de R$ 80,00 por dia trabalhado, sem nenhuma espécie de registro, o que deve ser investigado e comprovado

A atual crise da Busscar começou em 2008, quando todo o sistema financeiro mundial enfrentou dificuldades de créditos pela administração de financiamentos imobiliários de alto risco destinados às classes mais baixas que tiveram grande índice de inadimplência. A gota d´água para a crise financeira mundial foi o fechamento do banco de investimentos Lehman Brothers, um dos mais tradicionais dos Estados Unidos.


Em pânico, o mercado financeiro em todo o mundo restringiu as linhas de crédito. A Busscar alegou que tinha a sua disposição R$ 140 milhões de financiamentos privados, que foram cortados para R$ 75 milhões. A empresa alega que todos os seus planos para compra de materiais e desenvolvimento de novos modelos estavam baseados nestes investimentos. A Busscar chegou a afirmar que conseguiu carência de 2 meses para renegociar toda a sua dívida, na época, e de mais 4 meses sobre 50% do devido.
No entanto, esta crise de 2008 é considerada um desdobramento da crise de 2002 e 2003, quando a empresa também esteve prestes a fechar às portas. Na época, a Busscar atribuiu sua situação financeira precária ao câmbio valorizado, que prejudicou as exportações em contratos internacionais de alto valor. Diferentemente de hoje, a Busscar conseguiu ajuda do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – e financiamentos de outras instituições particulares. A análise de mercado é que pelo não aproveitamento da ajuda de 2002/2003, a Busscar continuou fragilizada e não administrando adequadamente seus recursos, acabou dependendo apenas de novos financiamentos que, quando cortados por conta da crise global, abalaram a empresa.
Passada a crise mundial, a Busscar ficou estagnada e numa situação ainda incerta para os trabalhadores, apesar dos avanços. A empresa hoje perde o melhor momento da indústria de ônibus da história do Brasil. Segundo a Fabus, a Associação Nacional das Fabricantes de ônibus, que reúne as principais encarroçadoras do país, só neste primeiro semestre foram produzidas 15 mil 847 carrocerias de ônibus e a expectativa é de que neste ano sejam totalizados 32 mil veículos.
Estimativas dão conta que pelo acumulado de salários que ainda não foram pagos no decorrer dos meses e de juros, a dívida da empresa que era de pouco mais de R$ 600 milhões, já tenha ultrapassado R$ 800 milhões.
 
Adamo Bazani/Ônibus Brasil

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