sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Enquanto ônibus escolares vem irregularmente ao Recife, estudantes são conduzidos por motoristas sem habilitação

Créditos: Globo Nordeste/Divulgação

Enquanto muitas cidades do interior usam ônibus escolares para transportar pacientes para hospitais do 
Recife, estudantes passam sufoco para chegar às salas de aula. Jovens que moram nas zonas rurais, onde os coletivos não chegam, são os que mais sofrem, dividindo espaço com 'caroneiros' em carrocerias de caminhonetes sem os requisitos necessários à segurança. Há motorista trabalhando, inclusive, sem habilitação. Esse é o assunto da segunda reportagem da série que está denunciando o uso indevido de um serviço que deveria ser exclusivo para alunos, exibida nesta quarta-feira (23), no NETV 2ª Edição.

Pelo programa Caminho da Escola, as prefeituras podem adquirir ônibus escolares com dinheiro próprio, com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), situação na qual não precisa desembolsar nada. Pernambuco já recebeu 1.670 ônibus escolares, sendo 1.561 pelo FNDE. Eles custaram ao governo quase R$ 300 milhões. Cento e um foram comprados com recursos das prefeituras e oito pelo BNDES.

O ônibus escolar é amarelo, identificado como a lei manda. No Brasil, há quase 26 mil deles levando crianças e adolescentes para as salas de aula. Aliás, nem sempre transportando crianças e adolescentes, como foi mostrado na primeira reportagem da série.

São Joaquim do Monte, município com 21 mil habitantes, no Agreste de Pernambuco, tem oito ônibus como esse, de acordo com o Ministério da Educação. Todos eles adquiridos pelo programa Caminho da Escola, criado para garantir a segurança e a qualidade no transporte de estudantes, além de evitar a evasão escolar.

Esses veículos devem transportar exclusivamente alunos matriculados na rede pública, entre a casa e o colégio. Em casos de atividades culturais ou esportivas, eles até podem fazer o transporte, desde que dentro do município, e autorizados pelo diretor do colégio. Se for fora, pelo prefeito ou o secretário de Educação, e com a relação dos passageiros por escrito.
No entanto, a reportagem flagrou ônibus escolar de São Joaquim do Monte transportando pacientes para os hospitais do Recife. O prefeito do município, João Tenório Júnior, foi questionado sobre a irregularidade. “[O ônibus] Vai uma vez por semana [ao Recife] durante o dia. À noite ele transporta os estudantes, que a demanda maior, na verdade, é durante a noite. Nós temos outro ônibus que não é o do Caminho da Escola, que transporta pacientes para o Recife. Só que houve um acidente com esse ônibus, e o município, nas condições precárias que nos encontramos, não temos condições de locar carro diariamente para levar em torno de 20, 25 pacientes para Recife. Acho que durante sete a 15 dias a gente mandou esse ônibus da escola para atender essa demanda da saúde, que para gente também é prioridade”, explicou.
Trajeto com sacrifício
No mesmo município que socorre os pacientes com ônibus escolares, os jovens enfrentam o trajeto até a escola com sacrifício. A reportagem acompanhou uma viagem de 9 quilômetros por uma estrada de terra, na qual crianças sacolejaram na carroceria da caminhonete por quase meia hora. E o veículo ainda dava carona a pessoas que não eram estudantes, como a agricultora Edite Quitéria da Silva. “É um caso de emergência. Eu vou para o hospital. Esperei o carro de manhã, mas não deu para ir. Peguei o carro dos estudantes para ir ao hospital marcar um raio-X e pegar medicamento e injeção”, disse.

A agricultora Adalva Joaquim Batista também estava no veículo e afirmou que já pegou carona outras vezes, inclusive ao Recife. “Eu fui com meu neto. Ele estava com um probleminha no olho e eu fui para lá umas quatro vezes”, contou.  Os jovens não se incomodam de compartilhar a viagem com os vizinhos, mas não se sentem felizes. “As bancas são muito duras. Eu preferia um ônibus”, comentou a estudante Cristiane Maria da Silva.
Os passageiros são transportados sem cinto de segurança. Os alunos reclamam que se machucam com frequência. “Eu queria um ônibus, porque tem mais conforto. Eu já me machuquei. Estava sentada, e o carro deu uma freada, ai entrou um pedacinho de madeira na minha perna”, lembrou Jade Silva Lima, 10 anos. A reportagem entrevistou o motorista José do Lima Filho, que não tem habilitação. “Nunca teve problema. [O percurso] É do sítio para aqui só”, minimizou.
O prefeito disse que contratou, por meio de licitação, uma empresa para cuidar do transporte de alunos da Zona Rural, aonde os ônibus não chegam. Essa empresa estaria usando quatro caminhonetes e 40 vans. Ela é remunerada por quilômetro rodado. “Nós fiscalizamos [o serviço], mas estou tomando conhecimento agora e tomaremos as medidas cabíveis para isso não acontecer mais”, afirmou.

G1 PE

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